TOS 2×24: The Ultimate Computer

Episodio traz a tona a Discussão Homem x Maquina

Sinopse

A USS Enterprise é convocada a se apresentar com urgência a uma estação espacial. Chegando Lá Kirk é informado pelo Comodoro Bob Wesley ainda na sala de transporte que a Enterprise foi escolhida para participar de um teste para o computador revolucionário M-5, projetada pelo Dr. Richard Daystrom.

Nesse teste serão realizados uma série de exercícios de combate onde uma força de ataque comandada pelo comodoro Wesley irá caçar a Entreprise, controlada pelo M-5 que cuidará de todas as funções da nave, incluindo responder aos ataques simulados.  Durante esse período a tripulação da nave será reduzida a apenas vinte pessoas. Kirk deixa claro seu descontentamento, mas as ordens permanecem.

O Dr Daystrom, cientista responsável pelos computadores duotrônicos usados ​​na Enterprise e demais naves da Frota Estelar, está a a bordo para instalar sua nova unidade multitrônica M-5, projetada para comandar uma nave estelar com apenas o mínimo de pessoal. Kirk, Spock e Dr. McCoy o encontram na engenharia, onde ele está concluindo a conexão da unidade para dar início aos testes.

Após autorizar Scotty a conectar o M5 a energia da nave, esse apresenta um comportamento que Spock acha estranho, mas Daystron afirma não haver nada de errado, apenas alguns ajustes. Respondendo a um questionamento de Kirk Daystrom explica que as quatro primeiras unidades não foram totalmente bem-sucedidas, mas que a M5 está pronta e com total capacidade de controlar a nave e desempenhar suas funções. Kirk se monstra reticente, mas Daystrom argumenta que o Capitão da Enterprise está com medo de perder seu prestigio em função da capacidade do M7.

Spock e Daystrom permanecem na engenharia enquanto Kirk e McCoy vão embora conversando a respeito do que consideram ser um erro sobre a possibilidade de substituir homens por computadores. Kirk expressa sua preocupação, mas também admite que pode estar receoso com uma eventual obsolescência.

A nave inicia os testes com Kirk mantendo controle estrito do tempo que o M5 comanda a nave de forma independente com as primeiras intervenções da unidade se mostrando um sucesso. A Enterprise entra em órbita do planeta Alpha Carinae IA Enterprise, sob o controle da M-5, se aproxima do planeta Alpha Carinae II, atinge a órbita padrão. Nesse ponto Daystrom lembra a Kirk que ele tem ordens de deixar o computador conduzir todo o processo que inclui selecionar um grupo de descida que deve investigar o planeta. Kirk faz suas recomendações, assim como o M5.

Essas recomendações apresentam divergências. Como o primeiro exemplo da diferença entre as decisões da M-5 e as de um humano, a recomendação de Kirk está em desacordo com a do M-5, que inclui o mesmo astro biólogo, Phillips , um geólogo diferente (Alferes Carstairs em vez do Chefe Rawlins), e não inclui Kirk ou McCoy no grupo de pouso, chamando-os de “pessoal não essencial”.

Enquanto isso acontece, Scott observa que a energia está sendo cortada em alguns decks da nave e junto com os controles ambientais. Ao rastrear a fonte dos desligamentos de energia Scotty descobre que elas estão sendo causadas pelo próprio M-5. De volta a engenharia Daystrom examina a situação, mas explica que o M-5 simplesmente desligou a energia para aqueles decks, já que eram alojamentos de tripulação desocupados e não havia ninguém lá que precisasse.

Nesse ponto Spock observa que o M-5 está consumindo mais energia do que antes, ao que Daystrom simplesmente responde que o M-5 requer mais energia, ao que o Dr reponde mais uma ver ser um comportamento normal, pois a unidade requer mais energia por realizar mais atividades. Kirk e agora Spock novamente contestam Daystrom a respeito das capacidades do equipamento, afirmando que o M-5 só pode processar informações dadas a ele; ele não pode fazer julgamentos de valor. Daystrom descarta isso e descreve o M-5 como “uma abordagem totalmente nova” para sistemas lógicos.

