TNG 5×09: A Matter of Time

História traz viajante do tempo farsante e subestima bom senso da tripulação

Sinopse

Data estelar: 45349.1

A Enterprise visita Penthara IV, onde um asteroide atingiu um continente despovoado. Temendo que a nuvem de poeira resultante levasse a um devastador inverno nuclear igual ao que ocorreu na Terra na primeira metade do século 21, a tripulação tenta encontrar um meio de evitar os efeitos da nuvem.

Durante a viagem ao planeta, eles encontram uma anomalia temporal. Ao investigá-la, encontram uma nave, de onde um estranho homem se teleporta para a ponte da Enterprise. Ele diz ser o professor Berlinghoff Rasmussen, um historiador da Terra vindo do século 26 para estudar a Enterprise.

A nave finalmente chega a Penthara IV, e a devastação causada pelo asteroide é aparente. Enquanto Geordi e Data trabalham para salvar o planeta, Rasmussen pede à tripulação que complete longos questionários para sua pesquisa. Ele também pede para ver vários equipamentos, considerando-os relíquias de uma era passada. A tripulação é educada com o professor, mas, quando ele não está por perto, já começa a perder a paciência. Troi está especialmente desconfiada.

Quando o plano inicial da tripulação para salvar Penthara IV – uma liberação de gás carbônico na atmosfera a partir de bolsões no subsolo do planeta, gerando um efeito estufa adicional – falha, Geordi cria uma solução alternativa, que irá ou salvar o planeta completamente ou matar toda a vida que o habita. Em dúvida, Picard pede conselho a Rasmussen, mas o historiador se recusa a ajudar, partindo do princípio de que Picard estaria tentando manipular o futuro. Deixado apenas com sua escolha original de agir ou não agir, Picard segue seu impulso original e ordena à tripulação que implemente o plano – uma ionização induzida das partículas contaminadoras da atmosfera, que depois seriam atraídas para o espaço pela Enterprise.

Os esforços são bem-sucedidos, e Penthara IV é salvo. Rasmussen imediatamente se prepara para deixar a Enterprise, mas Picard e a tripulação se despedem do lado de fora da nave dele com o anúncio de que farão uma busca no veículo por vários objetos que desapareceram misteriosamente. O professor protesta, mas concorda, sob a condição de que apenas Data tenha permissão para entrar na nave, para que ele possa ser depois ordenado a nunca divulgar o que viu.

Uma vez do lado de dentro, Rasmussen aponta um feiser para Data, revelando não ser um historiador do século 26, mas sim um inventor do século 22. Ele viajou para a Enterprise a fim de roubar tecnologia para “inventá-la” em seu próprio tempo, e agora pretende levar Data com ele. Por sorte, Picard já havia desativado o feiser, e Data é capaz de subjugar seu oponente. Após se livrar da nave de Rasmussen – que viaja, sozinha, para outra época –, a tripulação entrega o impostor às autoridades.

Comentários

Se o produtor executivo Rick Berman foi feliz em sua primeira investida como roteirista de A Nova Geração (em “Brothers”, do quarto ano), não se pode dizer o mesmo de sua segunda tentativa, “A Matter of Time”. Eis a grande “vantagem” de ser o manda-chuva em uma série de televisão: é possível produzir a história que quiser, mesmo que ela seja ruim.

Não que o conceito introduzido no episódio seja infeliz – ele só foi muito mal executado. A ideia é simples: como reagiria a tripulação da Enterprise ao se encontrar com um homem proveniente do futuro? E a resposta foi dada: de forma bem ingênua, para ser gentil.

É incrível que Rasmussen tenha de roubar metade da nave para que Picard e seus comandados percebam que o sujeito não era nada do que dizia ser. A empatia de Troi tampouco era necessária. Afinal, em primeiro lugar, que historiador, em qualquer época, aceitaria fazer uma visita a um período pregresso revelando sua identidade e potencialmente alterando a história?

Além do mais, o estilo apatetado e bobo do “professor” não ajuda muito. Ele perde tempo discutindo onde ficava o livro de Picard em seu gabinete e contando passos para calcular as dimensões da sala, como se essas fossem as maiores curiosidades de um historiador voltando dois séculos no tempo. Não é preciso ser da área para dizer que Rasmussen não se comporta como alguém digno de crédito.

Vale dizer que o inventor frustrado do século 22 é um dos visitantes mais chatos que a Enterprise recebeu em sete temporadas de A Nova Geração – de fazer inveja a Lwaxana Troi.

A história destinada a oferecer o dilema a Picard – dando alguma utilidade à presença de Rasmussen – também é mal aproveitada. No fim das contas, o dilema é resolvido exatamente do mesmo modo que teria sido se o suposto historiador do futuro não estivesse lá. Ou seja, como dizer que uma das tramas ajudou a outra? Elas apenas se tocaram em um determinado momento, para depois se afastarem novamente. Nada que se possa chamar de desenvolvimento brilhante de roteiro.

Tirando esse problema da falta de conexão entre as duas histórias (embora exista uma clara forçada de barra para uni-las), o enredo que envolve a salvação de Penthara IV oferece alguns elementos interessantes. Um deles é o questionamento do quão difícil é interferir com um ambiente autorregulatório. Um asteroide causa um efeito, e a tentativa de contrabalançá-lo (com um fenômeno que normalmente olhamos com desconfiança e negativismo – o efeito estufa), embora atinja o objetivo inicialmente, acaba causando outros eventos não previstos que anulam o sucesso da tentativa. Agora, tudo isso fica por conta da audiência. No episódio mesmo, as coisas estão lá jogadas, sem qualquer esforço para tornar o tópico mais evidente.

