SNW 2×06: Lost in Translation

Uhura precisa enfrentar o luto – e ajudar misteriosos alienígenas – com a ajuda de Jim Kirk

Sinopse

Data estelar: 2394.8.

 A Enterprise visita a nebulosa de Bannon onde a Frota Estelar construiu uma estação-coletora-refinaria de deutério – e é missão da nave ajudar a colocá-la em operação. Pike foi promovido temporariamente a capitão de frota, comandando a Enterprise, a Farragut e a refinaria até a conclusão dos trabalhos.

Aproveitando a ocasião, a nave ativou seus coletores Bussard para reabastecer-se de deutério. Em seguida Uhura ouve o que ela acha ser um sinal de comunicação, mas nenhum registro dele é encontrado. Ela segue investigando e vai até uma das naceles de dobra em busca da falha nos sistemas, usando um tutorial deixado por Hemmer, o finado engenheiro-chefe da Enterprise.

No turboelevador, a oficial de comunicações tem uma alucinação de Hemmer completamente desfigurado, cadavérico, enquanto ouve o mesmo ruído do suposto sinal. Na enfermaria, uma análise do cérebro dela sugere que foi mesmo uma alucinação, provavelmente causada por envenenamento por deutério, segundo M’Benga. Ele a tira do serviço e ordena repouso. Em seus aposentos, Uhura tem uma nova alucinação: desta vez uma visão de um acidente de nave auxiliar num descampado.

Na estação-refinaria, Una coordena os trabalhos para colocar os sistemas em operação, mas entra em atrito com Pelia. Os trabalhos avançam devagar, e a primeira oficial fica furiosa ao saber que a engenheira-chefe desobedecera suas ordens. Pelia indica que há sinais de sabotagem. As duas encontram o suposto sabotador – é um oficial da Frota Estelar e ele parece estar alucinando. Una avisa de uma emergência médica.

Na Enterprise, o tenente James Kirk vem a bordo para reencontrar seu irmão, Sam. Os dois terminam um tour pela nave no bar e colocam a conversa em dia. Sam parabeniza Jim por ser promovido a primeiro oficial da Farragut, batendo o recorde de mais jovem primeiro oficial que pertencia ao pai deles, George Kirk. A rivalidade entre os irmãos se exacerba, e a conversa termina em conflito.

Em paralelo, Spock e Chapel jogam uma partida de xadrez tridimensional. Spock quer notificar a Frota Estelar da relação dos dois – se houver uma. Chapel se mostra confusa sobre o futuro do relacionamento deles – se é que existe um. Uhura os procura e diz que não teve envenenamento de deutério, porque o ruído que acompanha cada crise foi ouvido antes de ela ter ido à nacele. Chapel acha que é exaustão. Frustrada, Uhura vai tomar uma bebida. Jim Kirk a aborda, e ela acha que ele está flertando. Kirk refuta e diz que ela apenas parece precisar de um amigo. Ela se esquiva e deixa o bar.

No corredor, Uhura ouve o ruído mais uma vez e vê outra alucinação, com vários tripulantes mortos. Ela se vê atacada por réplica de si mesma e revida. Saindo do transe, ela descobre que atacou Jim Kirk e se oferece para tratar seu ferimento. Os dois vão aos aposentos dela e Kirk se dispõe a ajudá-la na investigação do que está havendo.

Na ponte, Uhura tem mais uma alucinação – a tela se rompe, há uma descompressão, e a tripulação é ejetada para o espaço. Pike tem uma conversa particular com ela, interrompida pela chegada de Jim Kirk. Ele informa que o tripulante sabotador encontrado na estação, tenente Ramon, é da Farragut e já estava sofrendo de alucinações desde o dia anterior. Na enfermaria, ele vai de um estado não comunicativo a uma fuga acelerada. Pike e um oficial de segurança vão atrás dele pelos corredores – escuros por conta de mais um ato de sabotagem de Ramon. Encontram pelo caminho uma tripulante morta.

Uhura e James Kirk vão em outra direção, mas ela volta a ouvir o ruído que acompanha a alucinação. A oficial tem a sensação das paredes fechando sobre ela. Kirk a tira do transe e vai continuar a procura por Ramon. Uhura diz que voltará à enfermaria. Mas, ao encontrar uma trilha de sangue, ela contata os grupos de busca e sugere que Ramon foi até uma das naceles.

