Obi-Wan Kenobi: Parte VI

Espetacular confronto entre Vader e Obi-Wan contrasta ódio e compaixão

Sinopse

Data: 9 a.B.Y. (nove anos antes da Batalha de Yavin)

Sob uma capa, Reva aparece em Tatooine confrontando transeuntes e perguntando sobre o fazendeiro Owen. Ele faz compras com o jovem Luke e é avisado de que há alguém no encalço dele. De volta à sua casa, Owen conta a Beru o que está acontecendo e diz que Ben Kenobi sumiu. Beru convence Owen de que devem se preparar para a chegada de Reva e defender a casa com velhos blasters.

Enquanto isso, a nave rebelde que decolou de Jabiim está em fuga do Star Destroyer de Vader, que mantém a perseguição. Com um motivador defeituoso, ela não pode saltar para o hiperespaço, e os escudos não devem durar tempo suficiente para que os reparos sejam efetuados.

Obi-Wan decide partir em uma nave menor para servir de distração, a fim de que os outros possam fugir. Leia e Roken protestam, mas o velho Jedi insiste. Ele pede a Haja Estree que leve Leia a Alderaan e toma a pequena Lola emprestada antes de partir, dando um velho coldre a Leia e prometendo que voltará.

Como previsto, Vader descarta o conselho do Grande Inquisidor e ordena a perseguição a Kenobi, deixando os demais rebeldes escaparem. Obi-Wan desce em um planeta próximo, e Vader decide usar seu transporte pessoal para ir ao encontro dele, decidido a enfrentá-lo sozinho. Os dois se encontram na superfície e travam um duelo de sabres de luz. Vader observa que a força de Obi-Wan retornou, mas não é suficiente para batê-lo. Após produzir uma cratera, ele soterra Obi-Wan com rochas.

Em Tatooine, a noite cai, e Owen diz que Luke deve fugir se a casa for invadida. Reva invade e é atrasada pelos disparos de blaster. Ferida, a ex-inquisidora não tem a potência do passado. Ainda assim, ela consegue sobrepujar a resistência, e Luke corre para o deserto. Reva parte em perseguição, dizendo a Owen querer justiça.

Sob as rochas, Obi-Wan usa a Força para permanecer vivo. Ele relembra todos os eventos que o levaram até ali, sua relação com Anakin e suas reminiscências de Luke e Leia. Com isso, numa explosão de energia, ele consegue levitar as rochas e sair, voltando a confrontar Vader. Desta vez Obi-Wan se mostra mais forte e fere seriamente o lorde Sith, inclusive quebrando parte de seu capacete, revelando o semblante de Anakin sob a máscara. Obi-Wan ainda lamenta por seu antigo aprendiz e pede desculpas, mas Vader não deixa dúvida: foi o Sith quem matou Anakin, não Obi-Wan. Vader é deixado para trás, e o velho Jedi parte em sua nave. No espaço, ele pressente que Luke está em perigo e entra no hiperespaço, rumo a Tatooine.

Lá, Reva persegue Luke pelo deserto. Encontra o menino desacordado após cair de uma encosta. Pretende matá-lo, mas o trauma de relembrar o massacre de Vader aos jovens aprendizes do Templo Jedi na Ordem 66 a impede.

Quando Obi-Wan chega a Tatooine, encontra Owen e Beru gritando por Luke na escuridão da noite. Reva então vai se aproximando da fazenda de umidade, com Luke nos braços. Todos temem pelo pior. Mas quando ela o coloca no chão, notam que está vivo. Owen e Beru cuidam do menino, enquanto Reva e Obi-Wan conversam. Ela diz que não pôde matá-lo, que falhou com as vítimas do Templo Jedi em vingá-las. Mas Obi-Wan fala que na verdade ele as honrou, mostrando piedade. Reva quer saber se tornou-se Vader, mas Obi-Wan diz que não, que ela escolheu não se tornar e, o que ela será agora, depende só dela. Conclui dizendo que agora eles dois estão livres.

Após retornar a Mustafar, Vader comunica ao Imperador que as buscas por Obi-Wan prosseguem. O Imperador percebe Vader agitado e se pergunta se os sentimentos dele pelo velho mestre estão afetando seu julgamento. Vader nega e reforça sua lealdade ao Imperador.

Em Alderaan, a pequena Leia, agora vestindo seus trajes reais com um coldre e botas, se prepara para mais uma recepção. A pequena nave pousa e dela saem Obi-Wan e Lola. O velho Jedi se despede dos Organa e conta a Leia sobre as características marcantes que herdara de seu pai e mãe biológicos, antes de partir.

