TOS 1×27: The Alternative Factor

Como criar um episódio ruim “for dummies

Sinopse

Data estelar: 3087.6

Enquanto executa leituras em órbita de um planeta supostamente desabitado, a Enterprise é afetada por um fenômeno desconhecido, que Spock descreve como uma “piscadela no tecido da existência”. Em seguida, a Frota Estelar emite um alerta geral e, quase ao mesmo tempo, Spock passa a receber leituras de sinais de vida, vindas da superfície antes deserta. Kirk forma um grupo de descida e vai ao planeta em busca da origem do sinal de vida encontrado por Spock.

Uma vez na superfície, eles encontram o que parece ser um tipo de veículo de finalidade ignorada. Pouco depois, um homem aparece, aparentemente em delírio, dizendo que precisava de ajuda, mas, antes que pudesse dizer para que, cai do alto da elevação onde se encontrava.

De volta à nave, Kirk é informado que o fenômeno afetou também o funcionamento dos cristais de dilítio, necessários para manter a nave em órbita. Spock não tem, ainda, nenhuma explicação sobre a causa do fenômeno, apenas que o planeta o qual estão orbitando foi seu ponto de origem.

A Enterprise é informada que o comando da Frota Estelar acredita que o fenômeno possa ser o prenúncio de uma invasão e ordena a Kirk que descubra sua causa, uma vez que os maiores efeitos foram sentidos justamente na área sob patrulha da Enterprise.

Kirk ordena a Spock que continue a investigação, enquanto ele vai conversar com o homem trazido do planeta. Este diz que se chama Lazarus e que está caçando algum tipo de criatura alienígena perigosa, que teria aniquilado sua civilização. Ele, então, exige a ajuda de Kirk, que se nega e decide voltar ao planeta junto com Lazarus para investigar a sua história.

Na superfície do planeta, Kirk encontra Spock, que está, entre outras coisas, examinando o veículo de Lazarus, e que reafirma não haver mais ninguém no local. Ocorre, então, um novo fenômeno e Lazarus sai correndo e gritando do local, tendo Kirk em seu encalço. Com o fim do fenômeno, Kirk encontra Lazarus, que diz mais uma vez ter sido atacado e que aparenta estar fora de si.

Eles retornam à nave, levando Lazarus, que se feriu na superfície, à enfermaria para tratamento. Dentre suas lesões, há um ferimento na testa que McCoy cobre com uma atadura. Lazarus, agora mais calmo, volta a conversar com Kirk e pedir sua ajuda, que ainda permanece reticente. Ao examinar de novo o paciente, McCoy não encontra mais o ferimento na testa, o qual havia tratado e coberto. Ele diz a isso ao capitão, mas, quando encontram Lazarus novamente, o machucado havia voltado à testa dele, deixando o doutor sem ação e Kirk ainda mais irritado com o que julgou ser algum tipo de piada de seu médico.

Spock relata ter encontrado uma fonte de radiação no solo de origem não explicável, uma espécie de dobra física ou fenda, que, somente com o uso dos cristais de dilítio da nave, foi possível localizar. Lazarus pede os cristais a Kirk, pois diz que esta é a chave para encontrar e destruir seu oponente, mas o capitão mais uma vez nega a ajuda.

Após deixar a ponte, o fenômeno acontece novamente, afetando Lazarus de alguma forma. Esle ruma, então, para a engenharia, onde ataca a tripulação. Após esse ataque, dois cristais desaparecem. Lazarus é interrogado como suspeito, mas ele nega, acusando o seu “inimigo” de cometer o roubo. Kirk decide voltar de novo ao planeta, levando consigo Lazarus, por julgar haver alguma conexão do súbito aparecimento da fonte de radiação na superfície do planeta e o roubo dos cristais.

Um novo exame do veículo de Lazarus não mostra sinais dos cristais desaparecidos, mas Kirk está convencido de que existe alguma pista no planeta e ordena outra busca. Uma nova manifestação do fenômeno ocorre e, logo após, Lazarus reaparece e salva Kirk de ser atingido por uma rocha que caiu de uma elevação, caindo desta logo em seguida.

De volta à enfermaria da Enterprise, Kirk diz que o planeta de onde Lazarus havia dito ter vindo jamais existiu e exige a verdade de Lazarus. Ele diz que seu planeta natal é o mesmo em volta do qual a Enterprise está orbitando e que foi destruído há muito tempo. Diz, ainda, que sua nave é uma cápsula temporal e que ele é um viajante do tempo, procurando por seu inimigo através das eras. Lazarus tem um novo surto e desmaia, sendo deixado na enfermaria.

De volta às suposições, Kirk e Spock começam a especular sobre uma suposta existência de um universo paralelo, de matéria negativa. Isso implicaria a existência de dois Lazarus, um de cada universo, que estariam transitando por uma porta entre os dois universos, que estaria relacionada à fonte de energia do planeta. O inimigo é, na verdade, uma espécie de “anti-Lazarus”, seu gêmeo de tal universo.

