VOY 3×26: Scorpion, Part I

Cubos borgs sendo destruídos pela espécie 8472

Borgs mostram as caras e fazem Janeway jogar o livro de regras pela janela

Sinopse

Data estelar: 50984.3

Janeway relaxa no holodeck com um programa simulando a Itália renascentista. Com ela, ninguém menos do que Leonardo Da Vinci, com quem ela espera poder trabalhar em projetos de escultura e pintura. Assim que as coisas começam a ficar interessantes, ela é interrompida por um chamado de Chakotay. O comandante pede que ela venha o mais rápido possível para a Engenharia. Quando a capitã chega, depara-se com a notícia mais aterradora desde que sua nave se perdeu do outro lado da galáxia: tudo indica que a Voyager está se aproximando do temido espaço Borg.

Convocando uma reunião de emergência para discutir as decisões a ser tomadas, Janeway e Chakotay informam os oficiais superiores de que não há como contornar o território Borg, dada a sua extensão, mas que talvez haja um modo de atravessá-lo. Sensores de longo alcance detectaram uma estreita passagem livre de atividade da coletividade, apelidada de “passagem Noroeste” e a capitã decidiu abraçar a oportunidade. Ela alerta que os Borgs sabem da presença da Voyager no quadrante Delta, pois encontraram e estudaram uma sonda lançada semanas antes.

Janeway no holodeck conversando com Leonardo da Vinci

Neelix começa a planejar um modo de aumentar a capacidade dos replicadores e economizar os suprimentos, já que a nave não poderá parar para se reabastecer tão cedo. Harry tenta aumentar a resolução dos sensores para detectar naves Borgs com antecedência, no evento de um confronto. O Doutor estuda a fundo o processo de assimilação. Enfim, toda a tripulação se engaja na melhoria dos sistemas e pode-se quase sentir o cheiro de medo no ar.

Mais tarde, na Enfermaria, Kes e o Doutor analisam os restos Borgs encontrados em “Blood Fever”. A Ocampa experimenta visões perturbadoras de milhares de cadáveres Borgs despedaçados e empilhados, e da destruição da Voyager. À medida que Tuvok reporta as premonições à capitã, o alerta vermelho é soado e o campo de dobra da nave cai por causa de uma turbulência subespacial. Harry Kim então detecta quinze cubos Borgs seguindo na direção da nave. Quando todos acham que é o fim, os cubos passam reto sem parar, com exceção de um, que reduz a velocidade apenas para fazer uma varredura preliminar da Voyager.

Kes e o Doutor investigando pedaços borgs

Intrigada pela ação inesperada dos Borgs, Janeway ordena que Harry fique de olho na armada para descobrir o que chamou a atenção deles e, em seguida, a capitã segue para o seu gabinete. Lá, ela estuda todos os registros de encontros de capitães da Frota com os Borgs. Pouco tempo mais tarde, as naves Borgs desaparecem dos sensores. Ainda mais curiosa, ela diz a Paris para alterar curso da nave, seguindo as últimas coordenadas dos cubos. Quando a Voyager chega ao local, a tripulação descobre que aqueles quinze gigantescos cubos foram reduzidos a toneladas de destroços. Tuvok detecta uma assinatura de arma alienígena e todos se dão conta de que existe uma raça ainda mais poderosa do que a coletividade no quadrante Delta.

A descoberta provoca sentimentos mistos na capitã. Pode significar o ticket de passagem pelo território Borg, um aliado em potencial, ou o total aniquilamento. Os sensores detectam uma nave impenetrável de origem desconhecida, presa a um dos cubos. Chakotay convoca um grupo avançado, que se transporta para investigar. Depois, um ser não-humanóide aparece e ataca os oficiais, que voltam à Voyager não muito antes de ela ser atacada. Quando a nave escapa, Kes diz à capitã que não é com os Borgs que eles deveriam se preocupar, mas com a raça alienígena, designada pelos Borgs como “Espécie 8472”.

Espécie 8472

Horas se passam e a tripulação finalmente chega à passagem Noroeste. Mas eles nem têm tempo de se alegrar, pois descobrem da pior forma por que não há Borgs naquela região: a passagem é na verdade um corredor com centenas de naves da Espécie 8472 emergindo de uma fenda inter-dimensional. Kes consegue captar o pensamento dos alienígenas, sentindo um ódio frio vindo deles e a vontade de destruir tudo o que encontrarem pela frente.