De volta a Tatooine, Obi-Wan decide abandonar a caverna onde vive. Ele faz uma última visita a Owen, dizendo que o fazendeiro tem razão e que Luke precisa apenas ser um garoto – o futuro vai se encarregar do resto. Há um entendimento entre os dois, e Owen convida Obi-Wan a conhecer Luke. O velho Jedi então o presenteia com o brinquedo da nave, antes de partir para o deserto. Lá, Obi-Wan finalmente vê o espírito de seu antigo mestre, Qui-Gon Jinn, que diz sempre ter estado ao lado dele e que os dois têm um longo caminho pela frente…

Comentários

O segmento final de Obi-Wan Kenobi cumpre à risca o fim da “jornada do herói”, com o velho Jedi enfrentando a provação suprema – no mais espetacular e definitivo dos encontros com Darth Vader –, tomando a estrada de volta e encontrando uma espécie de renascimento após a aventura.

A trama principal da minissérie gira em torno do confronto de Obi-Wan e Anakin/Vader, mestre e aprendiz, e nesse sentido a Parte VI faz uma entrega espetacular. As cenas de combate entre os dois figuram entre as mais espetaculares de toda a franquia, combinando a estética poderosa e icônica dos duelos vistos em A Ameaça Fantasma e A Vingança dos Sith à dramaticidade profundamente pessoal do confronto entre Luke e Vader em O Império Contra-Ataca.

Vale destacar, além da coreografia e do planejamento meticulosos da sequência, as excelentes atuações de Ewan McGregor, Hayden Christensen e James Earl Jones. Nunca vimos antes de forma tão intensa a dualidade Anakin/Vader, que serve não só à trama – trazendo à tona a bondade incorruptível de Obi-Wan, incapaz de matar Vader a despeito de ter todas as condições para tanto, e a fragilidade obsessiva e raivosa de Anakin, que a despeito de ser mais poderoso com a Força acaba perdendo as lutas não só porque é cegado pelo ódio do lado sombrio como porque tem menos pelo que se sobressair, com a ideia subjacente de que nossa potência vem do desejo de fazer o bem e proteger quem amamos, mais do que do ódio por aqueles que são nossos inimigos.

A exemplo do que vemos em A Vingança dos Sith, é uma luta assimétrica: Anakin luta para destruir Obi-Wan – aquela ideia ancestral, enraizada nas mitologias, de que é preciso matar o mestre (ou o pai) para ocupar seu lugar. Já Obi-Wan luta para salvar Anakin, enquanto se culpa pela queda do antigo aprendiz para o lado sombrio da Força. A ironia é que, aqui, cada um a seu modo, um salva o outro.

Sim, Obi-Wan salva Anakin/Vader ao deixá-lo viver, mesmo tendo subjugá-lo. Pode parecer a alguns um erro de julgamento, mas há evidência e presciência de que é a escolha certa. Lembremos que foi a decisão de Mace Windu de executar sumariamente Palpatine o que levou o Supremo Chanceler a obter o poder absoluto e concluir a transição de Anakin Skywalker para o lado sombrio. E, claro, pensando no que ainda estaria por vir, se Obi-Wan optasse por executar Vader aqui, quem seria capaz de derrotar o Imperador em O Retorno de Jedi? É uma clara demonstração de que, para a Força, os fins não justificam os meios, e o único caminho possível, para o bem geral, é o da virtude.

Ocorre que Anakin/Vader também salva Obi-Wan, expiando sua culpa – que, por sinal, havia sido reforçada pelo próprio Vader no encontro dos dois em Mapuzo. Lá, ele diz: “Eu sou o que você me fez.” Aqui, não sabemos se por arrogância ou por um momento de clareza, ele esclarece a Obi-Wan: “Você não matou Anakin. Eu o matei.” O que, por sinal, é a verdade. Embora seja totalmente compreensível que Obi-Wan se culpe pelo destino de Anakin, tendo sido seu mestre por tanto tempo e depois causado seus ferimentos extensos na batalha de Mustafar, em A Vingança dos Sith, a verdade é que Anakin já estava a caminho do lado sombrio havia tempos, pelo menos desde a morte da mãe em Ataque dos Clones, e que sua conversão fora obra de sua própria ingenuidade e ambição, associadas ao poder de sedução de Darth Sidious e ao medo da morte de Padmé Amidala. Mas aqui Vader tira dos seus ombros de Obi-Wan o peso pela tragédia de Anakin e o ajuda a aceitar que não pode mais resgatar seu aprendiz das garras do lado sombrio. “Então meu amigo está mesmo morto”, ele conclui. Sim, Anakin Skywalker está morto – de um certo ponto de vista.

