LDS 2×06: The Spy Humongous

Não temos capacete grande o bastante para resenhar este episódio

Sinopse

Data Estelar: 58105.1

Encontramos a Cerritos em órbita do Planeta Pakled, o criativo nome que os pakleds dão ao seu mundo-natal, onde Freeman e Shaxs se teleportam para encontrar o embaixador Grubdin, para negociar algum acordo que coloque fim aos incômodos ataques pakleds a rotas comerciais federadas. Enquanto se apresentavam, um pakled se aproxima e informa que os federados “roubaram” um de seus compatriotas, e Freeman conversa com Ransom na Cerritos, que confirma que um pakled acabou de chegar ali pedindo asilo. Isso irrita Grubdin, que afirma que a “capitão Janeway” ali (como o cara teima em chamar Freeman) vai ficar em custódia deles até devolverem o pakled.

Enquanto isso, o turno beta tem o seu café da manhã interrompido ao receber a tarefa do dia: consolidação de anomalias, para desespero de Mariner e Rutherford, e animação de Boimler e Tendi. A órion pergunta do que se trata, e Mariner explica que vão ser catadores de lixo glorificados, recolhendo todas as tralhas e amostras de anomalias que os oficiais superiores acumularam nos últimos tempos. Boimler diz para Tendi não dar ouvidos a eles sobre as críticas à tarefa e, no caminho do replicador, acaba caindo de cara em sua bandeja, fazendo Tendi morrer de rir.

Meio constrangido ainda, Boimler é interceptado por um grupo de quatro outros alferes no refeitório: Casey, Jennifer, Castro e um alferes kzinti. Os alferes dizem a Boimler que eles compõem um grupo informal chamado “Camisas Vermelhas”, em que se ajudam mutuamente a avançar em suas carreiras na Frota. Eles estão interessados em ter a participação de Boimler pela experiência que ele teve ao servir com Riker na Titan. O alferes fica animado em participar, ainda que lamente ter de abrir mão de participar da consolidação de anomalia com os demais.

Escoltando o exilado pakled pela nave, Ransom e Kayshon rapidamente se dão conta que o sujeito ali é apenas um espião, uma vez que Rumdar não é exatamente o lápis mais bem apontado do estojo, abertamente pedindo para ver como os escudos e o núcleo de dobra funcionam. Ransom informa Freeman da situação, que ordena os dois a darem corda a ele, para eventualmente usarem a panaquice do cara como uma vantagem tática. Ransom e Kayshon acompanham o pakled por parte inofensivas da nave, como a lojinha de lembranças, mas, em um dado momento, o sujeito some de vista.

A consolidação de anomalias prossegue na nave, com Tendi, Rutherford e Mariner zanzando por lá enquanto coletam os cacarecos e substâncias malucas dos laboratórios. Uma substância faz Rutherford engordar descontroladamente, outra o faz voltar ao normal. Mariner leva uma saraivada de espinhos de uma planta alienígena, é eletrocutada por um dispositivo misterioso, é grudada no teto de um laboratório por uma geleca estranha, e assim por diante, testando cada vez mais sua paciência, em contraste à animação da órion em realizar as tarefas.

Já Boimler está sendo tutelado pelos Camisas Vermelhas em como melhorar sua ginga de ser um oficial da Frota, enquanto fazem perguntas sobre o estilo de comando de Riker. Eles primeiro pensam em mudar a aparência de Boimler, e Jennifer dá um trato no penteado e no uniforme do alferes, estufando-o com um monte de enchimento e ombreiras. Ambos os grupos de alferes se esbarram nos corredores, onde Mariner começa a se irritar de verdade com a atitude positiva da órion.

Enquanto aguarda Ranson e Kayshon reencontrarem o maluco na Cerritos, Janew… quer dizer, Freeman pede para falar com o pakled que manda no local, e tem que enfrentar um crescente desfile de reis, rainhas e imperadores, ao ponto em que ela e Shaxs até testemunham uma revolução em andamento e um novo pakled tomando o poder, tudo em questão de minutos, para desgosto da federada.

Agora é a vez de Castro meter Boimler em uma oficina de dicção e aprendizado de discurso eloquente de comando, pelo jeito. Os alferes ressaltam a importância do lance, mas Boimler não consegue improvisar uma fala dessas de bate-pronto facilmente, até que finalmente faz um discurso bonito enquanto se imagina na ponte de uma unidade da classe Galaxy.