Eles são informados por Uhura a respeito da chegada de uma nave não identificada, o que interrompe a conversa e leva Kirk e Spock para a ponte. O Dr. McCoy já está lá, e ao ser indagado por Kirk responde que que a enfermaria também foi fechada pelo M-5 até que algum tripulante precise de tratamento. Kirk toma conhecimento que a duas naves da Frota estão se aproximando, a Lexington e a Excalibur o que eles supõem ser um exercício de combate não programado, o que acaba se confirmando. O M-5 assume o comando e responde rapidamente aos ataques simulados, revidando as naves atacantes e manobrando mais rapidamente do que se um humano estivesse no comando.

Kirk não tem como negar a capacidade do computador, dizendo a Spock que tais aplicações podem ser práticas, mas Spock diz a Kirk que, embora seja verdade, algo como um computador comandando uma nave estelar seria indesejável. Ele continua explicando que um atributo chave do comando humano é a lealdade, lealdade a um homem, e que isso nunca deve mudar. Kirk ainda com o orgulho abalado após a demonstração do M5, aprecia o comentário.  O Comodoro Wesley abre comunicação informando que os danos simulados foram suficientes para considerar o M5 vencedor nas manobras, dando a Kirk o título de capitão ” Dunsel “. Spock explica a McCoy que esse é um termo utilizado na academia da frota que se refere a algo sem utilidade pratica.

Consternado Kirk vai para seus aposentos e enquanto tenta se ocupar McCoy trazendo uma bebida que ele chama de Finagle’s Folly. Eles bebem juntos e então conversam sobre como Kirk se sentiu desnecessário frente a performance do M5. Kirk então fala a McCoy sobre um poema antigo de século XX, quando a conversa é interrompida. Pelo comunicador Spock que informa o surgimento de outra nave não identificada e fora dos exercícios.

A conversa é interrompida, pois os sensores da Enterprise detectam uma nave em movimento lento. O M5 assume o comando e identifica a nave como sendo cargueiro de minério automatizado Woden. O M-5 muda entra em alerta amarelo e coloca a Enterprise em curso pra para interceptar a nave, acelerando para dobra. Nenhuma das tentativas da tripulação de obter controle da Enterprise tem sucesso. Daystron é chamado a ponte, mas não consegue agir a tempo, e em seguida então ataca a nave destruindo-a, embora não representasse absolutamente nenhuma ameaça à Enterprise, e então retoma seu curso anterior. Daystrom ainda tenta fazer parecer um problema menor, mas Kirk está convencido do contrário.

Ele, Spock e Scott vão para a engenharia e Kirk tenta se aproximar da M-5 para desligá-la, mas é repelido por um campo de força descobrindo que a unidade M-5 também se protegerá e não permitirá que seja desligado. Kirk está furioso agora. Ele exige que Daystrom desligue a unidade, mas Daystrom insiste que que são “dificuldades menores que serão corrigidas”, mas o capitão está decidido a interromper o teste. Kirk manda Scott tentar novamente cortar sua energia, mas quando o Alferes Harper se move para cortar a energia, o M-5 faz uma conexão direta com os motores de dobra pegando o alferes no feixe de energia, que é instantaneamente vaporizado.

Chocado e enfurecido, Kirk repreende Daystrom por ser incapaz e não querer desativar o M-5. Daystrom continua a desculpar o comportamento do M-5, insistindo que o alferes apenas se colocou no caminho e que sua morte não foi um ato deliberado. Kirk questiona Daystrom perguntando quanto tempo vai demorar até que todos simplesmente atrapalhem o M5.

Os três se dirigem a sala de reuniões deixando Daystron na engenharia. Lá Spock e Scotty informam que o M5 segue aumentando seu controle sobre todos os sistemas da nave. Faltando uma hora para o ponto de encontro com as demais naves Kirk esta consciente que precisa recuperar o controle até lá. Eles elaboram um plano a partir de uma sugestão de Spock que afirma ser possível realizar a tarefa a partir de uma área específica da engenharia concentrando-se em uma determinada unidade de retransmissão entre o M-5 e a ponte. Scotty concorda com o plano e segue com o plano com a ajuda de Spock.