A conclusão – um “final feliz” ao estilo de Star Trek – acaba colocando um ponto final à discussão, quando nossos heróis finalmente são capazes de dominar o ambiente e “corrigi-lo”. Romântico, mas, pelo menos com base em nossa experiência atual enquanto espécie, pouco realista. E, mais importante, pouco dramático também.

O modelo da nave de Rasmussen, pelo lado de fora, é tão encantador quanto uma caixa de sapatos. E a sequência em que a Enterprise expele a poeira para o espaço, embora muito bonita, é confusa – se Geordi não tivesse contado o que ia acontecer, provavelmente ninguém entenderia o que estava vendo. É muito bonita a tomada em que a nave dispara feixes do disco defletor e os feisers para produzir uma ignição das partículas da atmosfera – pouco esclarecedora, mas plasticamente agradável.

No fim das contas, é um episódio decepcionante, por fazer tão pouco de sua principal atração – os personagens. Se eles estivessem mais críticos com relação a Rasmussen, ou se o professor fosse mais convincente, o roteiro teria ganho consistência. Faltou história para contar, e lábia para contá-la direito. Digamos que, em termos de roteiros de A Nova Geração, Rick Berman teve um aproveitamento de 50% – “A Matter of Time” é sua segunda e última contribuição de um roteiro para a série. Provavelmente uma sábia decisão.

Avaliação

Citações

“I came to thank you for answering my questions, though I probably should’ve asked you to limit yourself to 50,000 words.”
“You did ask me to be thorough.”
(Eu vim para agradecer por ter respondido minhas questões, embora eu provavelmente devesse ter pedido a você que se limitasse a 50.000 palavras.)
(Você pediu que eu fosse meticuloso.)
Rasmussen e Data

Trivia

  • Rick Berman se disse fascinado por toda história que envolve viagens no tempo. “Sempre tive em minha cabeça a ideia de um episódio em que alguém que era capaz de viajar no tempo dizia ser do futuro e descobrimos que ele é na verdade do passado. É parte daquele sentimento de Mark Twain do que Leonardo da Vinci poderia ter feito com uma calculadora ou Alexandre, o Grande, com uma espingarda. O produtor executivo achou muito divertido escrever o episódio.
  • O personagem de Berlinghoff Rasmussen foi originalmente escrito para ser interpretado por Robin Williams, que era fã de Star Trek. “Eu desenvolvi o episódio com Robin Willians em mente. Ele disse que queria fazer um episódio, e quando acabamos sua mulher estava grávida de oito meses e meio e ele tinha acabado de filmar Hook e estava começando outra coisa e ele não teria como fazer.” Com isso, o papel acabou ficando com Matt Frewer.
  • A nave temporal foi uma reciclagem da Nenebek, pequena nave vista em “Final Mission”. Ela voltaria a ser aproveitada como um veículo klingon em “Gambit, Part II”.
  • O episódio foi filmado entre 27 de setembro e 7 de outubro de 1991, nos galpões 8, 9 e 16 da Paramount.
  • Sheila Franklin estreia aqui como a alferes Felton. Essa personagem será vista em mais quatro episódios nesta temporada. A alferes Felton ocupa o posto que foi de Wesley Crusher na ponte de comando, e só apareceu por lá quando Ro Laren não estava disponível.
  • Quando conversa com Geordi, Rasmussen cita cinco cegos históricos famosos: Homero, Milton, Bach, Monet e Wonder. Ele se refere ao poeta antigo Homero (nascido ao redor de 850 a.C.), ao poeta inglês John Milton (1608-1674), ao organista e compositor alemão Johann Sebastian Bach (1685-1750), ao pintor francês Claude Monet (1840-1926) e ao cantor e compositor americano Stevie Wonder (1950- ).
  • O showrunner Michael Piller ficou feliz com o trabalho do chefe Rick Berman. “Foi uma deliciosa mudança de ritmo e tom da opressão e escuridão do episódio do Spock. Foi na hora certa. Aquele quarto ato em que Picard e Rasmussen têm um ato de uma cena é maravilhoso e gostei muito daquilo.”
  • O diretor Paul Lynch relembrou assim: “Era mais uma comédia que um drama. Matt Frewer foi maravilhoso como um trapaceiro espacial. Ele tinha a reputação de ser grande para seus papéis de comédia, mas ele era um ator de recursos e encontrou o nível de comédia e realismo do personagem que é o que faz dele um personagem tão bom.” Apesar disso, em 2012, Lynch disse que “A Matter of Time” foi o menos favorito dentre os cinco episódios de A Nova Geração que dirigiu.
  • Este episódio ganhou um Emmy para a série por efeitos visuais, dividindo-o com “Conundrum”.

Ficha Técnica

Escrito por Rick Berman
Dirigido por Paul Lynch

Exibido em 18 de novembro de 1991

Título em português: “Uma Questão de Tempo”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Stefan Gierasch como Moseley
Matt Frewer como Berlinghoff Rasmussen
Sheila Franklin como alferes Felton
Shay Garner como cientista

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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