Boimler e os Camisas Vermelhas encontram novamente os três em consolidação de anomalias, e a atitude desdenhosa de Casey para com os alferes realizando aquele serviço incomoda Boimler, uma vez que são basicamente do mesmo posto e têm as mesmas tarefas, boas ou não. Nos aposentos do dr. Migleemo, Rutherford e Mariner deixam Tendi meio que se virando sozinha com as anomalias no local, um grupo de porcos selvagens que escaparam de um livro de contos de fadas, o que acaba com a alferes batendo em um frasco no carrinho de anomalias e uma lesma espacial solta, que imediatamente devora, digere e defeca Tendi, antes que Mariner conseguisse prender a lesma novamente.

Tendi começa realmente a surtar de raiva bem no momento que segura um cubo energético, com o troço criando uma sobrecarga à medida que ela vai desabafando a raiva que está sentindo por ter voluntariado o grupo para o serviço de consolidação de anomalias. Mariner e Rutherford tentam acalmá-la, mas ela acaba se transformando em um enorme escorpião e ataca os alferes ali, seguindo imediatamente para o refeitório, atacando tudo pelo caminho.

Boimler e os Camisas Vermelhas chegam ao local e decidem que algo precisa ser feito, mas Jennifer, Casey e Castro inventam de ficar dando discursos motivadores para a tripulação no local, provocando uma cacofonia de bobagens que tira Boimler do sério. Ele tenta acalmar a Escorpitendi e, depois de se atualizar do que houve com Mariner, descobre que ela ativou uma caixa de mudança de temperamento ataxiana, e já sabe o que fazer — ele começa a pedir ao replicador todo tipo de comida elaborada para reproduzir o acidente que teve de manhã que a fez dar risada, e a rotina de comédia pastelão que improvisa consegue acalmar a órion até que ela gradativamente volta ao normal.

Ransom e Kayshon acabam descobrindo onde Rumdar se meteu, quando o veem flutuar congelado fora da Cerritos, depois de confundir uma comporta de atracação com um banheiro. Depois de descongelarem o maluco na enfermaria, Ransom manda teleportarem-no de volta para o planeta, e a chegada dele ao local acalma os ânimos da revolução local, com o novo imperador pakled revelando para Freeman que ele na realidade era um espião. Freeman joga um xaveco furado nos pakleds que fazem eles mesmo revelarem seu plano de mandar uma bomba para a Terra, e os federados ali se despedem dos panacas congratulando-os por serem tão espertos.

No compartimento de carga, enquanto todo o material coletado é preparado para armazenagem de longo prazo, Mariner e Rutherford pedem desculpas a Tendi por terem sido tão agressivos com ela. Boimler acaba encontrando os Camisas Vermelhas e manda umas verdades para eles, dizendo que aquela pose toda não é realmente do que se trata ser um líder, o que faz com que Jennifer, Castro e o kzinti deixem aquela besteira de clube para trás. Ransom passa pelo local e ignora solenemente Casey (que fica implorando por poder bancar o capitão entre troca de turnos), enquanto cumprimenta Boimler pelo bom trabalho dele no refeitório em acalmar a transformada Tendi.

Mais tarde, Casey assume a cadeira de capitão por quinze segundos, antes que Shaxs chegue com a troca de turno na ponte, mandando o alferes ir limpar a comporta de atracação onde o pakled fez coisas indescritíveis. Antes de se prepararem para dormir depois de todo aquele conturbado turno, os alferes usam um pedregulho que Mariner guardou das anomalias para projetarem sua voz até o planeta Vagra II e aloprarem Armus com chacotas, sem dó nem piedade.

Comentários

“The Spy Humongous” foi um vetor para Boimler e Tendi. Foi, também, o exercício de aspectos mais básicos desses personagens, parte de como eram descritos quando a série foi anunciada: Boimler, o ambicioso, e Tendi, a deslumbrada. E foi também um momento até mais introspectivo de Lower Decks, trabalhando temas amplos de Jornada, mas utilizando elementos mais próprios a si mesma para isso.

No centro, tivemos discussão sobre temas recorrentes em Star Trek, como dever, liderança e anomalias malucas. Mas principalmente como essas questões são enfrentadas por nossos protagonistas. Primeiro, Boimler parece encontrar um grupo de oficiais que sente estarem na mesma frequência de onda dele: focados em suas carreiras e preocupados com os valores da Frota Estelar. Mas não demora para perceber que isso tudo tinha um parsec de largura, mas um metro de profundidade.

