VOY 2×16: Meld

Chega a hora de o oficial de segurança conhecer de verdade o que é violência

Sinopse

Data estelar: desconhecida

O corpo de um tripulante chamado Darwin é encontrado na engenharia – supostamente uma morte causada por um acidente de trabalho. Quando o Doutor examina o cadáver, descobre que trata-se de um assassinato. Tuvok inicia uma investigação.

Uma checagem dos registros da engenharia coloca um maquis, o betazoide Lon Suder, na cena do crime. De início, o tripulante nega qualquer envolvimento, mas quando traços de seu DNA são encontrados ligando-o ao crime, Suder confessa, dizendo a Tuvok que o matou por não ter gostado do modo como Darwin teria olhado para ele.

Recusando-se a aceitar um motivo tão insignificante para um crime tão sério, Tuvok interroga Suder intensivamente. Para a decepção do vulcano, Suder é incapaz de explicar suas explosões de violência. Para esclarecer, Tuvok decide realizar um elo mental com o assassino. Ele espera com isso entender as motivações de Suder e ajudá-lo, com sua disciplina mental, a controlar sua natureza violenta.

Tuvok informa Janeway de seu elo mental com Suder, e os dois discutem opções de punição. Tuvok admite que embora o assassino pareça agora mais calmo do que antes, o vulcano está mais perturbado que o habitual. Depois, em um encontro com um brincalhão Neelix, Tuvok se enraivece de forma tão intensa que ele estrangula o talaxiano. Felizmente, era apenas uma simulação do holodeck criada por Tuvok para testar seu controle emocional.

Tuvok volta a se encontrar com Suder, que irrita o vulcano com seus comentários sobre o lado sedutor da violência, pois Tuvok agora é capaz de compreender. Temeroso por seus próprios impulsos, Tuvok se isola em seus aposentos e informa a capitã que ele não está mais apto ao serviço.

Janeway envia o vulcano à enfermaria, onde ele começa um tratamento para controlar suas tendências violentas. Naquela noite, Tuvok escapa da enfermaria e confronta Suder, declarando que irá executá-lo. Embora seu lado racional ainda fosse forte o suficiente para impedi-lo de assassinar Suder, ele não consegue evitar o colapso do vulcano. Suder pede ajuda e Tuvok é devolvido à enfermaria, onde ele conclui com sucesso sua reabilitação.

Comentários

Uma coisa não se pode criticar em “Meld”: é impossível dizer que o episódio não foi ousado. O tema é extremamente difícil, tendo em vista as amarras estabelecidas por Gene Roddenberry desde A Nova Geração, fixando que os personagens humanos do século 24 são quase perfeitos, livres das paranoias de seus equivalentes de eras anteriores.

O truque para executar a ideia é bem simples: o assassino é um betazoide. Para todos os efeitos, a regra dourada de Roddenberry continua valendo – os humanos continuam tão evoluídos quanto de costume. Mas na prática, o resultado é bem diferente. Afinal, um betazoide sem poderes telepáticos é, para todos os efeitos, humano. Solução barata? Sim. Mas igualmente eficiente.

Só mesmo desse modo para abordar uma questão delicada como um desequilíbrio mental que eleva a violência a níveis tão altos que é capaz de se manifestar em assassinatos. As ramificações do tema são contempladas de forma eficiente pelo roteiro, como a natureza patológica do problema e os métodos de punição disponíveis para esses criminosos.

Nessa dança, entra um discurso contra a pena de morte (pode parecer chover no molhado, mas vale dizer que esse tipo de penalidade é aplicada em vários Estados dos EUA) e um estudo da personalidade de Tuvok por trás de seu intenso controle emocional.

Aliás, pela primeira vez conseguimos testemunhar o perigo de um elo mental. Desde os primórdios da Série Clássica ouvimos dizer que elos mentais vulcanos podem ser perigosos para os envolvidos, mas nunca tivemos a chance de ver algum desses procedimentos resultar em problema para algum de seus participantes. Foi um bom meio de introduzir essa variável, favorecendo o andamento da história.

Graças a essa ocorrência, surge a oportunidade de vermos um pouco do que há por baixo do intenso controle emocional de Tuvok. Infelizmente, o efeito serve muito mais para denegrir a imagem do personagem frente à audiência do que para fornecer dicas sobre a verdadeira natureza do vulcano.

Por outro lado, algumas cenas são extremamente bem executadas. Quando Kes e o Doutor “desligam” o centro de controle emocional do cérebro de Tuvok, a reação do vulcano para com a capitã é bastante impactante. Também vale ressaltar a brilhante atuação de Tim Russ, que soou perfeitamente como um romulano durante sua fase “emocional”, enfatizando ainda mais o parentesco entre os vulcanos e seus sórdidos colegas de orelhas pontudas.

