TNG 6×21: Frame of Mind

Jornada na loucura de Riker vira veículo para grande atuação de Jonathan Frakes

Sinopse

Data estelar: 46778.1

Will Riker está ensaiando a peça Frame of Mind, em que vive uma pessoa que é colocada num hospital psiquiátrico e tem sua sanidade posta em xeque, enquanto médicos fazem terríveis experimentos. Ele está afetado pelo papel perturbador.

Picard informa que ele fará parte, em cinco dias, de uma missão secreta de resgate de pesquisadores em Tilonius IV, em que duas facções estão em conflito. Cabe a Worf dar informações a Will para a missão e o klingon acidentalmente corta o rosto do comandante.

Chega o dia da peça e Will a interpreta, mas se vê cada vez mais perturbado. E então ele se encontra mesmo no tal hospital psiquiátrico. Os médicos alienígenas insistem que ele está insano e foi internado lá após cometer um assassinato. Segundo eles, a ideia toda de que ele era um comandante da Frota Estelar a bordo da Enterprise não passava de ilusões.

Riker então acorda em seus aposentos na nave e acha que tudo não passou de um sonho – inclusive a peça, que agora ele terá de interpretar de verdade. Mas, mais uma vez, realidade e ficção parecem colidir, e ele se vê no hospital psiquiátrico, cada vez mais convencido de que sua vida na Enterprise é uma alucinação.

No fim, Beverly Crusher aparece no hospital psiquiátrico e diz que ele foi preso por inimigos em Tilonius IV, mas que ela e seus colegas estão trabalhando para resgatá-lo. Ele não acredita nela. Quando Worf e Data aparecem para transportá-lo, ele tenta fugir. Mas acaba transportado para a Enterprise – o que ele considera uma ilusão.

Em um ato de desespero, ele usa um feiser para atirar em si mesmo e explode a realidade da Enterprise, voltando a aparecer no hospital psiquiátrico – mas ainda com o feiser em punho. Ele explode também essa realidade e se vê na peça. Explode-a novamente e acorda em uma instalação, com um plugue em seu cérebro no local onde sentia o dor do corte que Worf teria feito nele. Riker consegue se levantar e rapidamente fugir.

Na Enterprise, ainda perturbado, a tripulação explica o que houve: ele havia sido capturado e plugado a uma máquina para revelar segredos estratégicos, e sua mente criou aquelas alucinações todas num esforço para mantê-lo de algum modo conectado à realidade.

Comentários

“Frame of Mind” é um suspense perturbador que exige de Jonathan Frakes uma grande atuação, embora não faça realmente muito pelo desenvolvimento de seu personagem, William Riker. Ainda assim, pelo nível de envolvimento emocional que evoca e pela manutenção do mistério até o final, temos um episódio bem-sucedido.

Não é um resultado trivial. Afinal de contas, assim que descobrimos Will “preso” no hospital psiquiátrico, com médicos alegando que ele tem alucinações sobre estar numa nave estelar, temos a certeza de que tudo não passa de um truque elaborado – a não ser que nós, como audiência, também tenhamos alucinado todos os episódios anteriores da série.

Ainda assim, o roteiro de Brannon Braga consegue criar confusão mental suficiente para que vejamos duas possíveis “realidades” em contradição flagrante, e só sabemos que todas elas são ficções quando Will, em um ato de desespero, usa o feiser para “explodir” tudo, inclusive a si mesmo.

Frakes nunca teve de carregar um episódio nas costas como aqui, e seu desempenho é louvável. Sentimos por meio dele a gradual perda de contato com a realidade e a perturbação extrema que isso causa. E é isso que faz a diferença para o sucesso. Não fosse ele capaz de evocar essa identificação e empatia com a audiência, o segmento teria fracassado, não importando quão bem escrito fosse.

Analisando a história em si, estamos diante de uma trama ultrassimples: Riker participa da missão de resgate dos pesquisadores em Tilonius IV, é sequestrado por uma das facções em conflito e é plugado em uma máquina que tenta extrair informações estratégicas diretamente de seu cérebro. O efeito colateral induzido em sua mente é a criação de múltiplas realidades imaginárias para lidar com o trauma. Ao final, ao destruir todas as ilusões, Will consegue despertar e promover sua própria fuga.

Se contada dessa maneira direta, contudo, o episódio seria muito previsível e, acima de tudo, enfadonho. Ao nos colocar dentro da mente confusa de Riker, somos instados ao mesmo desafio que ele – entender o que está acontecendo. E o que nos parece óbvio em um primeiro momento se revela falso mais adiante, nos colocando em um estado de perplexidade similar ao do personagem em si.

A direção de James Conway é efetiva, focando no que é realmente importante – o trabalho de Frakes. A escolha de ângulos de câmera inusuais ajuda a construir o estado de perturbação mental, tornando o episódio ao mesmo tempo intrigante e tenso.

Em termos de elenco, para além de Frakes, não há destaques. A tripulação da Enterprise tem função meramente acessória, e o mesmo se aplica aos internos, médicos e seguranças do hospital psiquiátrico imaginário. O episódio é praticamente todo de Will Riker, vivido do lado de dentro da mente dele.