Enquanto isso McCoy vai até Daystrom e mais uma vez o confronta em relação a unidade, mas esse segue defendendo o M5, comparando-o a uma criança Daystrom que está aprendendo e, além disso, que o avanço que o M-5 representa libertaria o homem de tarefas perigosas como viajar através do espaço e consequentemente salvando vidas. Enquanto o primeiro oficial e o engenheiro seguem trabalhando McCoy leva a Kirk a fica de Daystron, considerado o maior gênio de sua época, mas que obteve reconhecimento muito cedo, aos 24 anos, cedo, mas que jamais conseguiu outro sucesso, o que pode estar tentando agora desesperadamente.

McCoy observa a Kirk que Daystrom reage ao computador como um pai faria com seu filho. Mesmo que a criança se tornasse antissocial e matasse uma pessoa, um pai protegeria a criança. Spock e Scotty concluem a atividade sob protesto do cientista, mas Kirk, mas Sulu e Chekov relatam que não teve sucesso. Eles percebem que M-5 havia redirecionado os controles enquanto deixava o relé em que estavam trabalhando ativo como isca.

Spock observa o comportamento ilógico da unidade M-5 o que faz Kirk interpelar Daystrom a respeito da “nova abordagem” que disse aplicar em sua criação. Ele então explica desenvolveu um método imprimir “engramas” humanos nos circuitos de forma a fazer com que ele “pense” como um ser humano. ” Os relés não são diferentes das sinapses no cérebro “, explica Daystrom ao Capitão Kirk. ” M-5 pensa, capitão. Uhura relata as quatro naves da Federação como parte do exercício de guerra programado, mas agora Kirk teme que a M-5 não trate isso como um exercício. À medida que o exercício de jogos de guerra começa, o M-5 impede toda a comunicação.

A Lexington, Excalibur, USS Hood e USS Potemkin estão se aproximando. Daystrom garante que o M-5 tratará isso como um exercício, mas então o M-5 ataca o Lexington e o Excalibur com todas as armas em potência máxima, paralisando o Excalibur e matando toda a sua tripulação no processo. Apesar de saber que o M-5 teria controle tático e funcional total da Enterprise, o Comodoro Wesley culpa Kirk pelo ataque. Quando Wesley não consegue contatar a Enterprise por rádio, ele solicita aprovação do Comando da Frota Estelar para destruí-la.

Agora que o M-5 cometeu assassinato, Kirk confronta Daystrom, convencendo-o de que o M-5 está fazendo mais do que o projetado originalmente. Ele exige que Daystrom tente argumentar com o M-5, e Daystrom admite que foram seus próprios engramas que ele imprimiu na máquina. No entanto, ele enlouquece no esforço, percebendo que sua reputação está em jogo. Em seu delírio, Daystrom ataca violentamente Kirk, mas é subjugado por Spock que aplica nele a “pinça” Vulcano deixando o inconsciente.

McCoy leva Daystrom para a enfermaria, e Spock observa que a autopreservação que o M-5 está demonstrando é provavelmente uma consequência da impressão do engrama de Daystrom. Ao ouvir que a Frota Estelar concordou que Wesley pode destruir a Enterprise, o próprio Kirk fala com o computador, tentando fazê-lo reconhecer sua responsabilidade nas mortes de centenas de pessoas, já que não há mais leituras de vida na Excalibur, e lembrando-o da pena por assassinato. Sentindo o arrependimento de Daystrom pelas mortes, a voz computadorizada do M-5  declara que “Esta unidade deve morrer”.

O M5 se auto desliga derrubando os escudos defletores e deixando-se aberto a ataques para expiar seu crime. Spock e Scott então desconectam o computador do controle da nave. Com as comunicações não totalmente restauradas, Kirk ordena que os escudos sejam mantidos abaixados, apostando que Wesley será compassivo e cauteloso, e interromperá a batalha. Com certeza, Wesley o faz, para o alívio da tripulação.

