DS9 1×01: Emissary

Piloto dá introdução sensível e coerente para personagens e ambiente de DS9

Sinopse

Data estelar: 46379.1.

Durante a batalha de Wolf 359, o comandante Benjamin Sisko perdeu sua esposa, tendo sido obrigado a cuidar sozinho de seu único filho, Jake. Três anos depois, ele é ordenado a seguir para a Deep Space Nine, uma velha estação de mineração cardassiana em órbita de Bajor, planeta que passou as últimas décadas sob a cruel jurisdição de Cardássia.

A Federação administraria a estação, atendendo a um pedido do governo provisório bajoriano, para ajudar a proteger e a reconstruir o planeta devastado.

Após se encontrar com a líder espiritual local, kai Opaka, Sisko sai à procura do “Templo Celestial dos Profetas”. O que ele encontra é um buraco de verme, a “Fenda Espacial”, que liga a região de Bajor ao Quadrante Gama, do outro lado da galáxia.

No interior do fenômeno, vivem estranhos alienígenas. Após contatá-los, o comandante Sisko consegue fazer com que a passagem permaneça aberta em definitivo, trazendo nova importância econômica e cultural para Bajor e a Deep Space Nine.

Comentários

E lá se vão mais de 28 anos e este continua sendo o melhor piloto de toda a franquia de Star Trek. Uma excelente história, completamente fiel à tradição de Jornada, mas que trilha os seus próprios caminhos. Uma construção de mundo pensada para além do que é mostrado em tela, com grande atenção aos detalhes e personagens muitíssimo prontos por conta disso tudo. Foram tantos os riscos tomados com relação ao entendimento anterior do significado da marca na época que o final do segmento não traz a mera noção de que Star Trek pode ser uma estação espacial à beira de um portal estelar, mas sim de que Star Trek pode ser virtualmente qualquer coisa. E essa é a maior contribuição da série para a sua franquia mãe.

Sisko e o seu filho Jake formam o coração da série, é deles o relacionamento raiz que inspirou todos os demais. A velha história do pai e do seu filho que vão morar num forte do oeste bravio sofre uma repaginação. Todas as esperadas figuras estão lá, mas projetadas em um cenário de ficção científica. A jornada de Sisko é extremamente pessoal, atingindo o seu clímax em uma espécie de sessão de terapia com os seres quadridimensionais que criaram e habitam o buraco de minhoca. A partir dali, na série, ele (vagarosamente) aceitaria o seu papel como o emissário dos profetas e ajudaria a curar Bajor.

A mitologia bajoriana guarda pontos de similaridades com aspectos de 2001, Duna e Solaris entre outras obras . Se incluirmos o grande elo do povo de Odo nessa equação, a conexão com Solaris fica reforçada. Mas, mais do que tudo, este piloto se parece com Star Trek, Star Trek desde sempre, desde os tempos em que ela tinha outros nomes, como Forbidden Planet. Em seu DNA, jaz a tácita promessa de que, por mais novos que sejam os estranhos mundos, as formas de vida e as civilizações que encontrarmos, sempre acharemos conjuntamente um espelho que (para o bem ou para o mal) reflita uma importante parte de nós. DS9 segue essa tradição.

(Por outro lado, lembramos dos profetas e afins quando assistimos à série Defying Gravity, de 2009, e ao filme Arrival, de 2016, entre outras produções.)

O`Brien, o homem comum de Star Trek, recepciona Sisko, o que acaba por sublinhar os aspectos de homem comum do comandante em momentos absolutamente mundanos: o chefe vira ligeiramente de costas quando Ben age de modo paternal com Jake e menciona que a sua esposa (convenientemente) decidiu visitar os próprios pais ao ver o estado decrépito dos aposentos do casal. Mais tarde, no OPS, O`Brien dispara frases estilo Scotty, chuta os equipamentos para que eles funcionem, conversa com o computador e opera a estação como uma nave até a borda do recém descoberto buraco de minhoca (esse último ponto provavelmente se encaixa no limite do soft sci-fi típico de Star Trek, mas festejamos que ele nunca tenha sido revisitado)… E, é claro, boa parte desse carnaval funciona pela excelência de Meaney.

