TNG 3×14: A Matter of Perspective

Todas as testemunhas dizem a verdade e Riker é acusado de homicídio

Sinopse

Data estelar: 43610.4

Recém-chegada a Tanuga IV para buscar Riker e La Forge em uma missão avançada, a Enterprise se depara com uma tragédia: ao mesmo tempo em que o primeiro oficial é teleportado de volta à nave, a estação espacial onde ele estava explode, matando o dr. Nel Apgar.

A missão de Riker e La Forge era justamente checar o progresso de Apgar na criação de ondas Krieger, uma potencial nova fonte de energia para a Federação. La Forge foi o primeiro a voltar, após um incidente com Riker, que voltou no momento exato da tragédia. O investigador-chefe tanugano, Krag, vem a bordo e solicita a extradição do primeiro oficial para ir a julgamento por homicídio.

Picard convence Krag a apresentar evidências suficientes para que ele conceda a extradição em uma série de recriações precisas no holodeck, baseadas em todas as testemunhas: Riker, a esposa de Apgar, Manua, e a assistente do cientista, Tayna. Nas diversas versões, fica claro que houve um incidente entre Manua e Riker, que enfureceu Apgar (cada versão traz um aspecto diferente de um suposto triângulo amoroso). Mais que isso: dados colhidos pelo planeta indicam que um disparo compatível com um feiser partiu da posição de Riker na estação para o conversor de ondas Krieger no momento do teletransporte, levando à explosão.

Enquanto isso, a Enterprise passa por incidentes estranhos de radiação. Uma investigação revela que há um reator ativo na superfície, emitindo disparos periódicos que então estão sendo convertidos em ondas Krieger pelo conversor recriado no holodeck. Com a ajuda de La Forge, é possível demonstrar que na verdade foi Apgar que tentou matar Riker, para proteger um trabalho secreto de conversão de sua invenção em uma arma. Ele disparou uma descarga do conversor em Riker para simular uma morte acidental, sem contar que ela fosse refletida pelo raio do teletransporte de volta para o conversor, levando à detonação da estação. Diante das evidências conclusivas, Krag retira o pedido de extradição de Riker.

Comentários

“A Matter of Perspective” seria apenas mais um clássico episódio de tribunal, com as qualidades e os desafios que um segmento desses oferece, não fosse pela forma original como os testemunhos são apresentados, como recriações de eventos no holodeck.

O mistério vai se desenrolando e segue o clichê de todo roteiro de julgamento: num primeiro momento, parece que Riker está realmente encrencado, e na última hora a verdadeira história se apresenta e Picard salva o dia para o primeiro oficial. Mas o aspecto que torna esse segmento particularmente especial é que ninguém está mentindo.

Isso é enfatizado pela curta, mas importante, participação de Troi, durante as recriações e acareações com Manua e Tayna. Ambas fizeram suas declarações de forma sincera, acreditando em suas versões da história. É interessante como tantas falas se repetem nas três versões (incluindo aí a de Riker), mas o tom e a dinâmica da cena mudam completamente o sentido do que está sendo apresentado.

É claro que temos por referência padrão o depoimento de Riker, visto naturalmente pela audiência como incorruptível e honesto, para discernir quem está mais perto da realidade. Mas o episódio reflete o fato de que, realmente, pessoas têm lembranças e percepções diferentes de eventos a que testemunharam, dependendo do seu envolvimento e de sua perspectiva pessoal perante os fatos.

Bem sacado que Picard precisa pescar trechos das várias versões para corroborar sua tese de que Apgar teve motivo, oportunidade e meios para tentar matar Riker, o que acabou ocasionando sua própria morte em vez disso. E, como não poderia deixar de ser em Star Trek, a evidência decisiva vem da ciência e da observação desapaixonada dos fatos, com um experimento capaz de testar — e assim corroborar — uma hipótese.

Até aí, ótimas sacadas. Mas o episódio também tem suas falhas. Ele é bem limitado no desenvolvimento dos personagens, nesse sentido lembrando em formato o esquema narrativo das duas primeiras temporadas da série. Temos Riker em uma situação dramática e pouco o vemos lidando com ela, exceto por caras e bocas durante as audiências no holodeck. Os demais personagens cumprem suas funções e é só. Talvez a melhor cena de personagens seja a abertura, que nada tem a ver com o episódio, em que Data detona um esforço de Picard numa aula de pintura. Pelo valor cômico, é claro.