Dr. Daystrom, enquanto isso, é cuidado na enfermaria sob sedação e forte contenção para aguardar transferência para uma unidade de reabilitação total, sob recomendação de McCoy. Kirk ordena que Sulu trace um curso de retorno para a Base Estelar 6. Sulu o faz, e a Enterprise parte pelo espaço.

Comentários

Desde a primeira revolução industrial em meados do século XVIII, quando milhares de artesãos e camponeses deixaram suas ocupações e passaram a ser operários nas fabricas o tema da mecanização e da substituição do homem pela máquina, ou pela tecnologia, foi posto à mesa para nunca sair. Desde os primeiros escritos de Friedrich Engels sobre o tema , como A Situação da Classe Trabalhadora em Inglaterra (1845), até publicações recentes que versam sobre o impacto da Inteligência Artificial nos dias de hoje, como A Próxima Onda (2023), de Mustafa Suleyman e Michael Bhaskar, o impacto da tecnologia em nossa vidas desperta curiosidade, esperança e medo, o tema não passu desapercebido por Jornada nas Estrelas.

Apesar das idiossincrasias comuns ao universo da Serie e do efeito da passagem do tempo que podem à primeira vista fazer parecer anacrônico o tratamento dado ao tema nesse segmento, “The Ultimate Computer“, ainda é uma obra capaz de inspirar o debate e discussões sobre esse espinhoso assunto.

Ainda que aqui por uma necessidade da narrativa o segmento personifique o dilema no personagem do capitão James Kirk, que se mostra a pessoa mais incomodada pela possibilidade de ser substituído por um computador (notem que o comodoro Wesley não demonstra ter consciência que se a experiência com o M-5 obtiver Sucesso, ele será tão “dunsel” quanto Kirk) é fácil estender os efeitos desse notável avanço tecnológico para além desse elemento.

Talvez essa falta de percepção seja diagnosticada por McCoy quando ele diz a Kirk “Todos nós sentimos muito pelo outro cara quando ele perde o emprego para uma máquina. Quando se trata do seu emprego, é diferente”. Assim como no século XVIII, na década de 60 ou nos dias atuais, a questão do avanço tecnológico e da consequente redução de oportunidades para os meros humanos é sempre relegada a um detalhe técnico quando não se esta do lado de quem vai “perder” o emprego.

E certamente perderá. Mas isso não torna o avanço tecnólogo o mal em si, pelo contrário. A tecnologia que no cenário ficcional de Jornada nas Estrelas permitiu ao homem alcançar as estrelas permite no mundo real alimentar bilhões de pessoas, criou vacinas e antibióticos que reduziram de forma inimaginável a taxa de mortalidade, viagens intercontinentais em horas, fornece informação instantânea sobre qualquer assunto ao redor do globo entre milhares de outros avanços que atualmente a humanidade acha comuns e corriqueiros.

A fala de Daystron apesar de vir um homem com estado mental desequilibrado, ainda assim é verdadeira: “Os homens não precisam mais morrer no espaço ou em algum mundo alienígena. Os homens podem viver e alcançar feitos maiores”. Sim, o avanço tecnológico é bem-vindo, necessário, e principalmente, uma característica humana desde que o primeiro machado de mão feito de pedra lascada foi produzida a 2,6 milhões de anos atras. Logo, impedir esse avanço não só não é desejável como impossível. Assim como é impossível para um segmento de menos de uma horar versar sobre esse assunto de forma conclusiva, mas sem duvida o simples fato de trazê-lo a discussão no uma abordagem clássica do sci-fi de qualidade, tanto que ainda com os ajustes necessários o tema segue mais vivo e atual do que nunca, o que prova o acerto de sua escolha.

Essa é mais uma história que demonstra de forma inequívoca que a quando a dinâmica do grande trio encaixa o resultado é maior que a soma das partes. Aqui, apesar da participação mais perceptível de Scotty, Kirk, Spock e McCoy mais uma vez são os elementos que dão sentido a intenção da história, senão vejamos.

