TNG 7×19: Genesis

Acredite se quiser: a ciência é (quase) de verdade, o drama é de mentira

Data estelar: 47653.2.

Na enfermaria da Enterprise, Barclay aparece com um caso leve de gripe urodelana. Normalmente humanos são imunes, mas o tenente tem um gene dormente que o impede de reagir à doença. Crusher usa uma injeção de células T sintéticas para ativá-lo. Data chega na enfermaria com Spot – sua gatinha está prenhe e prestes a ganhar filhotes. E a enfermeira Alyssa Ogawa também revela que está grávida.

Na ponte, Worf promove o teste de um novo sistema de torpedos fotônicos em um campo de asteroides. Uma das novas ogivas acaba errando o alvo e saindo do alcance. Picard decide levar uma nave auxiliar para resgatá-lo, acompanhado por Data, que deixa Spot aos cuidados de Barclay.

Enquanto eles viajam, Worf começa a ficar mais e mais arredio, Riker parece cada vez mais lento, Barclay, agitado, e Troi, cada vez mais sedenta e friorenta. Enquanto a conselheira vai para seus aposentos e entra na banheira de uniforme, o klingon vai visitá-la e morde sua bochecha, num grotesco ritual de acasalamento. Quando Crusher vai examiná-lo, descobre que bolsas de veneno surgiram em seu pescoço. Ao abrir a boca, Worf envenena Crusher, que é seriamente ferida.

Após três dias de busca pelo torpedo perdido, Picard e Data retornam à Enterprise, mas encontram a nave à deriva, danificada. Há mais de mil formas de vida a bordo, mas com sinais erráticos. Ao embarcarem e irem aos aposentos de Troi, descobrem que ela se tornou parte anfíbia. Riker, por sua vez, virou um australopiteco. Data levanta a hipótese de que toda a tripulação está involuindo, com a reativação de trechos de DNA dormentes correspondentes a seus ancestrais evolutivos.

Cada pessoa, humana ou não, está manifestando genes diferentes reativados, e por isso cada uma está se transformando em uma criatura diferente. Na engenharia, Data e Picard encontram Barclay parcialmente transformado em um aracnídeo. O androide aponta ao capitão que ele também está infectado pelo vírus de íntrons (nome dado a sequências de DNA inativas) e passará por uma transformação.

Data também nota que, embora tenha virado um réptil, Spot teve filhotes felinos saudáveis, o que o faz pensar que elementos presentes no ambiente intrauterino para proteger fetos de vírus os fizeram escapar da doença. Para criar um tratamento para humanoides, eles precisam encontrar uma humana grávida. Data se lembra de Ogawa e ele e Picard vão atrás dela. Nisso, Worf, completamente transformado em um monstro protoklingon, tenta chegar até Troi, levada à enfermaria.

Picard extrai feromônios dela e os coloca em um hypospray, que usa para atrair Worf para longe, enquanto Data termina de sintetizar um contra-agente ao vírus de íntrons. Ao dispará-lo pelo sistema de circulação de ar da nave, ele consegue reverter o processo de transformação de todos a bordo.

Restituída à saúde, Crusher revela que a crise foi causada por um efeito colateral inesperado ao tratamento aplicado a Barclay. Por conta disso, ela decidira batizar a misteriosa infecção de Síndrome de Protomorfose de Barclay.

Comentários

“Genesis” se baseia em uma ideia fascinante – a de que todos os seres vivos têm em seu DNA trechos de genes de seus ancestrais evolutivos, ora inativados. Trata-se de fato científico, demonstrado de forma espetacular por cientistas americanos e britânicos em 2006, quando, manipulando a ativação genética de embriões de galinhas, eles os fizeram desenvolver dentes – uma capacidade perdida cerca de 80 milhões de anos antes, quando as primeiras aves começaram a se diferenciar de forma mais marcante dos antigos dinossauros terópodes, seus ancestrais.

Há de se admirar que Star Trek tenha mostrado algo assim – obviamente de forma exagerada e dramatizada – em 1994, quando este episódio foi produzido e exibido. No que diz respeito a ficção científica inspirada, não fica muito melhor do que isso. Infelizmente, não basta um conceito extraordinário baseado em ciência real para produzir um episódio interessante de televisão. Em sua execução, “Genesis” deixa muito a desejar, sem dar destaque ou profundidade a qualquer dos personagens principais ou secundários.