Os valores de produção são igualmente comedidos, com poucos e simples cenários adicionais e uso modesto de efeitos visuais – o principal destaque vai para o momento em que Will quebra todas as “realidades”.

Por fim, vale destacar o efeito curioso que é ver tantas camadas sobrepostas: temos um ator (Frakes) fingindo ser um comandante em uma nave estelar (Riker) que assume o papel de ator em uma peça, mas só vemos cenas que se passam na mente dele, em estado de perturbação que evoca o personagem que o personagem interpretou. Não custa lembrar que, embora saibamos ao final que Riker de fato encenou a peça, o que vemos dela é 100% gerado pelo subconsciente dele. Se o mistério sustenta a primeira assistida, esse aspecto torna uma revisita ainda mais interessante, já sabendo por onde o episódio caminha.

Avaliação

Citações

“Well, we have one hour before curtain. How are you feeling?”
“I feel like an actor.”
“Well… you’re certainly starting to look the part.”
(Bem, temos uma hora antes de se abrirem as cortinas. Como você está?)
(Eu me sinto com um ator.)
(Bem… você certamente está começando a se parecer com o personagem.)
Beverly Crusher e Will Riker

Trivia

  • Este episódio se originou da mais elementar das premissas de Brannon Braga. Ele relembrou: “Eu tinha uma noção: e se Riker acordasse em um asilo para loucos alienígena e não tivesse ideia de como chegou lá e dissessem que ele estava maluco?” Como a temporada estava no fim e o tempo era escasso, a ideia foi aceita pelos céticos Michael Piller e Rick Berman para substituir outra história que acabou caindo. De acordo com Jeri Taylor: “Não tínhamos tempo para fazer uma história, então fomos adiante e ‘quebramos’ essa… o que é a coisa mais arriscada do mundo a se fazer. Elas são sofridas, tomam dias e se você se perde está condenado!” Após uma sessão de quebra de três dias, a equipe saiu com uma história que impressionou Piller.
  • Braga notou que as imagens sombrias e surreais tinham apelo com ele. “Foi divertido para mim escrever. Um dos meus filmes favoritos é Repulsa ao Sexo, de Roman Polanski, e acho que a influência se faz sentir. Eu sempre quis escrever algo sobre alguém duvidando de seu senso de realidade e acho que funcionou.”
  • A escolha de Riker foi em parte para remediar o que Braga percebia como uma subutilização do personagem. “Riker é um personagem amigável, ele é o único humano com que você pode fazer humor, você pode fazer ação – e aqui você pode sacanear com ele e levá-lo à loucura!”
  • Por conta de atitudes cuidadosas na descrição da saúde mental, Braga cogitou brevemente reduzir o uso da palavra “louco” no roteiro. Ele explicou: “As pessoas usam essa palavra, é uma boa palavra, e eu decidi usá-la. Quando você fica muito ‘politicamente correto’, acaba aparecendo, e o que é ‘PC’ hoje não será em cinco anos. Star Trek é uma série que transcende o tempo, e tentamos não datá-la.”
  • Este foi o primeiro episódio dirigido por James L. Conway desde “The Neutral Zone”, que fechou a primeira temporada. Segundo Rick Berman, o trabalho dele era bem avaliado desde aquela época, mas Conway esteve ocupado demais em outros projetos, o que adiou seu retorno à série.
  • Susanna Thompson, que aqui faz Jaya, acabaria mais lembrada por outros papéis em Star Trek: Lenara Kahn (em “Rejoined”, de Deep Space Nine) e como a Rainha Borg (em “Dark Frontier” e “Unimatrix Zero”, de Voyager).
  • Este episódio marca a segunda vez em que Riker se vê capturado em um mundo alienígena durante uma missão secreta. A primeira foi em “First Contact”, da quarta temporada. Também é a segunda vez que Riker é preso em uma simulação em múltiplas camadas que desafia suas memórias e sua percepção da realidade. A primeira foi em “Future Imperfect”, também do quarto ano.
  • Jonathan Frakes adorou o desafio de atuação deste episódio. “‘Frame of Mind’ foi realmente sombrio. Foi um episódio assustador e apavorante de fazer. [O diretor James] Conway estava de volta, e foi o maior episódio que tive de carregar. Achei que ele foi muito competente no comando. Foi maravilhosamente sombrio e agradeço o sr. Braga por isso.”
  • Braga achou que este foi o melhor episódio de Frakes, descrevendo sua atuação como “um real tour de force”.
  • Em “Trusted Sources”, da terceira temporada de Lower Decks, Beckett Mariner especula para si mesma se não estaria em algum cenário “frame of mind” quando ela se encontra sendo hostilizada pela tripulação sobre as supostas informações que teria passado em sua entrevista para a FNN.
  • O escritor Naren Shankar considera este o melhor roteiro que Braga escreveu para A Nova Geração.

Ficha Técnica

Escrito por Brannon Braga
Dirigido por James L. Conway

Exibido em 3 de maio de 1993 

Título em português: “Demência”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

David Selburg como Syrus
Andrew Prine como Suna
Gary Werntz como Mavek
Susanna Thompson como Jaya
Allan Dean Moore como tripulante ferido

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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