O capitão Kirk é o primeiro a demonstrar seu incomodo e insatisfação de forma clara, que não só como protagonista, mas como personificação do herói clássico tem como efeito imediato colocar o M-5 não apenas como uma máquina definida por sua função, mas como antagonista, mas embora Kirk seja aqui um elemento a serviço da história ele também representa a humanidade ameaçada, e aqui se estabelece não só a disputa Kirk (herói) x  M-5 (vilão) mas a disputa Homem X Maquina.

Na outra ponta do triangulo vamos encontrar Spock, que logicamente (sem ironia aqui) está inclinado não a defender o M-5, mas a experiência em si, que pode em sua análise trazer realmente benefícios reais. Esse posicionamento faz total sentida para a “persona” estabelecida pelo personagem e coloca o vulcano em uma posição no mínimo desconfortável para a audiência uma vez que quase faz de Spock um oponente a Kirk.  Essa posição também reforça sutilmente a solidão do personagem, único a bordo além de Daystron disposto a dar algum credito a experiência.

E finalmente McCoy, que também de forma consciente com seu personagem também demonstra desconforto com a situação, que embora encare o assunto de forma menos pessoal do que Kirk desde o início deixa transparecer a sua falta de apreço peio que se pretende realizar.

Mas essa dinâmica que se estabelece no início vai se alterando gradativamente ao longo do segmento. Kirk, a princípio cético, pouco a pouco e a cada aparente sucesso do M-5 vai mudando seu comportamento de reatividade para resignação, chegando a um breve momento em que está disposto a uma tentativa de compreensão de Daystron e sua criação. Por outro lado, Spock faz o caminho inverso, ao notar que a unidade apresenta problemas bem como seu criador e vai de mudando de atitude à medida que os fatos vão se mostrando irrefutáveis até que ele não tem duvida de que o M-5 não faz o que foi projetado para fazer, se tornado um grande risco.

Mas se o comportamento de ambos para quem conhece esses personagens é previsível, e em McCoy que encontramos maior potência transformadora nesse segmento. Se persona de Kirk sempre foi heroica e a de Spock estoica, McCoy sempre representou a paixão, precisando eventualmente ser impedido por Kirk ou Spock. Mas aqui mesmo sem abandonar sua característica marcantemente visceral e apaixonada é ele o personagem que de início mantem a mente analítica a sua maneira, questionando os argumentos de Spock (e consequentemente os argumentos as favor da tecnologia sobre o homem) e apoiando Kirk quando esse se sente impotente, se colocando não só como amigo de Kirk, mas como defensor dos princípios básicos que definem as características que nos definem como seres humanos.

Observando outros segmentos, Spock é Superego e McCoy Id, enquanto Kirk age como Ego, mas aqui o doutor toma esse papel e age como o elemento que busca conectar Id e superego a realidade. Tal alteração na dinâmica é realizada de forma sutil e eficiente pelo roteiro e permite um olhar diferenciado para essa relação que sempre que funciona entrega um bom segmento.

Não é necessário dizer que Shater, Nimoy e Kelley entregam mais uma ótima performance em seus personagens, mas também é preciso aplaudir a participação do convidado da semana, William Marshall como Dr. Daystrom, bem como aplaudir a opção de colocar um ator negro no papel de um dos maiores gênios da Federação. Ainda que o personagem tenha tido uma jornada infeliz essa escolha é notável dado o contexto vigente na época em que se esse segmento foi ao ar pela primeira vez.

E Marchal não decepciona entregando uma atuação muito competente no papel de cientista brilhante, mas que se deixa cegar pela própria ambição. Mas Daystron não é o mero vilão da semana capaz de tudo para dominar o mundo. Ele tem como premissa salvar vidas humanas e no processo acaba se conectando a M5 como um pai a um filho.