Isso conclui a transição de Kenobi, do homem derrotado e resignado que encontramos na Parte I, para alguém que tem fé no futuro e decide não mais se esconder por trás de uma suposta missão – proteger Luke de um perigo invisível. Essa transição é feita da forma mais bonita possível, mostrando um novo entendimento entre Owen e Ben, propiciado pela relação de Obi-Wan com Leia – a jovem mostrou que irá encontrar seu caminho pela busca do bem e da justiça, sem necessariamente passar pelo ritual de treinamento Jedi. Na cabeça de Obi-Wan, Luke eventualmente fará a mesma coisa. É uma forma de repaginar a apreensão de que a era dos Jedi acabou. Se no começo da minissérie, Obi-Wan falava isso com resignação, aqui, ao final, a realidade não mudou, mas ele percebeu que há esperança no futuro – não necessariamente pelas mãos dos Jedi, mas pelos rebeldes.

Ao fazer sua jornada de reconexão com a Força e de compreender seu papel no grande esquema das coisas, Obi-Wan termina sua aventura no esperado – e telegrafado – reencontro com Qui-Gon Jinn, na forma de espírito. E o desfecho deixa em aberto o futuro do personagem – ele abandonou sua caverna, a obsessão de cuidar de Luke à distância, descobriu que há causas ainda a serem defendidas na galáxia e ruma para o mundo aberto, acompanhado pelo espírito de Qui-Gon.

Para Vader, contudo, essa é uma jornada inconclusa. Se o objetivo de Obi-Wan era salvar Anakin, algo que ele descobriu não ser mais possível, o do lorde Sith era destruir Obi-Wan, e essa missão segue incompleta. A conversa de Vader com o Imperador ajuda a ressaltar como se trata de uma questão pessoal, e Sidious teme que seu aprendiz acabe reencontrando os caminhos da luz, e por isso desencoraja a busca. Se Vader quiser prosseguir na caça a Obi-Wan, terá de ser mais discreto na obsessão, sob risco de contrariar seu mestre.

E o terceiro grande arco da série é o de Reva, que encontra aqui alguma medida de perdão. De todas as resoluções, a dela é a mais complicada. De novo, as conveniências se empilham. Ela sobreviveu ao confronto com Vader por pura necessidade de roteiro. Não só isso, conseguiu rapidamente se deslocar para Tatooine, com informação fragmentada sobre Luke – apenas a informação de que Vader não poderia saber de sua existência e que a criança estaria ligada a Owen. Sendo generoso e supondo que, ao confrontar o povo da cidade, ela tenha descoberto que o sobrenome de Luke é Skywalker, faria algum sentido ela querer matá-lo. Quando Owen a confronta, ela diz estar em busca de justiça. Ela teve seus “irmãos” mortos por Vader e agora pretende matar o filho de Vader para vingar seus colegas caídos. O plano faz certo sentido, mas seria interessante se não precisássemos deduzir tudo isso. Fato é que Reva não é suficientemente ligada ao lado sombrio para ir tão longe e completar seu plano. Do ponto de vista Sith, ela fracassou onde Vader foi bem-sucedido. Do ponto de vista Jedi, ela viu a luz. Com isso, ainda não está redimida. E a sensação que fica é que se trata de uma personagem entre mundos, inimiga dos Sith, mas também dos Jedi – lembrando algo como Asaj Ventress, na série animada The Clone Wars, que é uma Irmã da Noite, pupila do conde Dooku, e é traída por ele, passando daí em diante a persegui-lo – embora sempre mantendo seu elo com o lado sombrio da Força.

Como disse Obi-Wan, Reva agora está livre para escolher que caminho trilhar. Poderá voltar ao lado luz, poderá seguir com o lado sombrio, poderá simplesmente viver entre mundos. É uma personagem complexa, que merece ser revisitada em algum momento, para sabermos que fim teve. A despeito disso, faltaram peças para que seu arco fosse mais claramente desenvolvido aqui. Ela foi incapaz de matar Luke, mas antes disso se cansou de executar Jedi e capturar crianças para os fins mais nefastos – por sinal, tudo começa nesta minissérie com o rapto de Leia, promovido por ela. Diante disso, faltou maior clareza na transição. A conversa dela com Obi-Wan no portão de Jabiim, ocorrida na Parte V, ajudou em parte do caminho. Mas faltou a outra metade.

Ao fim das contas, a jornada de Obi-Wan Kenobi parece ter sido uma de reconexão do protagonista às questões galácticas. Em termos da história que contou, estrutural e esteticamente, seguiu à risca as expectativas dos que conheciam o arcabouço maior da saga. Mas a surpresa é a liberdade que a minissérie dá aos personagens ao final desses seis capítulos: se antes parecia improvável que houvesse espaço para novas aventuras de Obi-Wan Kenobi precedendo os eventos de Uma Nova Esperança, agora elas parecem ser uma certeza, do ponto de vista narrativo. A única dúvida que fica é se as veremos em tela… e, a julgar pela gestão de Star Wars após a compra da Lucasfilm pela Disney, estranho será se não as virmos.