Avançando por um tubo Jefferies, ela encontra Ramon na nacele e tenta estabelecer contato com ele, dizendo ver as mesmas alucinações, mas enfatizando que ela é real. Os dois entram em combate corpo a corpo quando ele sabota o sistema e James Kirk aparece na hora exata para solicitar um transporte de emergência para ele e Uhura antes de uma explosão na nacele. Ramon acaba sendo ejetado para o espaço.

No corredor, La’An encontra James Kirk e os dois têm uma conversa agradável. Jim fala um pouco de como ele cresceu acompanhando o pai de posto em posto, sem entender por que ele se preocupava mais com estranhos do que com ele – algo que ele mesmo acabou fazendo ao se juntar à Frota, e mais uma vez por Uhura, que acabara de conhecer. La’An se despede, e Kirk diz que ela ainda lhe deve um drinque, depois da conversa que tiveram sobre o arquivo de segurança de Sam via rádio subespacial.

Kirk e Uhura estudam os diários pessoais de Ramon e descobrem que ele passou pelo mesmo processo que a oficial de comunicações, mas estava em um estágio mais avançado. Uhura está frustradíssima, lembrando que já teve essa sensação terrível de ver o que não estava lá depois que os pais morreram em um acidente de nave auxiliar. E que tudo voltou quando Hemmer morreu, e ela tentou ignorar, passar por cima. Jim a aconselha a seguir na luta e diz que vai buscar algo para comer no refeitório. Ela volta a ver o tutorial em vídeo de Hemmer e tem um lampejo: o cérebro de Ramon tinha danos no centro de linguagem. O dela está hiperativo. Ela lança a Jim Kirk a hipótese de que o que aconteceu a eles foi uma tentativa de comunicação. E então os dois vão conversar com Sam para refinar a ideia.

O trio conclui que se trata de uma tentativa de usar as visões como vocabulário, transformando Uhura em um tipo de tradutor universal para uma espécie extradimensional que se acopla ao deutério no espaço-tempo convencional. Uhura conclui que o consumo e o processamento do deutério estão aprisionando, torturando e matando os alienígenas.

A alferes parte para a ponte e tenta convencer Pike a desativar a estação-refinaria, que acabou de ser ativada. A caminho, ela tem uma visão do acidente de nave auxiliar de seus pais – uma visão interna da cabine do veículo acidentado. Ao chegar à ponte, Pike informa que o sistema de desativação não está funcionando. Uhura explica que eles estão matando as criaturas e que a estação precisa ser destruída. Pike pergunta se ela tem certeza. No que ela diz que sim, ele ordena a evacuação e a destruição da refinaria. Em uma última alucinação-comunicação, Hemmer, que até então se mostrava cadavérico, volta a aparecer feliz e sorridente para Uhura.

A caminho da Enterprise em uma nave auxiliar, Una e Pelia mais uma vez se confrontam: a primeira oficial diz que teve aulas com a engenheira na Academia e recebeu dela uma nota C. Pelia diz que sua frustração não é por isso, mas pela perda de Hemmer, que ela agora está substituindo. No bar da nave, Jim Kirk e Uhura brindam a “seguir na luta”. Sam aparece e tenta se reconciliar com Jim, elogiando-o. Jim agradece, mas não retribui o gesto, e Sam fica furioso por não receber desculpas. Em seguida, Spock aparece no bar, e Uhura o apresenta a Jim.

Comentários

“Lost in Translation” acerta na maioria dos detalhes, mas peca no principal: a trama que conduz o episódio. Não que ela seja particularmente ruim; pelo contrário, é uma história efetiva que mistura com sucesso terror e ficção científica. O problema é que seu principal alicerce é o mistério – e esse falha miseravelmente.

A combinação do ruído característico com as alucinações já indica rapidamente ao espectador que Uhura não está experimentando um problema médico propriamente dito, mas uma tentativa de contato. Se não bastasse isso, uma olhada no título (“perdido na tradução”), entregaria a premissa. E aí temos um problema muito grave: a audiência já tem uma boa ideia do que está acontecendo aos dez minutos, mas os personagens só vão descobrir isso lá pelos quarenta e tralalá.

De novo, em princípio, não seria uma falha fatal. É costumeiro artifício narrativo ter o espectador um pouco adiante (ou às vezes um pouco atrás) dos personagens em uma trama de forma a conduzir bem a história. O problema é que aqui eles tentam fazer um mistério em que a audiência está à frente, e ela permanece assim durante tempo demais.