Esse sentimento confere ao Doutor uma dualidade que tornam o personagem bastante interessante. Para além do talento a envergadura do ator, bem como sua voz potente contribuem para potencializar sua atuação, que consegue apesar da sua arrogância inicial, compor exemplo na cena em que ele faz questão de solicitar a avaliação do M-5 sobre a não seleção de Kirk e McCoy para um grupo avançado, já antevendo a resposta, consegue ainda angariar um pouco de empatia ao final do segmento quando seu colapso demonstra a sua verdadeira posição de fragilidade, resultado da sua frustração em busca do reconhecimento perdido.

Quanto aos demais atores há pouco a se dizer sobre eles aqui. Uhura, Chekov e Sulu se limitam aos botões e frases secundarias de costume, sem interferência direta na trama, e mesmo Scotty que aparece bastante não tem material com peso relevante para a trama.

Apesar do modelo Botton Show facilitar a tarefa da produção do episódio, o Diretor John Meredyth Lucas consegue um bom resultado aqui e tenta usar o que pode para mostrar a Enterprise vazia. Como exemplo ele lança mão de um não usual plano sequência gravando uma caminhada que começa na saída do elevador e segue até a entrada da engenharia, tomada incomum na serie clássica. Também usa o recurso do som, criando um eco nas vozes dos personagens quando esses estão na engenharia a fim de proporcionar a sensação de amplidão e esvaziamento devido à ausência dos demais tripulantes, mas há pouco mais a fazer do ponto de vista de direção para potencializar o episódio.

Um ponto que pode suscitar questionamentos a respeito da história é a forma como o tal teste é realizado. Dada a importância, ineditismo e perigo potencial que tal experencia apresentam colocar a Enteprise “de surpresa” em tal empreendimento, sem uma mínima preparação previa não é algo crível, principalmente se levarmos em conta a facilidade e rapidez com a qual o M-5 foi quase que instantemente acoplado a nave para realizar uma operação tão complexa. Também parece um exagero colocar uma força tarefa de quatro naves com as mesmas capacidades da Enterprise para realizar exercícios de combate, uma situação absolutamente desproporcional.

Ainda no pacote das inconsistências o episodio deixa transparecer que os únicos responsáveis pela avaliação de eficiência dessa experiência são a pessoa diretamente interessada em provar a eficiência do equipamento, e dos outros aqueles que serão substituídos se a experiência for um sucesso, algo no mínimo pouco confiável dado o envolvimento de ambas as partes.

Como complemento, ao ser atacado pela Enterprise não faz sentido Wesley atribuir a Kirk e não a um mal funcionamento da experiência o ataque sofrido por sua frota, bem como a decisão de retomar o ataque a Enterprise com as naves restantes, quando o sensato seria recolher a frota a um distância segura e tentar entender o que estava ocorrendo. Claro que todos esses itens são uma marca da época em que essa história foi pensada bem como uma necessidade da trama para que ela funcionasse em seus termos produzindo os efeitos necessários, mas ainda assim se faz necessário esse registro.

Por último, a ideia do confronto, infelizmente de fim trágico para a Excalibur é um dos raros momentos na Serie Clássica onde o conceito de uma Frota ganha contornos perceptíveis graças a menção das quatro naves estelares que citadas no segmento.

Nesse ponto o trabalho de remasterização ajuda bastante a revitalizar o episódio, uma vez que na versão original o que vemos são quatro frames da Enterprise colocadas em quadrante que era a solução possível de encaixar no orçamento a época, mas que assistida hoje é uma cena quase risível. A remasterização realizada nessa cena e demais “externas” são muito bem-vindas aqui.

Como “solução final” desse segmento, Kirk e o Comodoro Wesley reafirmam o ideal humanista da Serie Clássica, quando o primeiro coloca a sua vida e de seus comandados em segundo plano para poupar as naves restantes de um eventual massacre, e quando o segundo ao perceber uma oportunidade de destruir a Enterprise resolve não fazê-lo, duas ações claramente opostas ao que faria uma máquina como M-5 que colocou sua própria sobrevivência em primeiro lugar, fazendo de “The Ultimate Computer” apesar de todos os seus anacronismos, um segmento ainda hoje relevante e uma boa hora de entretenimento.