Neste momento, a capitã chama o comandante em particular para eles discutirem juntos as alternativas. Na verdade, Janeway se sente perdida e desamparada, pois agora sabe que não pode colocar a Voyager na rota dos 8472 ou enfrentar os Borgs em seu espaço. Mas, ao mesmo tempo, ela também não está preparada para informar a tripulação de que eles vão desistir de encontrar um caminho para casa. Percebendo o quanto ela está cansada, Chakotay sugere que ela durma para clarear a mente. Mas, em vez disso, ela vai até o holodeck procurando inspiração com Leonardo Da Vinci. O artista a aconselha a apelar a Deus, contudo ela tem uma outra idéia: apelar ao demônio.

Janeway e Chakotay conversando em "Scorpion"

Convocando outra reunão, Janeway avisa os oficiais superiores de que a Voyager fará um acordo temporário com os Borgs, no qual a tripulação oferecerá um meio de derrotar os alienígenas em troca de passagem segura pelo espaço da coletividade. Em meio ao ceticismo dos oficiais e, depois, forte protesto de Chakotay, ela ordena que Paris trace curso para a nave Borg mais próxima. Ao se aproximar de um cubo, a Voyager é presa por um raio trator e Janeway é transportada a bordo da nave inimiga. Ela propõe o acordo, mas, antes de conseguir ouvir uma resposta, dez naves da Espécie 8472 aparecem e destroem um planeta inteiro naquele sistema solar, junto com alguns cubos.

Comentários

A terceira temporada foi fechada com chave de ouro. “Scorpion” não é um episódio perfeito, nem o mais original de Voyager. Mas pode-se dizer com toda a certeza que está entre os melhores da série. É uma hora de entretenimento garantido, basicamente por três motivos: mostra os maiores vilões do universo de Jornada, apresenta dramaticidade e conflito humano convincentes e honra a premissa original do seriado como nenhum outro episódio o fez até agora.

Há quem diga que o episódio foi produzido, pois estava fadado a acontecer desde que se estabeleceu que a Voyager estaria perdida no quadrante Delta, a terra natal da coletividade. Mas de previsível ele não tem nada. Ninguém imaginaria ver, na época de A Nova Geração, adversários ainda mais poderosos do que os Borgs, ou ainda tantos cubos juntos de uma única vez. Só em termos de efeitos visuais, “Scorpion” foi um espetáculo digno de prêmio. A música de Jay Chattaway não poderia ter sido melhor executada.

Title Card Voyager "Scorpion, Part I"

Mas, como não é (apenas) de apelos estáticos que sobrevive uma série de televisão, o destaque do segmento vai para o roteiro e pelo dilema a que submete os personagens. A notícia de proximidade com o território Borg desestruturaria qualquer oficial da Frota, por mais treinado que fosse. Ainda bem que Brannon Braga percebeu que uma nave sozinha não sobreviveria a bilhões de drones. Sendo a Voyager uma nave tão pequena e com recursos limitados esse sentimento de iminência da morte se faz ainda mais presente. A sensação de urgência foi muito bem retratada pelos atores. Pela primeira vez, a tripulação funciona como uma equipe de verdade, em que a participação de cada um é indispensável.

Mas, no contexto da história, talvez nem mesmo o melhor de cada um pode ser suficiente para aliviar a tensão ou preparar a nave eficazmente para o pior. Fica claro que os tripulantes não têm como evitar as ferroadas, a não ser dando a meia-volta e se distanciando ainda mais do quadrante Alfa. Mas Janeway não está pronta para dar tal ordem.

Tripulação da Voyager em "Scorpion"

Como se todas essas adversidades não fossem suficientes, surge um conflito sério entre a capitã e seu primeiro-oficial durante as discussões sobre o que fazer para assegurar a sobrevivência da Voyager. Chakotay é extremamente cauteloso e racional, enquanto Janeway procura uma solução mais arriscada e de resultado imediato. Ela não aceita a hipótese de ter que reverter o curso e viajar no sentido contrário, e para justificar seu plano de contatar os Borgs, usa de uma argumentação claramente incoerente com as suas crenças enquanto ser humano e oficial da Frota Estelar. A verdade é que é difícil manter a razão em uma situação como esta. O manual de regulamentos não se aplica com a mesma lógica aqui fora e ela já está cansada disso. Na Federação, capitães têm o apoio de almirantes e de uma poderosa frota de naves que garantem a soberania do espaço dos planetas unidos. Mas no quadrante Delta a capitã conta apenas com o apoio da sua tripulação.