O efeito mais incrível obtido com o episódio é que a audiência não fica com raiva de Suder – fica tão claro que ele é uma vítima de sua própria natureza que não conseguimos imaginá-lo simplesmente como o vilão da história. Mais um ponto para o roteiro.

Nem tudo são flores, entretanto. O grau de manipulação dos sistemas nervosos dos pacientes é arbitrário, de forma a conduzir a história. Se é tão fácil desligar o controle emocional de Tuvok, ou tratá-lo de modo a anular os efeitos ruins de seu elo mental com Suder, não é possível que nada possa ser feito pelo nosso maquis raivoso!

A subtrama com Tom Paris, o “bicheiro” da Voyager, promovendo uma loteria entre os tripulantes também não passa de uma perda de tempo. Uma tentativa (pouco eficiente, diga-se de passagem) de trazer algum alívio cômico para um episódio sombrio e pesado. Em vez disso, o tempo seria muito melhor aproveitado se tivesse mostrado o impacto de um assassinato a bordo da nave. Como os tripulantes reagiriam à ocorrência? Em vez disso, parece que está todo mundo feliz, brincando de bingo com o piloto da nave no holodeck. É meio difícil de engolir. A Voyager não é tão grande assim, para que uma morte não cause impacto em toda a tripulação.

Por fim, há de se criticar a falta de fechamento para o enredo. No fim, Tuvok conclui seu tratamento e se recupera. Ponto final. Não há nenhum desenvolvimento sobre o trauma gerado por esses eventos na vida a bordo da Voyager. Passa a ser apenas um drama pessoal para Tuvok. Enquanto isso, o que será de Suder? Continuará ele preso para sempre?

Felizmente o tripulante voltará a aparecer mais tarde na série para nos contar a quantas ele anda… e para salvar a tripulação e conquistar sua redenção.

Avaliação

Citações

“Why did you kill him, mr. Suder?”
“… No reason.”
(Por que você o matou, sr. Suder?)
(Nenhuma razão.)
Tuvok e Suder

“Do you have a criminal record?”
“Now, that would be …sort of difficult to check on, wouldn’t it?”
(Você tem um registro criminal?)
(É, isso seria… meio difícil de checar, não?)
Tuvok e Suder

“Sitting here, attempting to meditate, I have counted the number of ways I know of killing someone using just a finger, a hand, a foot… I had reached 94 when you entered.”
(Sentado aqui, tentando meditar, eu contei o número de maneiras que eu conheço de matar alguém só usando um dedo, uma mão, um pé… eu cheguei a 94 quando você entrou.)
Tuvok

Trivia

  • Em entrevista, o autor da história, Michael Sussman, disse: “‘Meld’ foi meu primeiro trabalho profissional. Durante o verão de 95, passei a integrar a equipe de roteiristas de Voyager e pude ver de perto como o show funciona. Em um encontro, ouvi Michael Piller dizer que queria fazer um episódio centrado em Tuvok e “violência espontânea”. Foi tudo o que disse, mas me fez pensar. Após muitas semanas, finalmente surgiu uma ideia de que gostei, e a passei a Michael. Chamei-a de “Genocide”. Era sobre um alienígena racista que vem a bordo da Voyager. Em esforço para descobrir quem era o ser e o que queria, Tuvok se voluntaria a tentar um elo mental com ele. Mas a ligação leva o tenente ao estágio primitivo dos vulcanos, fazendo-o expressar profundamente seus sentimentos racistas reprimidos, contra os colegas. Enquanto isso, o alienígena, que teve acesso à mente de Tuvok, o provoca com o conhecimento de que os vulcanos desprezam os humanos (…)” Essa concepção original difere (e muito) do resultado final.
  • “Meld” traz novamente Simon Billig no papel de Hogan, um membro da tripulação maquis de Chakotay. Tanto Billig como Brad Dourif (Suder) farão parte do elenco secundário pelo resto da segunda temporada da série.

Ficha Técnica

Escrito por Michael Sussman
Dirigido por Cliff Bole

Exibido em 05 de fevereiro de 1996

Título em português: “Elo”

Elenco

Kate Mulgrew como Kathryn Janeway
Robert Beltran como Chakotay
Roxann Biggs-Dawson como B’Elanna Torres
Robert Duncan McNeill como Tom Paris
Jennifer Lien como Kes
Ethan Phillips como Neelix
Robert Picardo como Doutor
Tim Russ como Tuvok
Garret Wang como Harry Kim

Elenco convidado

Brad Dourif como Suder
Angela Dohrmann como Ricky
Simon Billig como Hogan

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Edição de Stéphanie Cristina
Revisão de Roberta Manaa

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