TNG 1×21: Symbiosis

Discussão sobre vício, dependência e exploração se perde pelo excesso de didatismo

Sinopse

Data estelar: Desconhecida

Durante um estudo sobre as mudanças magnéticas sofridas pelo sol do sistema Delos, a Enterprise recebe um pedido de socorro de um cargueiro danificado. Quatro passageiros são resgatados, junto com a carga da nave, mas o cargueiro em si não pôde ser salvo. Dois são do planeta Ornara, tecnologicamente avançado, e os outros dois, de Brekka.

Os alienígenas contam a Picard que a preciosa carga na verdade é um medicamento para uma praga. A “cura” é manufaturada exclusivamente em Brekka, que é fornecida aos ornarianos – por um preço. E aparentemente eles ainda não pagaram por este carregamento.

Apontando que sua civilização será destruída sem o medicamento, os ornarianos convencem Picard a mediar a disputa. Em paralelo, a dra. Crusher descobre que a suposta cura nada mais é que um narcótico, e que os ornarianos sofrem na verdade de síndrome de abstinência causada pelo vício de consumir a droga.

Os brekkianos sabem disso, mas optaram por manter a dependência dos ornarianos da droga. Picard, citando a Primeira Diretriz, se recusa a revelar o embuste. Mas também desiste de efetuar reparos na única nave cargueira ornariana em operação no sistema. Deste modo, os ornarianos serão incapazes de honrar o acordo de comércio e poderão escapar de seu vício.

Comentários

“Symbiosis” parte de uma premissa interessante. Como o próprio nome diz, o episódio faz uma analogia entre as relações que existem entre organismos biológicos dependentes entre si e as duas civilizações do sistema Delos, Ornara e Brekka. Infelizmente, durante o processo de execução da premissa, deixou a sutileza a ver navios, optando por um tom excessivamente doutrinário.

Durante a primeira temporada de A Nova Geração, a necessidade de afirmar que Star Trek trata de assuntos importantes e contemporâneos parece ter sido entendida como a obrigação de incluir discursos óbvios e moralistas nas falas dos personagens, só para “esclarecer” aos telespectadores qual é o tema do episódio.

O maior exemplo desse tipo de atitude em toda a série se faz sentir aqui, em um diálogo travado entre Wesley Crusher e Tasha Yar na ponte da Enterprise, com um discurso artificial e estereotipado de propaganda de combate às drogas.

Não fosse por esse tom excessivamente pregador, “Symbiosis” teria tudo para ser um estudo ético e profundo da “simbiose” entre aquelas duas civilizações. Valores humanos à parte, temos de admitir que aquela sociedade dupla funcionava de forma harmoniosa. Por mais que achemos errado que um povo viva às custas de outro graças a um vício induzido, a verdade é que aquele modelo tinha um ponto de equilíbrio. E encontrar um novo estado estável para ele não seria simples ou rápido.

Com a solução adotada por Picard, o ciclo de exploração será eventualmente cortado, mas de forma menos traumática. Será difícil, mas o balanço final para os dois povos acabará sendo melhor que o de uma estratégia de ruptura, como a sugerida pela doutora Beverly Crusher.

Aliás, Beverly Crusher foi a grande ganhadora do episódio, conforme tomamos conhecimento do profundo senso moral e ético e da incansável determinação da doutora. Exceto por ela e por Picard, os demais personagens passam em brancas nuvens.

Havia um bom episódio em algum lugar em “Symbiosis”, mas ele acabou escapando por entre os dedos dos roteiristas, na difícil calibragem entre narrativa e conteúdo. Dias melhores viriam.

Avaliação

Citações

 “Where will it take us, mr. La Forge?”
 “The Opraline system.”
“An interesting choice. Why?”
“Curiosity, I’ve never been there.”
(Onde irá nos levar, sr. La Forge?)
(Ao sistema Opraline.)
(Uma escolha interessante. Por quê?)
(Curiosidade, nunca estive lá antes.)
Riker e La Forge 

Trivia

  • Merritt Butrick, que interpretou o filho de Kirk, David Marcus, nos filmes Jornada nas Estrelas II e III, participou deste episódio como o personagem T’Jon. Na ocasião, o ator já apresentava alguns sintomas da Aids, doença que o mataria no ano seguinte, em março de 1989.
  • Judson Scott também aparece em Jornada II como Joaquim, um dos membros do grupo de Khan.
  • Como este episódio foi filmado depois de “Skin of Evil” (mas foi ao ar antes), a verdadeira última cena de Denise Crosby (Tasha Yar) como atriz do elenco regular da série acontece aqui, na área de carga da Enterprise. Ao final do episódio pode-se ver Tasha fazendo um sinal de adeus enquanto as portas do corredor se fecham por trás de Picard e Beverly Crusher.
  • Fazer efeitos visuais analógicos não era moleza. Neste episódio, o efeito do campo de força flutuante ao redor da Enterprise nas proximidades da estrela foi criado com o derrubar de sal sobre uma bola de boliche. A imagem produzida foi então achatada durante a composição digital e virada de cabeça para baixo a fim de gerar o efeito.
  • “Beverly, a Primeira Diretriz não é só um conjunto de regras; é uma filosofia e é muito correta. A história provou de novo e de novo que sempre que a humanidade interfere com uma civilização menos desenvolvida, não importa quão bem intencionada a interferência seja, os resultados são invariavelmente desastrosos.” – Picard

Ficha Técnica

História de Robert Lewin
Roteiro de Robert Lewin e Richard Manning & Hans Beimler
Dirigido por Win Phelps

Exibido em 18 de abril de 1988

Título em português: “Simbiose”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William T. Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Gates McFadden como Beverly Crusher
Marina Sirtis como Deanna Troi
Wil Wheaton como Wesley Crusher
Denise Crosby como Natasha “Tasha” Yar

Elenco convidado

Judson Scott como Sobi
Merritt Butrick como T’Jon
Richard Lineback como Romas
Kimberly Farr como Langor

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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