A engenharia é atacada por Lazarus, que se aproveita da confusão para roubar mais cristais e descer com estes ao planeta. Kirk o segue e, usando o veiculo na superfície, chega ao universo paralelo, onde encontra um Lazarus calmo e sereno. Este explica que a única motivação do “outro” Lazarus é destruí-lo, pois enlouqueceu ao saber que tinha um duplo negativo. Essa obsessão, se concretizada, levará à destruição de ambos os universos.

O Lazarus “negativo” afirma que pretende impedir o que o Lazarus “positivo” cause tal destruição, prendendo-o em uma espécie de corredor entre os dois universos. Kirk retorna ao seu próprio universo e força o Lazarus “positivo” para o corredor, onde seu negativo o espera. Kirk e Spock retornam à Enterprise com os cristais roubados. Uma vez a bordo, ele ordena a destruição do veículo na superfície, enclausurando ambos os “Lazarus” no “corredor”, segundo Kirk, por toda a eternidade, porém mantendo os dois universos a salvo.

Comentários

O processo de escrever uma crítica sobre um episódio de TV é relativamente simples. Tentamos encontrar o que ele tem de bom, assim como o que tem de ruim, levando em conta os diversos itens que são necessários para criar um segmento de, mais ou menos, 50 minutos e, no final, tentamos concluir se o resultado foi positivo ou não — claro, com um ou outro tempero no caminho.

Posto isso, fazer uma crítica a “The Alternartive Factor” é um enorme desafio de inspiração, uma vez que este pode ser considerado o primeiro “antiepisódio” da franquia Jornada nas Estrelas, sendo até difícil classificá-lo como bom ou ruim, dada sua constante esquizofrenia. Embora esse tipo de classificação seja sempre subjetiva, pois o que é bom para um pode não ser para o outro, boa parte dos problemas de sua análise é que ele é quase que incompreensível na maior parte do tempo.

A começar pela história e seu estranho conceito de um universo alternativo de antimatéria. O conceito de antimatéria proposto pelo físico inglês Paulo Dirac — de antipartículas que possuem a mesma característica das partículas, mas com carga elétrica contrária, cujo encontro e explosão poderia ter sido a origem do Big Bang — parece mesmo interessante e pertinente ao cenário de uma série sci-fi. Infelizmente, porém, o roteiro não conseguiu transformar esse conceito em uma história que fizesse algum sentido, pelo menos enquanto entretenimento. As explicações soam falsas na boca dos personagens e não conseguem, em momento algum, passar o sentimento de gravidade e urgência a que o texto se propõe.

Definitivamente a technobabble, que se tornaria tão comum nas edições seguintes de Jornada nas Estrelas, nunca casou muito bem com a Série Clássica e isso fica muito evidente aqui, onde as falas de Kirk e Spock parecem saídas de um fan film feito por adolescentes. Passamos todo o seguimento confusos e sem entender por que somente o encontro do Lazarus com o “anti-Lazarus” pode causar a destruição do universo — e por que não o simples encontro de qualquer elemento desses dois universos paralelos, uma vez que esse conceito está baseado em física de partículas, tais como pósitrons e antiprótons. A ideia de que os dois Lazarus precisam se encontrar é estranha até para quem não se preocupa muito com a veracidade dos conceitos da física.

Pensando ainda em algo mais elementar a um roteiro de TV, temos as não explicadas e confusas trocas dos Lazarus entre os universos e sem nenhuma lógica aparente — e que não fazem sentido algum –, condenando ao fracasso qualquer possibilidade de fluidez da história. É interessante notar como alguns dos termos utilizados aqui voltariam a ser usados em outras edições da franquia — como matéria e antimatéria, universos paralelos, fendas subespaciais, viagens temporais –, o que, infelizmente, nem sempre é bem-vindo e este segmento é um exemplo didático disso.

Com frequência, encontramos problemas que parecem meio simplistas ou ingênuos demais em Jornada, mas, aqui, parece que tentaram escrever o manual do que não se deve fazer. As comunicações com a Frota Estelar — que nunca são on-line devido à distância da nave de sua base — desta vez funcionam em tempo real, caso contrário, como saberíamos que o problema encontrado pela Enterprise pode dar fim a todo o universo?

As constantes alternâncias de humor de Lazarus (“A” e “B”) são confusas, nunca deixando claro qual deles está na Enterprise e qual não está. Na verdade, a mudança de comportamento de ambos é por demais superficial e, somente ao final, é que essas personalidades distintas são definidas. Isso não seria um problema, se grande parte das suspeitas de Kirk e Spock não se baseassem justamente nessas mudanças de comportamento de seu convidado.

Kirk, antes de saber com o que estava lidando, desce ao planeta com Spock e mais quatro seguranças armados, mas, depois, deixa Lazarus andando livremente pela nave, mesmo quando este o ameaça na ponte da nave e afirma que conseguirá sua vingança. Mesmo com a Enterprise em alerta vermelho e postos de combate, Lazarus, que acabou de chegar, consegue andar livremente por ali, localizar o local onde ficam os cristais, dominar o segurança e a engenheira e deixar a nave.

