VOY 2×24: Tuvix

Mescla de personagens traz dilema insolúvel para a capitão Janeway

Sinopse

Data estelar: 49655.2

Em missão avançada para localizar suprimentos nutricionais, Tuvok e Neelix encontram uma orquídea nativa promissora. Mais tarde, quando a tripulação os transporta de volta à Voyager com amostras das flores, a dupla não reaparece. Em vez deles, uma única entidade aparece na plataforma do transporte. O Doutor confirma que esse estranho, e ainda assim familiar, alienígena, na verdade, é uma fusão de Tuvok e Neelix. Com todas as memórias e habilidades do par, o novo membro da tripulação decide que seu nome seria “Tuvix”.

Os oficiais seniores se reúnem e concluem que as propriedades simbiogenéticas das orquídeas que a dupla carregava durante o transporte causaram a “mescla” que criou Tuvix. Após a reunião, Tuvix tenta se ajustar à sua nova identidade e Kes tenta se ajustar ao novo colega. Embora ela seja atraída por ele, fica incomodada com as emoções confusas que sente.

Após Paris e Torres reunirem mais amostras da orquídea alienígena, eles conseguem confirmar o método da criação de Tuvix transportando novas plantas híbridas, mas são incapazes de reverter o processo. O Doutor admite que não está otimista sobre trazer Tuvok e Neelix de volta como indivíduos separados. Ao ouvir isso, Kes sofre pela perda de dois homens: seu namorado e seu mentor.

Kes diz a Janeway que, apesar das qualidades maravilhosas de Tuvix, ela não está pronta para esquecer Neelix. Várias semanas se passam e Tuvix se ajusta à vida da nave. Em tempo, Kes se aproxima dele e pede desculpas por estar distante. Quando parece que todos já se ajustaram ao novo tripulante, o Doutor anuncia que criou um modo de restaurá-lo a seus dois componentes originais. Só há um problema: Tuvix não quer morrer, mesmo que signifique impedir que outros dois homens vivam.

Tuvix argumenta que ele tem o direito de sobreviver e que restaurar Tuvok e Neelix significa executá-lo. O Doutor se recusa a tirar a vida de Tuvix contra sua vontade, de modo que Janeway é forçada a assumir a responsabilidade de executar o procedimento. Tuvok e Neelix são restaurados, mas o alívio de Janeway é contaminado pelo peso de sua decisão de terminar com a vida de Tuvix.

Comentários

Uma premissa pouco convincente é convite para um desastre — o que não quer dizer que ele sempre aconteça. Na Série Clássica, nos cansamos de ver enredos ligeiramente forçados, com o intuito de alcançar uma discussão mais relevante e com maior potencial dramático. Esse é exatamente o caso de “Tuvix”.

Os malabarismos do transporte andam sendo utilizados como fonte de histórias desde “The Enemy Within”, em que uma falha no equipamento divide o capitão Kirk em dois. Desta vez, acontece justamente o contrário: o transporte transforma Tuvok e Neelix em um só ser.

Imagine o impacto de uma transformação dessa escala: não custa muito para entender que a soma de Neelix e Tuvok, Tuvix, não é simplesmente um ou outro tripulante, ou mesmo os dois. Ao incorporar as características dos dois em um só indivíduo, Tuvix se tornou uma pessoa diferente do que seus componentes iniciais eram. Para todos os efeitos, Tuvix era um novo ser, e não simplesmente um defeito no transporte, como bem indicou a capitão Janeway.

A ideia de reunir Tuvok e Neelix em um só ser é muito boa, por várias razões. Em primeiro lugar, pelo antagonismo que sempre existiu entre os dois personagens. Isso tornaria um desafio incrível mesclar suas características, produzindo resultados interessantíssimos. Em segundo lugar, pelo que os dois compartilham a bordo da Voyager –Kes.

Muito mais do que um episódio sobre o vulcano e o talaxiano, este é uma história sobre Kes. E a honestidade com que a personagem é tratada é simplesmente espetacular. É incrível ver a ocampa indo até a capitão Janeway, cheia de culpa e remorso por ter traído a confiança de Tuvix, indo até ela simplesmente para pedir que ela traga Neelix e Tuvok de volta, à custa da vida do novo ser que havia sido formado.