Avaliação

Citações

“You’ve got a great job, Jim. All you have to do is sit back and let the machine do the work.”
(Você tem um ótimo trabalho, Jim. Tudo o que você precisa fazer é sentar e deixar a máquina fazer o trabalho.)
Comodoro Wesley

“The most unfortunate lack in current computer programming is that there is nothing available to immediately replace the starship surgeon.”
(A falha mais lamentável na programação de computadores atual é que não há nada disponível para substituir imediatamente o cirurgião da nave estelar.)
Spock

“There are certain things men must do to remain men. Your computer would take that away..”
“There are other things a man like you might do. Or perhaps you object to the possible loss of prestige and ceremony accorded a starship captain. A computer can do your job and without all that.”
( Há certas coisas que os homens devem fazer para permanecerem homens. Seu computador tiraria isso deles..)
(Há outras coisas que um homem como você poderia fazer. Ou talvez você se oponha à possível perda de prestígio e cerimônia concedida a um capitão de nave estelar. Um computador pode fazer o seu trabalho e sem tudo isso.)
Kirk  e Daystron

“We’re all sorry for the other guy when he loses his job to a machine. When it comes to your job, that’s different. And it always will be different.”
(Todos nós sentimos muito pelo outro cara quando ele perde o emprego para uma máquina. Quando se trata do seu emprego, é diferente. E sempre será diferente.)
McCoy

Trivia

  • O roteiro desse episódio foi escrito por DC Fontana baseado na história de Laurence N. Wolfe, um professor de matemática fascinado por computadores  que foi apresentado a Gene Roddenberry por Ray Bradbury, de quem era amigo.
  • Barry Russo, o Comodoro Bob Wesley já havia trabalhado no episódio “ The Devil in the Dark “, da primeira temporada quando interpretou o chefe de segurança Giotto
  • Esse episódio reúne novamente a dupla Sulu e chekov após a ausência de George Takei que se ausentou em vários episódios para gravar o filme “Os Boinas Verdes” (The Green Berets) estrelado por John Wayne..
  • Na conversa com McCoy Kirk cita um trecho do poema “Sea-Fever” de John Mansfield. Ele o recita novamente em Star Trek VI: The Undiscovered Country a. Quark o parafraseia em ” Little Green Men” e o poema aparece na placa de dedicatória da  USS Enterprise A e  USS Defiant . “
  • William Marshall ( 19 de agosto de 1924 – 11 de junho de 2003 ; 78 anos) é conhecido por interpretar o papel-título do melodrama cult de vampiros de 1972, Blacula (Blacula, o Vampiro Negro – BR), filme do gênero suspense e terror que fez parte do movimento Blaxploitation, caracterizado por filmes independentes e de baixo orçamento, dirigidos principalmente a audiências negras, marginalizadas pelas grandes produções hollywoodianas
  • Spock menciona que não há nada na tecnologia do século 23 que substitua o oficial médico de uma nave estelar. A serie Voyager introduziria o de Holograma Médico de Emergência (HEM) a partir do século 24.
  • Esta é a quarta vez que Kirk ganha de um computador na conversa . Ele usou a mesma tática em “The Changeling“, “The Return of the Archons“, e “I, Mudd“.

Ficha Técnica

História de Laurence N. Wolfe
Roteiro por DC Fontana
Dirigido por John Meredyth Lucas

Exibido em 08 de março de 1968 

Título em português: “O Computador Supremo” (AIC-SP), “O Computador Supremo” (VTI-Rio)

Elenco

William Shatner como James Tiberius Kirk
Leonard Nimoy como Spock
DeForest Kelley como Leonard H. McCoy
James Doohan como Montgomery Scott
Walter Koenig como Pavel Andreievich Chekov
Nichelle Nichols como Uhura
George Takei como Hikaru Sulu

Elenco convidado

William Marshall como Dr Richard Daystrom
Barry Russo como Comodoro Wesley

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Edição por Ricardo Delfim e Carlos H B Santos

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