Muita suspensão de descrença é necessária até esse ponto, principalmente levando em conta a tendência de Lazarus de despencar de penhascos toda hora (o personagem deve ter servido de inspiração para o coiote do Papa-Léguas), algo que não é um bom atestado de sentido de orientação. Aliás, essa questão mostra uma montagem descuidada ou, no mínimo, pouco inspirada. Muitas cenas se repetem sem muita explicação, ferimentos que vão e vêm sem que haja um compromisso com a continuidade.

Falha-me a compreensão de por que ambos os Lazarus terem naves idênticas. Depois de “Mirror Mirror”, podemos deixar passar esse detalhe, mas, se os tais veículos eram responsáveis por abrir o tal corredor entre os dois universos, destruir ao menos um deles não impediria, ao menos temporariamente, o problema? E Lazarus não poderia ser levado a alguma colônia de reabilitação? Outro mistério do episódio é: por que os seguranças da Enterprise tem que ficar assistindo Kirk tentar empurrar Lazarus de volta de forma patética?

Dada a qualidade (?) do material, não se pode cobrar muito do elenco principal nem do convidado, embora Shatner pudesse evitar algumas caras e bocas um tanto quanto constrangedoras. Robert Brown faz o que pode, ainda mais levando em consideração o fato de ter sido escalado na véspera da gravação, em função da desistência em cima da hora de John Drew Barrymore, que havia sido originalmente contratado para fazer o papel.

Na soma de todos os erros, o que fica de positivo? Primeiro, a cena final dos dois Lazarus lutando por toda eternidade tem certa poesia dramática; e, segundo, aparição de mais uma tripulante negra, Charlene Masters (Janet MacLachlan) na tripulação. Infelizmente, até isso foi comprometido, uma vez que, no roteiro original, a personagem (que apesar de trabalhar na engenharia aparece de uniforme azul) teria destaque maior na trama, mas isso acabou sendo retirado do roteiro final. Mas nem o final poético ou a presença de Charlene (apesar de relevante para a época) são capazes de redimir um episódio confuso do início ao fim e que, de legado, deixaria apenas a technobabble.

Avaliação

Citações

 “I want facts, not poetry.”
(Eu quero fatos, não poesia)
Kirk

“I fail to comprehend your indignation, sir. I’ve simply made the logical deduction that you are a liar.”
(Não entendo sua indignação, senhor. Eu simplesmente fiz a dedução lógica que você é um mentiroso.)
Spock

“That’s hard to explain, Captain. I call it an alternative warp.”
(Isso é difícil de explicar, capitão. Eu chamo de dobra alternativa.)
Lazarus

“Sometimes pain can drive a man harder than pleasure.”
(Algumas vezes a dor pode guiar um homem mais duramente que o prazer.)
Kirk

“Madness has no purpose. Or reason. But it may have a goal.”
(A loucura não tem propósito. Ou razão. Mas pode ter um objetivo.)
Spock

“Possible existence of a parallel universe has been scientifically conceded.”
(A possível existência de um universo paralelo foi cientificamente admitida.)
Spock

“But you’ll be trapped as well, forever, at each others’ throat, forever through time.”
“Is it such a large price to pay for the safety of two universes.”
(Mas você vai ficar preso também, para sempre, um na garganta do outro, para sempre através do tempo.)
(É um preço tão grande para pagar pela segurança de dois universos.)
Kirk e Lazarus

Trivia

  •  Na versão original do roteiro, a tenente Masters se tornaria interesse amoroso de um dos Lazarus, mas a ideia foi deixada de lado, uma vez que tornaria o argumento muito similar ao de Space Seed“.
  •  O ator John Drew Barrymore iria viver Lazarus, até existindo material publicitário da época divulgando tal fato, mas ficou impossibilitado na última hora.
  • O efeito de Lazarus entrando no corredor dimensional foi conseguido por um formato rotatório abstrato e duplamente exposto sobre uma imagem celeste combinada com a imagem de dois dublês lutando ao fundo. A sala em que se deu a luta (o “corredor na vida real”) era pequena e tinha paredes laranjas e vermelhas e um chão coberto de fumaça para esconder o colchão colocado como uma precaução de segurança para os dois.

Ficha Técnica

Escrito por Don Ingalls
Dirigido por Gerd Oswald

Exibido em 30 de março de 1967

Título em português: “O Fator Alternativo” (AIC-SP), “O Fator Alternativo” (VTI-Rio)

Elenco

William Shatner como James Tiberius Kirk
Leonard Nimoy 
como Spock
DeForest Kelley 
como Leonard H. McCoy
Nichelle Nichols como Uhura

 

Elenco convidado

Robert Brown como Lazarus A e B
Janet MacLachien como tenente Charlene Masters
Richard Derr como comodoro Barstow

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Edição de Carlos H B Santos e Maria Lucia Racz
Revisão de Nívea Doria

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