Vale fazer um parênteses sobre o nível da conversa entre Janeway e Chakotay. O relacionamento dos dois é incomum, mas não apenas por se tratar de uma oficial da Frota e um Maquis. Eles estão praticamente em nível de igualdade, até porque a tripulação é mista. Ainda assim, a palavra final é sempre dela, o que não impede que o comandante expresse o seu descontentamento de forma, digamos, enérgica. Esta é uma das qualidades de Voyager que a diferenciam das demais séries de Jornada; em nenhuma outra nave da Frota alguém seria capaz de contradizer o oficial superior. É uma pena que Chakotay permaneça em estado de coma na maioria dos episódios. A cena da discussão foi a melhor entre os dois.

Janeway e Chakotay conversando em "Scorpion"

Ótimos também são os cenários e o novo visual dos Borgs, introduzidos no filme “Primeiro Contato”. Esses seres cibernéticos com certeza estão muito mais sinistros e assustadores do que em A Nova Geração. O time de produção cenográfica de Voyager foi composto por verdadeiros mágicos. Também merece elogios David Livingston,considerado por muita gente o melhor diretor em Jornada. Ele criou o ambiente de suspense com sucesso dentro do cubo Borg. Num geral, a estética e qualidade da produção de “Scorpion” equiparam-se às de um filme de cinema.

Sobre os novos alienígenas, cujo nome não se sabe, mas que são designados pelos Borgs como “Espécie 8472”; eles não são apenas bonitos e bem feitos. São diferentes, e isso é uma coisa pela qual os fãs pediam há muito tempo. As raças da Série Clássica eram muito parecidas com os humanos. Compreensível, dada a falta de recursos financeiros da produção. Mas em A Nova Geração e Deep Space Nine essa tendência permaneceu. O trekker mais fanático pode usar como desculpa o fato de o quadrante Alfa ser habitado por espécies semelhantes. Mas essa lógica não pode ser válida para o quadrante Delta. Até agora, a Voyager não parecia estar nos confins do universo. Os 8472 não são os “humanóides da semana”. São muito mais que isso. São sinal do avanço da tecnologia de CGI e uma mudança drática – e positiva – na aproximação da franquia às raças alienígenas.

Voyager encontrando cubo borg em "Scorpion"

A Espécie 8472 é mortal e tecnologicamente muito avançada. Quem pode dizer isso em primeira mão é Harry Kim, o “alferes camisa… amarela” oficial da série. Seu encontro com a raça o deixa com uma ferida superficial, mas que se espalha como um câncer à medida que as células alienígenas invadem seu organismo e infectam cada sistema, literalmente consumindo-o de dentro para fora. A idéia dos roteiristas só pode ter sido usar isso como um meio de dizer que esses seres são maus. Na verdade, os 8472 são muito parecidos com o que os Borgs eram quando foram introduzidos na segunda temporada de A Nova Geração: simples, pouco profundos, vagos, embora intimidantes. Até a frase “os fracos perecerão” equivale ao velho “resistir é inútil”, porém menos assustador.

Enfim, o ponto mais inteligente do episódio é quando o Doutor propõe usar as nanossondas Borgs no tratamento de Harry. É daí que parte toda a lógica do restante da história. Já que os Borgs aprendem de acordo com o que assimilam (enquanto a tripulação da Voyager aprende investigando), a coletividade não consegue compreender a natureza da resistência da Espécie 8472; e a capitã tem agora em suas mãos a chave para subjugar os alienígenas.

Harry Kim doente devido a espécio 8472

Assim, um novo dilema surge para Janeway. A Voyager certamente seria destruída caso fosse pega no meio da guerra. Mas reverter o curso significa abandonar toda a esperança de voltar para casa. Além disso, como a tripulação da Voyager pode esperar que os Borgs mantenham a sua parte do acordo, indo contra a sua natureza? Como ajudar os Borgs – uma raça culpada pelo assassinato e assimilação de bilhões – a destruir mais uma espécie só pela chance de voltar à Terra? Por outro lado, e se a nave traçar um curso no sentido oposto, o que fariam se dessem de frente com a Espécie 8472?