Claro, os atores devem ter se divertido ao interpretar versões animalescas de si mesmos, e mais ainda Gates McFadden, que escapou dessa para assumir a direção do episódio, mas a trama toda carece de sofisticação e, além de se perder um pouco nas minúcias (pseudo) científicas, tem um desfecho totalmente anticlimático, em que a tripulação é salva por um ação tão burocrática de Data que acaba nem mesmo ganhando tempo de tela.

Há que se destacar o bom trabalho de Michael Dorn, Marina Sirtis e Jonathan Frakes, com outra menção honrosa para o astro convidado Dwight Schultz, que criaram de forma muito efetiva os graduais maneirismos que separavam suas personas originais das criaturas que eventualmente se tornariam. Igualmente elogiável é o trabalho de maquiagem prostética, capaz de dar realismo e pavor em todas as transformações. Mas é inegável que algumas cenas levam ao riso, transcendendo o objetivo de ser uma peça de terror para virar comédia involuntária. É parte do que acaba sabotando o episódio.

Vemos mais uma vez a equipe de produção empurrando o relacionamento Worf-Troi, e novamente de uma forma truncada. É verdade que Worf e Troi aparecem fazendo uma refeição juntos no começo do segmento, o que sugere um vínculo antes que ambos começassem a se comportar de forma excessivamente não humana, mas o “rito de acasalamento” promovido pelo klingon ao ir até os aposentos dela pode ser quase totalmente colocado na conta do vírus. Parece uma insistência em criar uma tensão sexual subliminar constante entre os dois, algo que a imensa maioria dos fãs jamais viu nas atuações de Dorn e Sirtis até que os roteiristas começaram a forçar a mão, nesta sétima temporada.

A despeito disso, o que fica ao fim da história é a sensação de que nenhum personagem ganhou qualquer desenvolvimento durante essa aventura, cuja solução acabou restrita apenas a ações óbvias por parte de Picard e Data. É uma versão exagerada do clássico A Mosca, de 1986, mas sem a alma daquele filme.

Avaliação

Citações

“Well, Mr. Worf… let’s hope when you wake up, you’re a new man.”
(Bem, sr. Worf… esperemos que quando você acordar, seja como um novo homem.)
Jean-Luc Picard para um Worf transformado em protoklingon

Trivia

  • A versão final do roteiro ficou pronta em 7 de janeiro de 1994. Para facilitar o trabalho de Gates McFadden na direção, o roteiro determinava que Crusher fosse desfigurada por um ataque de Worf e colocada em suspensão animada – dando pouco tempo de tela para a personagem enquanto sua intérprete se ocupava atrás das câmeras.
  • Este é o único episódio da série dirigido por Gates McFadden, que se tornou a primeira atriz de elenco regular a dirigir uma série de Star Trek. A segunda só viria seis anos depois, com Roxann Dawson (B’Elanna Torres), em “Riddles”, de Voyager.
  • O chefe de maquiagem Michael Westmore descreveu este trabalho como o mais desafiador em toda a série. “Todo mundo sofreu mutação – Riker virou um australopiteco, Troi um animal aquático, Barclay, uma aranha. Nós nunca poderíamos estar prontos se o episódio não tivesse caído miraculosamente logo após o Natal. Nós trabalhamos no feriado todo.”
  • O episódio marca a quinta e última aparição de Reginald Barclay (Dwight Schultz) na série. Ele voltaria a ser visto no filme Jornada nas Estrelas: Primeiro Contato e em mais seis episódios de Voyager.
  • Embora Crusher diga que o costume médico é batizar uma nova doença com o nome de seu primeiro diagnosticado, na verdade o mais comum é dar o nome de quem primeiro a descreveu na literatura médica (exemplos: Parkinson, Down, Marfan, Kartagener etc.). Talvez até o século 24 o costume tenha mudado…

Ficha Técnica

Escrito por Brannon Braga
Dirigido por Gates McFadden

Exibido em 21 de março de 1994

Título em português: “Gênese”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Patti Yasutake como Alyssa Ogawa
Dwight Schultz como Barclay
Carlos Ferro como alferes Dern
Majel Barrett como voz do computador

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão por Susana Alexandria

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