Foi interessante observar como Boimler foi se dando conta de maneira até mesmo rápida e segura de que aquilo tudo não passava de tentativa de coaching barato sem fundamento. Por exemplo, os Camisa Vermelhas querendo ensinar logo Boimler a ter retórica bonita para resolver tramas foi particularmente indicativo de que eles são quem deveria estar aprendendo com Boimler, e não o contrário. Não é a pose que faz do oficial da Frota o valioso explorador do espaço e defensor da Federação que tantas vezes já vimos retratados em episódios e filmes de Jornada. Essa postura, reputação e aura são consequências dos valores reais que fazem de alguém um adequado oficial da Frota, não a causa.

Agradou em particular o episódio não ter escorregado pela via barata de querer tirar algum humor de “Boimler tentaria esconder que está andando com os camisa vermelhas”, apenas retratando ele naturalmente com os demais alferes, reflexo de que as interações na nave não vão se limitar a uma proverbial panela dos protagonistas. Das duas tramas principais, foi aquela que teve o humor mais sutil, observacional.

Já com Tendi tivemos a trama com a pegada mais alucinada, balls-to-the-wall, que até era outro elemento que muitos especulavam que fosse ser parte integrante de Lower Decks quando a série foi originalmente anunciada (para o horror de muitos no fandom, que temiam algo exagerado). Contudo, temos visto que a equipe criativa tem feito um uso ponderado e pontual desse estilo, o que dá um equilíbrio bom à série como um todo. Foi interessante observar que, embora Rutherford seja muitas vezes retratado com o entusiasmo de Tendi, ele tem uma visão mais realista do serviço existente na Frota, sabendo que nem tudo são flores cantantes de Talos IV.

Mas Tendi, como já comentamos, foi muito descrita na pré-produção da série como sendo “um de nós se tivéssemos a chance de viver no universo de Jornada“, e isso se traduziu nesta trama como um entusiasmo e excitação por qualquer chance de interagir com qualquer anomalia maluca, como talvez faríamos no lugar dela.

Mariner e Rutherford aprenderam ao longo da trama a não descascarem suas frustrações na meiga órion, sob pena de, primeiro, magoar os sentimentos da colega e, segundo, levar uma das anomalias a transformarem a tripulante em monstro. Da mesma forma, eles também não devem dar as costas ao seu próprio senso de encantamento com o trabalho que têm a chance de realizar. Essa aqui foi a trama com o humor mais esculachado e zoador.

Como já estamos acostumados, a série entrega mais a respeito de personagens secundários, como é o caso do grupo de alferes dos Camisa Vermelhas. Jennifer se tornou figurinha carimbada, uma favorita do fandom devido ao feudo dela com Mariner e a inusitada (e muito bem-vinda) combinação de nome banal terráqueo com uma andoriana. Casey sempre foi muito presente na série até o momento, mas nada sabíamos dele até então, quando finalmente ele ganha um momento de destaque — uma situação semelhante à de Fletcher na primeira temporada, em “Terminal Provocations”. Já Castro havia sido apenas mencionada em “Envoys”, enquanto o alferes kzinti nem nome ganhou, mas é uma aposta segura que saberemos mais dele adiante.

O “problema principal” no episódio passou bem ao largo dos alferes, servindo principalmente como “trama C” para que a equipe da ponte tivesse bons momentos, ainda que com um toque de humor mais convencional. Destaque para Ransom, mais uma vez mostrando que, apesar da pose toda dele sugerir que seria alguém como Casey, na realidade ele sabe discernir perfeitamente o melhor e o pior nesse aspecto, quando ignorou a pose de Casey, mas elogiou a iniciativa e as ações de Boimler para salvar Tendi.

Aprendemos mais sobre os Pakleds, que se firmam como a “espécie antagonista recorrente” da série, e a escolha deles para isso é perfeita para Lower Decks — ameaçadores mas ineptos, e vindo diretamente da mitologia existente de Star Trek, ainda que de um daqueles episódios que quase ninguém lembrava mais que existiam. As capacidades naturais da animação em retratar civilizações grandiosas como poucas vezes possível na franquia funciona meio ao contrário aqui, mostrando um planeta capital que não parece precário, algo que seria mais de se esperar deles. Mas, da mesma forma, os pakleds têm a pinta de que curtem aquela estética exagerada ao estilo de Las Vegas.

Interessante considerar que Freeman e Shaxs testemunharam um rei, uma rainha e um imperador serem depostos por uma revolução pakled e mesmo assim no final o novo imperador se refere à “infiltração” de Rumdar como o plano deles o tempo todo. Ou são mesmo uns completos idiotas ou são jogadores de xadrez 7D. Não jogam bem, mas tentam.

