TOS 2×18: The Immunity Syndrome

Simplicidade e bom uso dos personagens garantem pipoca de primeira

Sinopse

Data estelar: 4307.1

A USS Enterprise está em rota para a Base Estelar 6, onde sua tripulação deve gozar de um período de licença após um período exaustivo de missão, quando recebe uma mensagem truncada, citando a nave estelar Intreprid, cuja tripulação é formada somente por vulcanos. De repente, Spock tem um surto “empático”. Ele informa a Kirk que sentiu a morte dos quatrocentos vulcanos a bordo da Intrepid. O capitão manda Spock ir à enfermaria. McCoy, que estava na ponte, o acompanha.

Uhura recebe novo contato da Base Estelar 6, informando que o contato com a Intrepid foi interrompido e ordenando que a Enterprise siga para o setor onde a outra nave estava quando foi perdido o contato, com ordens de investigar o seu suposto desaparecimento. A Enterprise muda de curso conforme as ordens, e Chekov completa uma varredura do setor para onde eles estão seguindo, que indica que ele está morto. Spock, na enfermaria, completa os exames, que indicam o seu bem-estar físico, e McCoy demonstra-se intrigado com a capacidade do vulcano de “perceber” as mortes à distância.

Com o primeiro oficial de volta à ponte, a Enterprise aproxima-se do seu destino e encontra uma estranha área escura no espaço. É lançada uma sonda para recolher informações e, segundos mais tarde, a tripulação ouve um alto som agudo, que causa um forte mal-estar em metade da tripulação, inclusive levando alguns a desmaiar. Spock especula que o fenômeno é algum tipo de forma de energia que provavelmente foi responsável pela morte do sistema que a Enterprise se encontra investigando e também da Intrepid e sua tripulação. Kirk decide chegar mais perto do fenômeno, mas novamente o som forte e agudo que havia causado mal-estar à tripulação reaparece e, de novo, a tripulação é afetada.

Quando a tripulação se recupera, eles notam que as estrelas parecem ter desaparecido. Spock relata que o ruído que afetou a tripulação foi produzido quando a nave passou por algo similar a uma camada protetora externa, e que a Enterprise está agora cercada por um tipo de campo que está drenando sua energia mecânica e biológica. McCoy confirma que as leituras dos sinais vitais da tripulação indicam que todos a bordo estão morrendo.

As tentativas de Scotty para recalibrar os motores e livrar a nave da zona escura falham. A Enterprise está cada vez mais dentro da zona escura, sendo puxada para perto de uma criatura similar a uma ameba gigante. Spock calcula que sua extensão é de cerca de 18 mil km e McCoy identifica que a criatura simples, unicelular, se alimenta de energia. A criatura permanece um mistério e Spock conclui que os dados fornecidos pelas sondas lançadas pela Enterprise para estudar o fenômeno são insuficientes. Ele e McCoy pensam em mandar uma nave auxiliar tripulada numa tentativa de conseguir mais informações. Tanto Spock quanto McCoy são voluntários para a missão suicida e Kirk decide por Spock.

Spock assume o comando da nave auxiliar Galileo, atravessa a membrana da criatura, movendo-se em direção a seu núcleo. Spock percebe que a criatura está a ponto de se reproduzir, mas logo depois o contato de áudio com a nave auxiliar se perde, embora dados da criatura continuem a ser transmitidos. Kirk e McCoy decidem que a criatura precisa ser destruída. Kirk acredita que pode destruir a criatura com uma bomba de antimatéria lançada diretamente no centro do núcleo. Para isto, ele decide levar a Enterprise dentro do núcleo e lançar a carga à queima roupa. Ao atravessar a membrana interior da criatura, os níveis de força decaem ainda mais, tornando ainda mais difíceis a sobrevivência da Enterprise e a execução do plano de Kirk.

Com os níveis de força da nave em queda, é lançada uma sonda transportando a bomba com um atraso de sete minutos para detonação e em seguida, executado um curso reverso na tentativa de que a nave atinja o exterior do núcleo antes da detonação da carga. Ao aproximar-se da membrana do núcleo, a nave auxiliar de Spock é detectada e, apesar dos baixos níveis de energia e dos protestos de Spock, o capitão decide tentar rebocar a nave com o raio trator, apoiado por McCoy. A energia chega ao fim, poucos segundos e logo depois a carga explode. A criatura é destruída, e tanto a Enterprise quanto a nave auxiliar são libertadas, sobrevivendo à explosão. Spock é resgatado com vida e a nave retoma seu curso inicial rumo à Base Estelar 6.

Comentários

Embora tenham sua dose de aventura, os episódios da Série Clássica sempre tentam de alguma forma abordar alguma questão mais filosófica e humanista, algum tipo de moral da história. Mas eventualmente aparece algum episódio sem essa intenção (ou pretensão), cuja ideia é simplesmente divertir sem fazer pensar muito. “The Immunity Syndrome” é um desses exemplos: relativamente despretensioso, mas que consegue prover 50 minutos de agradável entretenimento sem muito esforço.