O resultado é impaciência, que pode até mesmo ofuscar as qualidades deste episódio numa primeira assistida. E ele as tem. Um destaque especial vai para a primeira aparição para valer do tenente James T. Kirk (sem truques de linha do tempo alternativa), que vai à Enterprise para visitar seu irmão Sam, enquanto a Farragut participa da missão conjunta de colocar para funcionar a estação-refinaria de deutério.

Paul Wesley mais uma vez tem desempenho apagado, em contraste com o brilho de seu personagem. Não é que ele esteja mal (e a essa altura nem vale mais a pena ficar esmiuçando as escolhas do ator; é o que é), mas a descrição de Kirk como tripulante-prodígio (reforçada aqui pela revelação de que ele será o primeiro oficial mais jovem da história da Frota Estelar em alguns meses, quando assumir a função) não condiz com a impressão que Wesley transmite em tela. Ainda assim, temos muitos momentos valiosos com sua presença na Enterprise, como o primeiro vislumbre da interação entre Jim e Sam como irmãos em competição, um pouco da história pregressa dos dois como filhos de George Kirk, primeiro oficial da USS Kelvin, e os primeiros encontros de Jim com Uhura e Spock.

Quanto ao primeiro deles, é divertido ver o espelhamento com a mesma situação retratada em Star Trek (2009), lá em outra linha do tempo. Mais uma vez eles se encontram num balcão de bar, e mais uma vez Uhura acha que Kirk está dando em cima dela – só que no filme isso era verdade, e aqui não.

Aliás, precisamos falar sobre Uhura. Os holofotes do episódio estão sobre ela e, diferentemente do que ocorrera no espetacular “Children of the Comet”, isso não a beneficia tanto aqui. Temos revisitas a pontos-chave de sua vida, como a perda dos pais e a mais recente perda de Hemmer, com direito à volta de Bruce Horak interpretando o personagem (e um “avatar” dele usado pelos alienígenas extradimensionais para comunicação), mas nada que não soubéssemos antes. A novidade é que o trauma dessa aventura a ajuda a superar o luto, guiada em parte pelo aconselhamento amigável de Jim Kirk. Como? Essa é uma boa pergunta. As mensagens de “é preciso seguir em frente” e “a vida na Frota Estelar é perigosa” não parecem suficientes.

Como se não bastasse isso, Uhura divide o drama da perda de Hemmer com Una, que espelha esse aspecto da história em um contexto de enfrentamento com Pelia. E o que isso faz com as duas em particular é torná-las amargas e antipáticas por boa parte do episódio. A atitude agressiva de Uhura com Jim Kirk até é compreensível, dado o que ela está passando, mas não angaria muita simpatia. A de Una então, passando por cima de Pelia sem motivação aparente, parece simplesmente infantil. (Isso muda um pouco no final, mas, de novo, uma nota baixa na escola e/ou a lembrança da perda do antigo engenheiro-chefe não parecem ser suficientes para justificar a atitude da primeira oficial.)

Estamos falando de um episódio que, além de tudo, foi econômico nas filmagens. A exemplo do anterior, é mais um “bottle show”, filmado dentro da Enterprise e em um cenário da estação quase totalmente construído com ajuda do AR Wall. É verdade que Star Trek já produziu bottle shows brilhantes, mas neste as coisas ficam cansativas rapidamente.

As visões apavorantes de Uhura seguem o caminho do terror clássico, com um Hemmer “zumbificado”, mas não são o suficiente para tornar tudo emocionalmente intenso. A ideia do sabotador a bordo da estação apenas reforça a ideia de que Uhura está recebendo uma mensagem.

Já a decifração, que obriga Jim e Sam a trabalharem juntos, é bem bolada. Mas talvez devesse ter vindo dez minutos antes. E o episódio todo talvez devesse ter dez a quinze minutos a menos, sanando seus problemas de ritmo. Onde cortar? Menos alucinações de Uhura e menos momentos supérfluos meramente para “bater ponto” nas histórias pessoais de alguns personagens. O encontro de La’An com o “verdadeiro” Kirk é interessante (até tocante, com a ajuda da música de Nami Melumad), mas não passa de uma versão estendida da conversa subespacial que tiveram. Já a rápida cena entre Spock e Chapel jogando xadrez serve apenas para empurrar para a frente a forma como lidarão com sua nova, aham, “situação”. Para este episódio em particular, momentos dispensáveis.