No mais, um dos pontos altos do segmento foi largamente isolado dele, a trollada que o grupo de alferes protagonistas meteram no Armus. Mais um daqueles momentos totalmente vindos do nada que apenas Lower Decks pode entregar com a surpresa e humor adequados, e até mesmo sublinha mais um pouco daquilo que tivemos na trama com a Tendi, que é elementos e itens de alto poder serem tão banais no universo fictício de Jornada nas Estrelas que pessoas inseridas neles sentem-se à vontade o bastante para tratar alguns desses elementos como ferramentas para piadas.

Enfim, o que tivemos com “The Spy Humongous” foi mais um exemplo de que o mandato de Lower Decks não é o de ser uma série convencional de Jornada, mas sim fazer uso dos elementos convencionais individuais de Jornada em favor do humor e da ironia que ela deseja entregar. Essa é uma das razões pelas quais é fácil considerar que Lower Decks, tal qual produzida, poderia existir perfeitamente dentro do universo fictício de Star Trek como uma série animada retratando situações cômicas na Frota Estelar.

Avaliação

Citações

“You call yourselves Redshirts?”
“Cool name, right? Makes us sound invincible.”

(Vocês se referem a si mesmos como Camisas Vermelhas?)
(Nome legal, né? Nos faz soar invencíveis.)
Boimler e Castro, sobre o nome que usam no clube

“Welcome, Captain Janeway. Pakled Planet is big and strong.”
“Right. Well, I’m actually Captain Freeman of the Cerritos.”

(Bem-vinda, capitão Janeway. Planeta Pakled é grande e forte.)
(Certo. Bem, eu sou na realidade a capitão Freeman da Cerritos.)
Grubdin e Freeman, sobre a recepção da capitão no planeta pakled

“What happened? Did she touch a mysterious orb?”
“What? No. It was a cube.”
“Oh! Uh, I bet it was an Ataxian mood shifter. I’ve got this.”

(O que aconteceu? Ela tocou algum orbe misterioso?)
(O quê? Não. Era um cubo.)
(Ah! Uh, eu aposto que era um modificador de humor ataxiano. Já sei o que fazer.)
Boimler e Mariner, sobre o alferes tomar ciência do rolo com Tendi

“Rumdar could be anywhere. We never should have underestimated him.”
“Shaka?”
“Maybe we didn’t underestimate him.”

(Rumdar pode estar em qualquer lugar. Nós nunca deveríamos tê-lo subestimado.)
(Shaka?)
(Talvez nós não o tenhamos subestimado.)
Ransom e Kayshon, sobre notarem Rumdar flutuando no váculo do espaço fora da nave

“When I find you, I’m gonna kill you with a flake of my power! I am a skin of evil!”
(Quando eu encontrá-los, vou matar vocês com uma fração de meu poder! Eu sou a essência do mal!)
Amus, sendo trollado pelos alferes

Trivia

  • O momento em que o alferes kzinti demonstra postura ruim para Boimler se refere à forma como vimos os alienígenas dessa espécie no episódio “The Slaver Weapon”, da Série Animada.
  • Todo o preenchimento no uniforme de Boimler no episódio se refere ao costume que havia no figurino de A Nova Geração de ter uniformes com ombreiras nos atores.
  • Denise Crosby, intérprete de Tasha Yar, expressou sua satisfação no Twitter pelo fato de os protagonistas de Lower Decks vingarem sua morte diante da criatura Armus.
  • Você pode conferir todas as referências e easter eggs do episódio neste artigo de Maria-Lucia Racz no Trek Brasilis.

Ficha Técnica

Escrito por John Cochran
Dirigido por Bob Suarez

Exibido em 16 de setembro de 2021

Elenco

Tawny Newsome como Beckett Mariner
Jack Quaid como Brad Boimler
Noël Wells como D’Vana Tendi
Eugene Cordero como Sam Rutherford
Dawnn Lewis como Carol Freeman
Jerry O’Connell como Jack Ransom
Fred Tatasciore como Shaxs, Armus e alferes kzinti
Gillian Vigman como T’Ana e rainha pakled

Elenco convidado

Neil Casey como alferes Casey
Lauren Lapkus como alferes Jennifer
Gabrielle Ruiz como alferes Castro
Carl Tart como tenente Kayshon
Rich Fulcher como Grubdin, Rumdar e outros pakleds

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Edição de Leandro Magalhães
Revisão de Salvador Nogueira

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