A ideia de um organismo capaz de aniquilar civilizações inteiras é um óbvio high concept fortemente baseado em efeitos especiais. Isso, aliado à possibilidade de usar somente o cast regular da série e cenários internos da Enterprise, contribui para criar um episódio de fácil produção e um segmento que é fortemente orientado à trama e aparentemente mais descompromissado da ideia de levar a audiência a algum tipo de reflexão.

Essa construção é uma abordagem bem longe da ideia inicia da história, que tinha outras pretensões (maiores detahes aqui: Revisitando “The Immunity Syndrome”). Aqui, o organismo simplesmente existe vagando na imensidão do espaço, é hostil (ainda que possa não estar consciente disso) e precisa ser destruído. O segmento até consegue entregar um resultado razoável, embora careça um pouco de ritmo em alguns momentos, mas nada que atrapalhe a experiência.

O episódio começa com a percepção por parte de Spock da destruição total da USS Intrepid, uma nave tripulada apenas por vulcanos, conceito interessante, embora não discutido de forma alguma ao longo do episódio. De qualquer forma, uma vez que conhecemos através de Spock o alto grau de profissionalismo e competência vulcana, tal acontecimento por si só confere de forma imediata o tom de gravidade da situação a qual os personagens estão prestes a enfrentar. Um verdadeiro desafio para a Enterprise e sua tripulação quase totalmente de seres humanos.  Desafio ainda maior, dada a menção ao cansaço da tripulação na abertura do episódio, cansaço que seria amplificado dados os desafios colocados à frente.

Mas, sem dúvida, o aspecto mais interessante desse episódio é a forma como explora a relação entre Spock e McCoy. A essa altura dos acontecimentos, a tensão do relacionamento entre os dois personagens já havia sido bem estabelecida. Esse aspecto é usado aqui como pano de fundo da história e acaba ganhando contornos mais importantes que o usual.

O eixo principal do segmento acaba sendo a disputa entre ambos, e a química que paradoxalmente alimenta o antagonismo desses dois personagens nutre o segmento até o fim, literalmente. É da relação de amor e ódio que permeia a convivência dos dois que surge o combustível que mantém aceso o peso dramático do segmento

Essa relação aqui assume um contorno ligeiramente diferente do usual, pois é Spock quem se mostra de certa forma fragilizado, ainda que brevemente, pela súbita consciência da morte de seus conterrâneos de forma não explicada, enquanto McCoy, que sempre se mostra mais passional, tem uma abordagem mais técnica e impessoal para os padrões que nós acostumamos a ver no doutor ao questionar Spock.

O que realmente importa em “The Immunity Syndrome” é o que acontece na esfera do mundo particular desses dois. Como bem nota Spock logo no início, não há gentileza nas palavras de McCoy, que talvez naquele momento fosse finalmente bem-recebida pelo vulcano. A declaração de Spock, por sua vez, causa certa surpresa à audiência neste que é o primeiro ato da contenda Spock/McCoy que se seguiria ao longo do episódio, enquanto a Enterprise avança em rumo ao desconhecido.

Na sequência onde ambos discutem sobre quem irá na missão supostamente suicida de investigar a criatura, a competição é evidenciada de forma ostensiva: não é só uma competição para provar quem é mais capaz tecnicamente, mas uma competição pelo posto de melhor amigo de Kirk. Ambos se consideram esse melhor amigo e ambos são conselheiros do capitão, embora representem metodologias opostas. Id (McCoy) e Ego (Spock) competem aqui para tentar influenciar o Superego (Kirk), cada um à sua maneira.

Mas é necessário perceber a sutileza com que eles se comportam, que faz com que não aparentem ser inimigos, mas algo mais parecido com dois irmãos competindo entre si pela atenção do pai. Eles não admitem não só a admiração que têm um pelo outro, mas também o carinho. Por ser notadamente um ser absolutamente passional, esse sentimento é mais claro em McCoy, algo que podemos constatar pela consternação de McCoy ao fechar a porta do hangar quando o vulcano se dirige à área de lançamento, que irá se transformar em alegria e alívio quando ele percebe que Spock está vivo.

Enfim, Leonard Nimoy e DeForest Kelley trabalham o material recebido com extrema competência, atuando muito bem em cima das características que marcaram os personagens que ambos construíram ao longo da primeira e segunda temporadas e emprestando ao segmento uma consistência que somente o seu roteiro não seria capaz de conseguir sozinho.