A incoerência aparece quando fica claro o problema de Janeway em tomar a sua decisão, quando ela decide fazer o que for necessário para tirar a Voyager do sufoco – inclusive cogitar a possibilidade de entregar a sensível informação sobre a Espécie 8472 para os Borgs em um tipo de barganha. É impossível não perceber a ironia da situação: no piloto da série ela põe a segurança de alguns milhares de Ocampas acima da de sua própria tripulação e acaba aprisionando sua nave no outro lado da galáxia, enquanto aqui está pronta para assinar a sentença de morte uma raça inteira, ao lado dos Borgs. A questão da incapacidade de a capitã se segurar na hora de agir, levantada por Chakotay, é bastante oportuna e deve-se perguntar o que isso significa, considerando que as ações de Janeway podem influenciar o destino do quadrante inteiro.

Janeway dentro de um cubo borg

O episódio apresenta uma cena final totalmente sem precedentes, que deixa todos sentados na ponta da cadeira: um planeta inteiro explode e cubos Borgs desaparecem como se fossem feitos de papel. É um cliffhanger no melhor sentido da palavra, e o saldo da história é muito positivo, salvo falhas menores. “Scorpion” transformou o quadrante Delta em um lugar desconhecido e interessante de novo, uma sensação que havia desaparecido há anos, tendo sido substituída por um vazio entediante. Também lidou de forma inteligente com a premissa da nave Voyager, sozinha e perdida e, ao contrário de “Basics, Part I”, deixa o fã ansioso pela conclusão.

Avaliação

Citações

“You’ll get your hands covered in goose grease.”
“It’s good for the skin.”
(Você vai sujar as mãos com graxa de ganso.)
(É bom para a pele.)
Leonardo da Vinci e Janeway

“This could be it, Captain. Borg space.”
(Pode ser isso, capitã. Espaço borg.)
Chakotay

“Think good thoughts.”
(Pensem em coisas boas.)
Janeway

“Three years ago I didn’t even know your name. Today I can’t imagine a day without you.”
(Há três anos eu nem sabia o seu nome. Hoje não conseguiria viver um dia sem você.)
Janeway

“Who could do this to the Borg?”
(Quem conseguiria fazer isso com os Borgs?)
Paris

“Captain, it’s not the Borg that we should be worried about, it’s them.”
“What did it say to you?”
“It said: ‘The weak will perish’.”
(Capitã, não é com os Borgs que deveríamos nos preocupar, é com eles.)
(O que ele lhe disse?)
(Ele disse: ‘O fraco perecerá’.)
Kes e Janeway

“What if I made an appeal… to the devil?”
(E seu apelasse… ao diabo?)
Janeway

“But the Borg aren’t exactly known for their diplomacy.”
(Mas os Borgs não são exatamente conhecidos por sua diplomacia.)
Neelix

“You are awfully quiet.”
(Você está muito calado.)
Janeway

Trivia

  • Este é o último episódio de Jennifer Lien (Kes) no elenco fixo da série.
  • John Rhys-Davies aparece de novo em Voyager como Leonardo Da Vinci no episódio “Concerning Flight”, da quarta temporada.
  • O mais curto teaser (sequência antes dos créditos de abertura) de Voyager ocorre neste episódio. São apenas 21 segundos. O mais comprido é o de “Deadlock” com quase 7 minutos.
  • Este episódio apresenta uma nave Borg cúbica pela sexta vez dentro da história de Jornada. As duas primeiras foram em “Q Who” e “The Best of Both Worlds”, ambos de A Nova Geração. Depois “Emissary”, episódio-piloto de Deep Space Nine, trouxe um Cubo Borg, seguido anos depois pelo filme para cinema “Primeiro Contato”. Em Voyager, “Unity” e “Scorpion” completam a lista, pelo menos até agora.
  • “Fazer Borgs e a Espécie 8472 em CGI nos deixou muito felizes. Estamos bem contentes com o tipo de coisa que podemos fazer com o computador, e mais felizes ainda pois isso apresenta um preço que podemos pagar”, disse Jeri Taylor, produtora da série, sobre os efeitos especiais de “Scorpion”.

Ficha Técnica

Escrito por Brannon Braga & Joe Menosky
Dirigido por David Livingston

Exibido em 21 de maio de 1997

Título em português: “Escorpião, Parte I”

Elenco

Kate Mulgrew como Kathryn Janeway
Robert Beltran como Chakotay
Roxann Biggs-Dawson como B’Elanna Torres
Robert Duncan McNeill como Tom Paris
Jennifer Lien como Kes
Ethan Phillips como Neelix
Robert Picardo como Doutor
Tim Russ como Tuvok
Garret Wang como Harry Kim

Elenco convidado

John Rhys-Davies como Leonardo Da Vinci

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Edição de Mariana Gamberger

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