Avaliação

Citações

“Anakin.”
“Anakin is gone. I am what remains.”
“I’m sorry. I’m sorry, Anakin. For all of it.”
“I am not your failure, Obi-Wan. You didn’t kill Anakin Skywalker. I did. The same way I will destroy you!”
“Then my friend is truly dead. Goodbye, Darth.”
“Obi-Wan! Obi-Wan!”
(Anakin.)
(Anakin se foi. Eu sou o que resta.)
(Lamento. Lamento, Anakin. Por tudo.)
(Eu não sou seu fracasso, Obi-Wan. Você não matou Anakin Skywalker. Eu matei. Do mesmo modo que destruirei você!)
(Então meu amigo está realmente morto. Adeus, Darth.)
(Obi-Wan! Obi-Wan!)
Obi-Wan Kenobi e Darth Vader, após Obi-Wan ferir seu capacete

“Have I become him?”
“No. You have chosen not to. Who you become now, that is up to you.”
(Eu me tornei ele?)
(Não. Você escolheu não fazê-lo. Quem você se torna agora, depende de você.)
Reva e Obi-Wan Kenobi

Trivia

  • Na cena de abertura em Tatooine, vemos várias figuras familiares, como jawas e um droide astromecânico R5. Mais adiante, vemos Obi-Wan cavalgando um eopie, e Owen Lars menciona os tusken, o povo da areia.
  • A perseguição do Star Destroyer Devastator, de Vader, à nave rebelde é claramente baseada em cena similar de Uma Nova Esperança, na perseguição à nave de Leia.
  • O coldre que Leia ganha de Obi-Wan aqui é quase idêntico ao que a personagem usa nos quadrinhos, em aventuras que a Lucasfilm trata como canônicas. Mais tarde, nos filmes, Leia usará um coldre na perna, não na cintura, mas é bem possível que seja o mesmo item.
  • Luke diz a Beru: “Não tenho medo.” É um traço essencial dos Jedi, já que o medo é um caminho para o lado sombrio. Luke diz a mesma coisa a Yoda em O Império Contra-Ataca, mas o sábio mestre então retruca: “Você terá.”
  • Vader opta aqui por enfrentar Obi-Wan “sozinho”, o mesmo que ele faz em Uma Nova Esperança. Da mesma maneira, Obi-Wan, ao enfrentá-lo, diz a Vader que fará o que precisa fazer, o mesmo que disse em Mustafar durante o duelo dos dois em A Vingança dos Sith. A postura de Obi-Wan com o sabre de luz também reproduz o que foi visto na trilogia prequela.
  • O diálogo entre Vader e Obi-Wan aqui ajuda a explicar por que Kenobi disse a Luke que Vader havia matado seu pai, Anakin. No desfecho, em sinal de desprezo, Obi-Wan chama Vader apenas de “Darth”, seu título Sith. O personagem faz o mesmo no confronto final dos dois, em Uma Nova Esperança.
  • O traje com que Obi-Wan termina a minissérie é consistente com o que vemos nos quadrinhos canônicos da Marvel, que narra aventuras do personagem antes de Uma Nova Esperança.
  • Nesta última parte, finalmente Obi-Wan Kenobi reproduz o meme clássico e manda um “Hello, there!”.
  • Liam Neeson retorna como Qui-Gon Jinn. Sua última aparição em live-action havia acontecido em A Ameaça Fantasma (1999), quando o personagem é morto por Darth Maul. Mas Qui-Gon chegou a ser mostrado em The Clone Wars, como fantasma da Força. Ator e personagem também figuram na nova série de curtas Tales of the Jedi.

Ficha Técnica

História de Stuart Beattie e Joby Harold & Andrew Stanton
Roteiro de Joby Harold & Andrew Stanton e Hossein Amini
Dirigido por Deborah Chow

Exibido em 22 de junho de 2022

Título em português: Parte VI

Elenco

Ewan McGregor como Obi-Wan Kenobi
Moses Ingram como Terceira Irmã
Vivien Lyra Blair como Leia Organa
Kumail Nanjiani como Haja Estree
Marisé Álvarez como Nyche
O’Shea Jackson Jr. como Roken
Maya Erskine como Sully
Joel Edgerton como Owen Lars
Bonnie Piesse como Beru Lars
Rupert Friend como Grande Inquisidor
Simone Kessell como Breha Organa
Ian McDiarmid como Imperador
James Earl Jones como a voz de Darth Vader
Jimmy Smits como Bail Organa
Hayden Christensen como Darth Vader

Podcast: Resenha Jedi

Em breve.

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Edição de Leandro Magalhães
Revisão de Salvador Nogueira

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