TNG 7×05: Gambit, Part II

Embustes sobre embustes marcam desfecho que enriquece mitologia vulcana

Sinopse

Data estelar: 47160.1

A nave mercenária ataca a Enterprise, mas com baixa potência, sem causar danos. Data desconfia que Riker quer que eles mantenham a falsa batalha, e devolve fogo. Satisfeito com os supostos danos impostos à nave da Federação, Baran ordena a retirada. Data decide não perseguir, o que causa frustração em Worf, atuando como seu primeiro oficial.

Entre os mercenários, Baran começa a confiar em Riker. Para testar sua lealdade, o capitão mercenário ordena que o oficial se aproxime de Galen (Picard) para descobrir quem o apoia na nave e, quando sua utilidade acabar, o mate. Picard segue analisando os artefatos e encontra um que parece ser o procurado pelos mercenários, mas ele é vulcano, não romulano.

Tallera confronta Picard e revela que na verdade ela é uma oficial de inteligência vulcana chamada T’Paal, infiltrada na nave mercenária há mais de um ano para capturar os artefatos, partes de um objeto mítico conhecido como a Pedra de Gol, uma arma que age como um ressoador psiônico e permite matar qualquer um apenas com pensamento. Ela revela que sua missão é capturar o dispositivo antes que ele caia nas mãos de um grupo de isolacionistas vulcanos, para quem Baran pretendia vender os artefatos.

Após encontrar uma mensagem codificada por Picard com o plano de voo da nave mercenária, a Enterprise parte para o setor Hylarano, a fim de encontrá-la. Mas acaba chegando lá antes dela, e se vê de frente com uma pequena nave klingon. O piloto, Koral, se recusa a cooperar, mas Data decide trazer a nave a bordo para inspeção. O interrogatório com o klingon pouco avança.

A nave mercenária chega ao destino, e Baran decide ordenar que um grupo avançado aborde a Enterprise para capturar um segundo artefato, de posse de Koral. Eles conseguem chegar ao klingon e pegar a peça, mas então Riker simula tentar matar Picard, enquanto o capitão finge reagir e matá-lo, embora sua arma estivesse em regulagem de tonteio. Riker é deixado na Enterprise, e Picard volta com os outros à nave mercenária, onde promove um motim contra Baran. Ao assumir o comando, ele ordena que a nave vá para Vulcano.

Riker contata o ministro da segurança vulcano, Satok, para avisar da chegada da nave mercenária com sua agente, mas ele diz que não há nenhum espião vulcano nela.

Tallera se prepara para descer sozinha ao santuário T’Karath, em Vulcano, onde pretende juntar as três peças da Pedra de Gol. Desconfiado, Picard contesta, e um grupo acaba indo com ela. No planeta, ela revela que faz parte do grupo isolacionista e mata os mercenários que a acompanhavam com a Pedra de Gol. Entretanto, ela não consegue atacar nem Picard, nem os oficiais recém-chegados da Enterprise, pois o ressoador psiônico é incapaz de matar quem mantém pensamentos pacíficos, algo que Picard deduziu ao analisar os artefatos.

Com a ameaça debelada, os vulcanos prometem que vão destruir os artefatos e submeter os mercenários remanescentes à justiça.

Comentários

“Gambit, Part II” traz um bom desfecho para a história aberta no episódio anterior, empilhando farsas sobre farsas e explorando de forma ainda mais efetiva as qualidades trazidas pela primeira parte, com a dobradinha Picard-Riker mostrando muita versatilidade e Data expondo sua capacidade para comandar a Enterprise.

A abertura, naturalmente, é tão simplória quanto se espera dela, a partir do cliffhanger forçado e clichê criado para estabelecer a ponte entre as duas partes: o ataque à Enterprise se mostra inócuo, e a trama avança como um grande jogo em que os tripulantes precisam adivinhar os planos uns dos outros sem comunicá-los diretamente.

Data se mostra um ótimo capitão, antecipando os movimentos que Riker, à distância, espera dele, para que o primeiro oficial possa conduzir os eventos conforme sua conveniência a bordo da nave mercenária. Há um confronto especial entre o androide e Worf, nomeado primeiro oficial e insatisfeito com a postura cautelosa e, por vezes, passiva (porém inspirada) do capitão interino. O desafio à autoridade de Data, de novo ecoando o que vimos em “Redemption II”, é mais intenso aqui, obrigando-o a usar um clássico expediente de Picard – o de “chamar na salinha”, levando o klingon ao gabinete do capitão para recriminá-lo por desafiar suas ordens. A cena é muito bem atuada, com boas presenças de Michael Dorn e Brent Spiner, com direito até a Data fazer a clássica “manobra Picard”, ao ajustar o uniforme.

Na nave mercenária, a sobreposição de embustes diverte e intriga, com Tallera e Galen revelando ter outras identidades. E, no fim, a vulcana (travestida de romulana) acabaria tendo ainda mais uma camada a expor, como parte do movimento isolacionista vulcano. Trata-se de uma ideia intrigante que, vira e mexe, é explorada em Star Trek. Introduzida aqui, a ideia de rebeldes vulcanos acabaria sendo mais desenvolvida em Enterprise e Discovery, mostrando que essas minorias xenófobas circulam pelo planeta pelo menos desde o século 22 até o século 24.