Kira, ao longo da produção, se estabeleceu como “A” lutadora pela liberdade de toda Star Trek. Ativa na defesa do seu povo desde o dia em que adquiriu coordenação motora suficiente para empunhar uma arma, ainda pré-adolescente. E, em um dos grandes triunfos narrativos da série, ela acabou ajudando (ao final do seu arco) a libertar o planeta dos seus antigos opressores… Uma ex-terrorista como regular de uma série de Star Trek? Não é à toa que os fãs não tinham ideia do que estava acontecendo em 1993 (alguns ainda não têm)… Obviamente, ela apoiou os governos democráticos locais pós-ocupação cardassiana (por isso o “ex” acima), ainda que sempre estivesse ativa no expurgo de qualquer eventual corrupção… E, nos termos desse preâmbulo, ela (impecavelmente escrita) aqui recebe a Frota Estelar em sua terra natal desconfortável, desconfiada e com um pavio literalmente não existente. A atuação de Visitor foi ajustada com o tempo, pois foi notado que a atriz era, por demais, naturalmente efervescente e forçar ainda mais esse aspecto não seria recomendado.

Odo nasceu com uma caracterização virtualmente perfeita (atitude abrasiva, humor e senso de justiça) e a atuação do saudoso Auberjonois é a melhor da turma, mas aqui tivemos como real desenvolvimento apenas uma peça de exposição apressada e desajeitada (porém intrigante).

Curiosamente, a primeira coisa que Sisko fez ao tomar o comando foi chantagear Quark (que iria deixar a estação caindo aos pedaços no dia seguinte) para ficar e servir como uma espécie de líder comunitário e ajudar a revitalizar o Promenade. Sisko manteve preso Nog (o sobrinho de Quark) por uma ofensa menor até o bartender concordar. Ou seja, a primeira coisa que Sisko fez foi prender Nog (o saudoso Eisenberg) e (como veríamos) a última foi promovê-lo a tenente ao final da série. Ainda sobre Quark, é curioso observar que uma das últimas cenas do presente episódio envolve Kira dando uma bronca no ferengi por causa de jogos no seu bar, o que também é verdade para o último episódio de toda a série…

Jadzia Dax, desde a sua origem, foi a personagem mais complicada da série, seja pela dificuldade de a produção saber o que fazer com ela, seja pelas limitações da atriz. Pensar mais em termos do simbionte Dax do que em Jadzia alivia um pouco esse problema, pois, afinal, o “meu velho” é o simbionte. Outro ponto que ajuda nessa linha é pensar mais em metáforas de reencarnação do que em metáforas LGBT+ (não que estas precisem desaparecer). Esse é o caminho, meio que repaginado pela retrospectiva, que nós tomaremos: o personagem é o simbionte Dax e as metáforas têm mais a ver com reencarnação. Aqui Jadzia foi leve, explorando humor via costumes e teve como bônus a cena da última cirurgia de transplante do simbionte (de Curzon para Jadzia).

Bashir, entre a sua instantânea e atabalhoada obsessão por Jadzia e a sua inércia no OPS com a estação sob ataque, não teve uma boa estreia. O seu discurso sobre querer atuar em uma terra selvagem (a terra natal de Kira, por falar nisso) é absurdo e bonitinho, mas só.

Dukat teve uma estreia arrasadora. Reparem em como a sua linguagem corporal meio que comenta sobre a “ousadia” de Sisko tomar o seu posto (de comandante da estação outrora Terok Nor), enquanto as suas palavras soam algo diplomáticas… É fascinante o seu urgente interesse nos orbes (ele tinha oito e os bajorianos, apenas um, na época), em seu poder, pensado aqui por ele como algo tecnológico. Um verdadeiro anti-Sisko desde sempre. E mais algumas castanhadas:

Viver a batalha de Wolf359 (nunca mostrada em tela até então), na qual um solitário cubo borg (comandado por Locutus, o capitão Picard assimilado) dizimou toda uma armada federada, foi muito excitante na época, mas retrospectivamente nem tanto, por conta da aberrante dinâmica do conflito de naves visto em tela (as cenas internas da sequência inicial continuam funcionando, talvez retirando os trabalhos de dublês e alguns efeitos ópticos). Entretanto, a cena em que Sisko vê pela janela a Saratoga ser destruída é um clássico instantâneo da atração.

A famosa (primeira) cena entre Sisko e Picard é claramente uma boa cena para o segundo (na esteira da sua complicada relação com os borgs) e, por contraste, para o primeiro também. Explicando: foi tomado o cuidado (isso não foi acidental) de apresentar Sisko nas demais cenas como alguém extremamente profissional e, ao mesmo tempo, suave em suas atitudes, somente o retirando do seu centro ao tratar do assunto Jennifer. Ele tinha um aspecto da vida a ser resolvido, não toda ela.

A melhor aposta após todos esses mais de 28 anos ainda é que os profetas encontraram Sisko e depois o criaram (ou o modificaram?).