O discurso de Tuvix para defender sua sobrevivência também é incrível. Na confrontação final dele com Janeway, a sensação transmitida pela cena, quando ele pede a cada um dos tripulantes que o salve, é a de que os oficiais da Voyager nem cogitavam a hipótese de salvá-lo — mas a expressão de todos eles quase dizia “Como somos egoístas! Vamos matar esse sujeito só para trazer nossos amigos de volta!”

Trocando em miúdos, pela primeira vez os personagens foram retratados de uma forma mais humana. De Janeway, foi exigida uma decisão sobre um problema em que não havia solução correta. Ela tomou sua decisão e ninguém é capaz de julgar se ela estava certa ou não. Era um teste de caráter e o argumento de que Neelix e Tuvok eram dois, enquanto Tuvix era apenas um pode até parecer bom, mas, por outro lado, devemos lembrar que, enquanto Tuvix estava vivo e bem, Tuvok e Neelix estavam mortos — ou, pelo menos, sua existência havia cessado durante aquele período de tempo. Não havia uma solução correta. Assim, nasceu a primeira execução vista em Jornada nas Estrelas.

A atuação de Tom Wright como Tuvix é, no mínimo, impressionante. Além de ter incorporado de forma incrível os maneirismos de Tuvok e Neelix, ele imprimiu uma vida ao personagem que é rara de se ver. Jennifer Lien também vai muito bem, em uma das poucas oportunidades em que Kes teve a chance de mostrar serviço. Os outros atores não tiveram muito trabalho, mas desempenharam bem o que lhes foi pedido.

Ao final das contas, “Tuvix” prova que, às vezes, vale a pena sacrificar a acurácia científica se a história a ser contada é consistente e vai falar fundo sobre nossa própria natureza. Independentemente do gosto do telespectador, ele há de reconhecer que se trata de um episódio bem pensado e bem escrito. Para se apaixonar, entretanto, é preciso ser mais afeito à reflexão do que à ação, que faz alguma falta a esse segmento. Mas, se faltou ação, com certeza sobrou emoção.

Avaliação

Citações

“Mr. Neelix, do you think you could possibly behave a little less like yourself?”
(Sr. Neelix, o sr. acha que poderia agir um pouco menos como o sr. mesmo?)
Tuvok

Trivia

    • Os astros falam:
      Como a combinação com outro personagem o afetou?
      – Tim Russ: Eu tirei a semana de folga. Achei a aparência do novo personagem incrível e a atuação do ator, excelente.
      – Ethan Phillips: Bem, você sabe, acho que você sabe, estava lendo em algum lugar que essa foi a primeira execução mostrada em Jornada nas Estrelas. E foi, de fato, uma execução. E eu, pessoalmente, como telespectador do seriado, achei que foi forte, provavelmente, matar Tuvix. Foi um acidente que transformou esse homem num ser vivo. Ainda assim, ele era viável, autêntico, um verdadeiro indivíduo. E foi um triste acidente que aconteceu. De qualquer forma, foi assim que o destino escolheu. E eu acho que Janeway estava errada em se livrar dele. Ele tinha todos os grandes atributos de Neelix e todos os grandes atributos de Tuvok. Mas, por outro lado, estou feliz que ela tenha se livrado dele porque, se não o tivesse feito, estaria procurando outro emprego. Então é uma coisa boa.

    Ficha Técnica

    História de Andrew Shepard Price & Mark Gaberman
    Roteiro de Kenneth Biller
    Dirigido por Cliff Bole

    Exibido em 06 de maio de 1996

    Título em português: “Tuvix”

    Elenco

    Kate Mulgrew como Kathryn Janeway
    Robert Beltran como Chakotay
    Roxann Biggs-Dawson como B’Elanna Torres
    Robert Duncan McNeill como Tom Paris
    Jennifer Lien como Kes
    Ethan Phillips como Neelix
    Robert Picardo como Doutor
    Tim Russ como Tuvok
    Garret Wang como Harry Kim

    Elenco convidado

    Tom Wright como Tuvix
    Simon Billig como Hogan
    Bahni Turpin como Swinn

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    Edição de Stéphanie Cristina
    Revisão de Nívea Doria

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