O jogo duplo de Picard e Riker é bem divertido, e nota-se que Patrick Stewart e Jonathan Frakes estão se divertindo ao interpretar papéis dentro de papéis, Riker como um antiético oficial de segunda classe da Frota Estelar, e Galen como um contrabandista esperto e encrenqueiro.

Igualmente engraçada é a participação de James Worthy, ex-jogador de basquete dos Los Angeles Lakers, como o imponente klingon Koral, que faz até mesmo Worf parecer um baixinho.

E acaba sendo muito interessante a elaboração sobre a cultura e a mitologia vulcanas, com a existência de uma misteriosa e antiga arma telepática. No fim das contas, a única decepção talvez seja a demostração prática da tal Pedra de Gol, que se revela uma arma com poderes bastante limitados para ser tão disputada por todas as partes. Talvez haja um meio de usá-la com mais agressividade do que Tallera tentou fazer, mas, se os vulcanos cumpriram a promessa de destruí-la ao fim deste episódio, é provável que jamais saibamos.

Avaliação

Citações

“Will, you always seem to be after my job.”
(Will, você sempre parece estar atrás do meu trabalho.)
Jean-Luc Picard a William T. Riker, sobre o plano de Baran

Trivia

  • Ronald D. Moore, roteirista do episódio, comentou: “Senti que ficamos sem história na ‘Parte II’. Havia lugares em que eu estava fazendo água. Tínhamos de achar a arca perdida e eu não sabia o que a arca perdida era. Em vez disso, tínhamos um dispositivo de um mito vulcano antigo que tinha propriedades míticas que você pode explicar como propriedades de foco telepático. Eu realmente estava tentando fazer essa coisa funcionar e, no final, eu apenas disse, ‘certo, talvez eu deva ir com tudo e fazer dessa uma clássica mensagem de Gene [Roddenberry] e ir com ‘pense pensamentos felizes’ e fazer algo que esteja atrelado ao passado de Vulcano e Surak e paz’. Achei que ia encaixar bem. Não sei se aconteceu.”
  • Nas versões preliminares do roteiro, o ressoador psiônico era muito mais poderoso, capaz de matar milhões de pessoas de cada vez.
  • Naren Shankar baseou a subtrama vulcana aqui na admissão de Spock em “Journey to Babel”, da Série Clássica, que um vulcano poderia matar por uma razão lógica. Ele decidiu adotar um tom diferente para os vulcanos. “Fomos com pessoas que muito logicamente sentiam que os problemas de Vulcano estavam ligados à contaminação por gente ilógica, então em um sentido lógico você diz ‘livre-se deles’… um modo muito lógico de chegar ao racismo.”
  • Na ideia original de Shankar, o Movimento Isolacionista Vulcano planejava literalmente tirar Vulcano do universo para evitar contaminação cultural de outras espécies. “Todo mundo estava com medo que ficasse um episódio de Space: 1999. A noção era deslocar dimensionalmente o planeta para que você não pudesse chegar a eles. Nesse sentido, seria puro isolamento. Ainda acho que é uma ideia legal. Ninguém mais acha, contudo.”
  • Inicialmente o deus da morte vulcano era careca, até que Rick Berman ordenou que colocassem cabelo para evitar similaridades com Patrick Stewart em closes.
  • A aparição do astro da NBA James Worthy no episódio como Koral aconteceu graças a um encontro fortuito com Robert O’Reilly (Gowron) num avião. Worthy admitiu sua vontade de aparecer na série, e O’Reilly o convenceu a se encontrar com Rick Berman e Michael Piller, que por sua vez pediram a Jeri Taylor que desenvolvesse um papel adequado.
  • “Gambit, Part II” foi filmado entre 9 de agosto e 17 de agosto de 1993, nos galpões 8, 9 e 16 da Paramount.
  • Este episódio revela que Vulcano foi um dos mundos fundadores da Federação. Mas só em “Zero Hour”, de Enterprise, seria estabelecido que os outros três fundadores são Terra, Andoria e Tellar, conforme mencionado em várias publicações não canônicas antes disso.
  • Segundo Tallera, o santuário T’Karath foi abandonado por séculos após ser usado como “fortaleza oculta para uma das facções durante a última guerra civil”. Em “Awakening”, de Enterprise, o mesmo santuário foi mostrado como uma fortaleza syrranita durante a Reforma Vulcana de 2154.

Ficha Técnica

História de Naren Shankar
Roteiro de Ronald D. Moore
Dirigido por Alexander Singer

Exibido em 18 de outubro de 1993

Título em português: “O Golpe, Parte II”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Richard Lynch como Arctus Baran
Robin Curtis como Tallera/T’Paal
Caitlin Brown como Vekor
Cameron Thor como Narik
James Worthy como Koral
Sabrina LeBeauf como Giusti
Martin Goslins como Satok

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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