A ironia é que, diante de uma história principal fraca, essas são algumas das partes mais cativantes do episódio (superadas apenas pelas interações da dupla Jim e Sam). É divertido sabermos que Uhura é a responsável por apresentar Spock a Kirk – um encontro para as eras, que no entanto é retratado de forma cuidadosamente equilibrada entre o reverencial e o mundano, bem ao estilo de “entendedores entenderão”. É quase como ver o embrião da tripulação da ponte da Série Clássica se formando, com a opção de centrar em Kirk, Spock e Uhura como o trio mais importante (a exemplo do que foi feito nos filmes de J.J. Abrams).

No fim das contas, temos um episódio que decerto não figura entre as melhores horas de Strange New Worlds, mas traz uma série de pontos importantes para o futuro dos nossos personagens – ainda que os produtores aqui tenham se equilibrado em uma narrativa que oscila entre o novelesco das interações e o mistério insosso da trama central.

Avaliação

Citações

“You know, the irony’s not lost on me. The communications officer who can’t communicate what’s wrong with her.”
(Sabe, eu percebo a ironia. A oficial de comunicações que não consegue comunicar o que há de errado com ela.)
Nyota Uhura

“The truth is I’ve never been able to face death. Everyone has some way of dealing with it and moving on, but I just… I don’t know how. How can I be a Starfleet officer if I can’t handle death?”
(A verdade é que nunca fui capaz de encarar a morte. Todo mundo tem algum jeito de lidar com isso e ir em frente, mas eu… eu não sei como. Como posso ser uma oficial da Frota Estelar se não consigo lidar com a morte?)
Nyota Uhura

Trivia

  • Este episódio foi filmado em abril de 2022.
  • O primeiro encontro entre James Kirk e Christopher Pike segue rigorosamente o que preconiza o cânone: em “The Menagerie”, da Série Clássica, Kirk diz ao comodoro Mendez que conheceu Pike quando ele foi promovido a capitão de frota – o que acontece (temporariamente) neste episódio.
  • Este episódio também mostra o primeiro encontro de James Kirk com Uhura e Spock na linha do tempo principal de Star Trek. Uma versão alternativa, pertencente à chamada linha do tempo Kelvin, é representada no filme Star Trek (2009).
  • No bar, Uhura pede um conhaque sauriano (saurian brandy), uma bebida clássica da franquia. E pela primeira vez vemos os novos aposentos da alferes, após sua promoção. Na primeira temporada, como cadete, ela tinha um quarto compartilhado.
  • O roteirista David Reed se juntou à série nesta segunda temporada e escreveu dois episódios envolvendo alguma versão de James Kirk: “Tomorrow and Tomorrow and Tomorrow” e este. Já Onitra Johnson era assistente dos roteiristas na primeira temporada e foi corroteirista de “The Elysian Kingdom”, antes de assinar este aqui.
  • O diretor Dan Liu já havia conduzido um episódio de drama a bordo da nave com “Memento Mori”, da primeira temporada. Ele também trabalhou em dois episódios da terceira temporada de Picard: “Imposters” e “The Bounty”.
  • A nebulosa foi batizada em homenagem ao finado namorado de Melissa Navia (Ortegas), Brian Bannon.
  • É a primeira vez que vemos os coletores Bussard usados da forma que foram imaginados pelo físico Robert W. Bussard, em 1960: para colher hidrogênio (no caso, deutério, a versão do hidrogênio com um próton e um nêutron no núcleo) no espaço interestelar.
  • Pelia deu uma nota C em Manutenção de Naves Estelares 307 na Academia da Frota Estelar para Una. Ex-professora de Hemmer, ela admitiu que o aenar era “apenas razoável”.

Ficha Técnica

Escrito por Onitra Johnson & David Reed
Dirigido por Dan Liu

Exibido em 20 de julho de 2023 

Título em português: “Perdido na Tradução”

Elenco

Anson Mount como Christopher Pike
Ethan Peck
como Spock
Jess Bush
como Christine Chapel
Christina Chong
como La’An Noonien-Singh
Celia Rose Gooding
como Nyota Uhura
Melissa Navia
como Erica Ortegas
Babs Olusanmokun
como Joseph M’Benga
Rebecca Romijn
como Una Chin-Riley

Elenco convidado

Paul Wesley como James T. Kirk
Bruce Horak como Hemmer
Dan Jeannotte
como George Samuel Kirk
Michael Reventar como Ramon
Carol Kane como Pelia
Alex Kapp
como computador da Enterprise

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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