Também não ajuda que o segmento dependa de praticamente dois cenários apenas, onde se passa a maior parte da ação: o laboratório e um dos aposentos da estação. Ambos, por sinal, bem simplórios (isso sem contar a reutilização da velha maquete de estação espacial criada originalmente para Jornada nas Estrelas: O Filme). Apesar de uma quantidade significativa de efeitos visuais (para realizar as transições do holodeck e as presenças duplicadas de Riker em cena), o episódio é visualmente cansativo.

São pontos que atrapalham um episódio que, a despeito disso, ainda é capaz de defender a honra em meio à ótima terceira temporada de A Nova Geração.

Avaliação

Citações

“We can’t both be telling the truth.”
“It is the truth… as you each remember it.”
(Não podemos ambos estar dizendo a verdade.)
(É a verdade… como cada um de vocês se recorda dela.)
Riker e Troi

Trivia

  • O escritor Ed Zuckerman estava então no começo do que seria uma carreira bem-sucedida escrevendo para séries procedimentais criminais, começando em 1990 (na mesma época deste episódio) a fazer roteiros para Lei e Ordem.
  • De acordo com Ronald D. Moore, roteirista então recém-chegado à série, este episódio sofreu uma reescrita completa e não creditada com participação de toda a equipe. Esse teria sido o primeiro trabalho dele após se juntar ao grupo.
  • Foi do consultor científico David Krieger a ideia de defender que o conversor meramente serviria como um refletor de uma fonte externa de radiação, para atender à premissa de que o holodeck não criaria nada perigoso. Então os roteiristas decidiram batizá-las de “ondas Krieger”.
  • David Krieger chegou a sugerir uma explicação pseudocientífica do que eram as tais ondas (“um campo que suprime a força nuclear forte, tornando qualquer matéria exposta a ele fissionável”), mas a fala ficou de fora do episódio final.
  • Alguns compararam o enredo deste episódio ao clássico filme japonês Rashômon.
  • A sala de pintura que abre o segmento é uma redecoração da sala de reunião. Em um trecho final cortado da cena, Picard joga tinta vermelha em seu quadro após o comentário devastador de Data.
  • O showrunner Michael Piller acabou insatisfeito com o episódio. “[Foi] provavelmente a história mais difícil de estruturar. Era um pesadelo técnico para o diretor. Eu fiquei muito, muito feliz com o roteiro e achei que o episódio foi decepcionante. Acho que não se traduziu adequadamente. Era muito ambicioso, mas a escolha do elenco foi ruim. (…) Esse foi basicamente o melhor mistério de assassinato de cujo desenvolvimento participei em minha carreira, porque cada detalhe se encaixa no lugar, cada fala se junta para explicar como, o que, quando e onde, e realmente funcionou do ponto de vista do mistério. É um mistério tão complicado. (…) Fiquei muito orgulhoso de como o roteiro saiu. Só não acho que tenha sido ótima televisão.”
  • Ira Steven Behr e Ronald D. Moore foram ainda mais críticos, apontando-o como o pior da terceira temporada. Behr em particular rotulou o segmento de “desastre” e o menos favorito de todos os episódios de Star Trek em que ele trabalhou.
  • Já o diretor Cliff Bole viu o segmento com bons olhos. “[Foi] um dos episódios mais difíceis que já filmei do ponto de vista de manter continuidade e ter de filmar algo de três modos diferentes. Foi um baita desafio, e achei um episódio bem inteligente. Manter todo mundo ligado foi o grande desafio em fazer o episódio, porque muitas pessoas começaram a ficar confusas. Quanto mais difíceis, mais eu gosto deles.”

Ficha Técnica

Escrito por Ed Zuckerman
Dirigido por Cliff Bole

Exibido em 12 de fevereiro de 1990

Título em português: “Pontos de Vista”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher
Wil Wheaton como Wesley Crusher

Elenco convidado

Colm Meaney como Miles O’Brien
Craig Richard Nelson
como Krag
Gina Hecht como Manua Apgar
Mark Margolis como Nel Apgar
Juli Donald como Tayna

Enquete

TS Poll - Loading poll ...

Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

Episódio anterior | Próximo episódio