Bônus (DS9AR) (DS9 Anime Reboot): Que tal reimaginar Deep Space Nine? Reimaginar de uma maneira mais orgânica e mais autocontida em relação ao resto da franquia? Por exemplo, todo o material envolvendo borgs/Enterprise/Picard e afins aqui parece pedir por uma reimaginação… Que tal substituir os borgs pelos tzenkethi? Sisko seria, então, o primeiro oficial da Saratoga e o almirante Leyton seria o oficial comandante da armada federada. Seguindo com a morte de Jennifer, sim, mas frente a um inimigo alienígena que poderia ser reutilizado na série (inclusive com um ou mais indivíduos tzenkethi que poderiam ser reutilizados). O primeiro episódio (“Father”) trataria dessa batalha e de todo o processo dali até Sisko finalmente aceitar o comando da Deep Space Nine. Além de Leyton, apareceriam pelo menos: Carl Hudson, Curzon Dax e Joseph Sisko. O segundo episódio (“Emissary”) contaria (de modo muito mais econômico) da descoberta do buraco de minhoca sem muitas modificações em relação ao original.

Avaliação

Citações

“I can not give you what you deny yourself.”
(Não posso dar o que você nega a si mesmo.)
Kai Opaka

“You are a gambler… and a thief!.”
“If I am, you haven’t been able to prove it for four years!”
(Você é um jogador… e um ladrão!)
(Se eu sou, você foi incapaz de provar em quatro anos!)
Odo e Quark

Trivia

  • O episódio abre com cenas da batalha de “Wolf 359” que foi referida, mas não mostrada, no episódio de A Nova Geração “The Best Of Both Worlds”.
  • A introdução do personagem gul Dukat (vivido por Marc Alaimo), antigo comandante da estação (naquela época ainda chamada de Terok Nor) quando da ocupação cardassiana: Dukat é o grande vilão da série.
  • A introdução de Morn (Mark Allan Shephard), o mascote da série: Mark nunca proferiu uma linha de roteiro sequer, sendo, por isso, sempre pago como um “extra”, apesar de ser uma piada recorrente na série o fato de Morn “falar demais”, mas sempre fora de cena.
  • A introdução do sobrinho de Quark, Nog (vivido por Aron Eisenberg), e do irmão de Quark, Rom (vivido por Max Grodénchik): de fato, Armim e Max foram os finalistas para o papel de Quark. Armim ficou com o papel de Quark e Max, com o de Rom.
  • A presença de Felecia M. Bell como Jennifer Sisko, que voltaria à série ainda por mais duas vezes como a contraparte de Jennifer do Universo do Espelho, visto pela primeira vez no episódio da Série Clássica“Mirror, Mirror”.
  • Os runabouts (traduzidos por “exploradores”) “Rio Grande” (o famoso “runabout indestrutível”, que sobreviveu às sete temporadas da série), “Yangtzee Kiang” e “Ganges” são introduzidos neste episódio.
  • Picard diz claramente que a missão de Sisko é promover a entrada de Bajor na Federação sem violar a Primeira Diretriz.
  • Dos nove orbes (“Lágrimas dos Profetas”) enviados pelos profetas, oito estão em poder dos cardassianos, segundo kai Opaka.

Ficha Técnica

História de Rick Berman e Michael Piller
Roteiro de Michael Piller
Dirigido por David Carson

Exibido em 4 de Janeiro de 1993

Título em português: “O Emissário”

Elenco

Avery Brooks como Benjamin Lafayette Sisko
René Auberjonois como Odo
Nana Visitor como Kira Nerys
Colm Meaney como Miles Edward O’Brien
Siddig El Fadil como Julian Subatoi Bashir
Armin Shimerman como Quark
Terry Farrell como Jadzia Dax
Cirroc Lofton como Jake Sisko

Elenco convidado

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Camille Saviola como kai Opaka
Felecia M. Bell como Jennifer Sisko
Marc Alaimo como gul Dukat
Joel Swetow como gul Jasad
Aron Eisenberg como Nog
Stephen Davies como oficial tático da Saratoga
Max Grodénchik como Rom
Steve Rankin como oficial cardassiano
Lily Mariye como oficial do OPS
Cassandra Byram como oficial de manobra
Joah Noah Hertzler como capitão vulcano
April Grace como chefe de transporte da Enterprise
Kevin McDermott como um alienígena
Parker Whitman como um oficial cardassiano
William Powell-Blair como um oficial cardassiano
Frank Owen Smith como Curzon Dax
Lynnda Ferguson como Doran
Megan Butler como tenente
Stephen Rowe como um monge
Thomas Hobson como jovem Jake Sisko
Donald Hotton como um monge
Gene Armor como burocrata bajoriano
Diana Cignoni como uma garota do dabo
Judi Durand como voz do computador bajoriano
Majel Barrett como voz do computador da Federação

Balde do Odo


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Revisão de Nívea Doria

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