O “gigantesco organismo unicelular que ataca a galáxia” não tem tanta importância em termos dramáticos para o segmento, conforme possa parecer. É claro que este será o tema que colocará os eventos em andamento, mas, como todos nós sabemos que no fim a Enterprise sobrevirá e que salvará o dia mais uma vez, a grande sacada é mostrar como isso acontecerá.

Mais uma vez, os roteiristas da Série Clássica fazem a aposta correta ao optar por não fabricar explicações pseudocientíficas chatas e desnecessárias, e a analogia com uma ameba, embora possa parecer pitoresca a princípio, deixa claro para toda a audiência que tipo de criatura a Enterprise enfrenta desta vez, isto sem uma palavra de tecnobabble.

Tentar explicar por que a pessoas a bordo estão sendo afetadas pelo organismo externo, ou por que a nave se move a frente com os motores em reversão, por exemplo, gastaria um tempo precioso em questões inúteis. Sendo assim, ignorar tais questões é um perfeito exemplo da elegância total que nasce da simplicidade, permitindo de quebra, um gancho para um brilhante momento cômico de Spock e Kirk: (“Está tentando ser engraçado, senhor Spock?”).

Por outro lado, nota-se um pouco da falta de inspiração ou preguiça nos diálogos quando em comparação com outros segmentos, deixando totalmente a cargo da competência e carisma do elenco tirar algo a mais para preencher as lacunas.

Na pràtica, a questão do universo dentro do universo, ou de como a Enterprise age como se fosse um anticorpo defendendo um organismo mais contra o ataque de um vírus ou bactéria nociva acabam se tornando questões que são absolutamente cosméticas na trama, embora sejam aparentemente o ponto central do segmento.

Kirk, aqui, tem uma participação boa, mas sem ser marcante, mesmo porque todas as suas ações são estão dentro do que o fã de Jornada já reconhece como procedimento padrão de Kirk nesse tipo de episódio, mas é importante frisar que Willian Shatner também trabalha de forma consistente com a proposta de seu personagem e funciona muito bem nas cenas do grande trio. Apenas desta vez o nosso capitão não funciona como elemento principal do grande trio, devido às características do roteiro.

De uma forma geral o segmento sofre um pouco na questão de ritmo, parecendo muitas vezes um pouco arrastado. Na prática, pouca coisa acontece no segmento desde a descoberta do desafio. Muita conversa se desenvolve à medida que a Enterprise se próxima mais e mais do organismo e os problemas aumentam: tripulação caindo pelas tabelas, problemas nas comunicações, drenagem de energia da nave, ingredientes que deveriam ajudar a manter a tensão no episódio, mas sem muito sucesso.

Enfim, este é daqueles episódios despretensiosos que consegue trabalhar bem uma proposta que tem por objetivo apenas divertir. Bom humor, a eterna quebra de braço entre Spock e McCoy, Kirk esbanjando eficiência na ponte da Enterprise, Scott fazendo seus milagres e, mais uma vez, a galáxia é salva. Sem muito brilho, é verdade, mas  consegue entregar uma hora de bom entretenimento.

Avaliação

Citações

“I’ve noticed that about your people, Doctor. You find it easier to understand the death of one than the death of a million.”
(Eu notei isto sobre o seu povo, doutor. Vocês acham mais fácil entender a morte de um do que a morte de milhões.)
Spock

“The boundary layer between what and what?”
“Between where we were and where we are.”
“Are you trying to be funny, Mr. Spock?”
“It would never occur to me, Captain.”
(Camada secundária entre o quê e o quê?)
(Entre onde estávamos e onde estamos.)
(Está tentando ser engraçado, senhor Spock?)
(Isto nunca me ocorreu, capitão.)
Spock e Kirk

“Then employ one of your own superstitions: wish me luck.”
“… and tell Doctor McCoy, he should have wished me luck.”
“Shut up, Spock, we’re rescuing you!”
“Why, thank you, Captain McCoy.”
(Então, use uma de suas superstições. Deseje-me sorte.)
(… e diga ao doutor que ele devia ter me desejado sorte.)
(Cale-se Spock, estamos salvando você!)
(Obrigado, capitão McCoy.)
Spock e McCoy

Trivia

  • Apesar de a informação ter sido omitida no episódio, o nome do capitão da USS Intrepid era Satak.
  • A USS Intrepid (NCC-1631) já havia sido citada em Court Martial.
  • A nave auxiliar Galileo reaparece neste episódio.
  • Os efeitos óticos da ameba espacial foram criados por Frank Van Der Veer. Entre os trabalhos que tiveram a sua participação Conan, o Bárbaro (1982), Fúria de Titãs (1981), 1941 – Uma Guerra Muito Louca (1979), Fuga no Século 23 (1976), Flash Gordon (1980), Star Wars: Uma Nova Esperança (1977), Inferno na Torre (1974), Orca: A Baleia Assassina (1977) e King Kong (1976).
  • A citação de Spock ao “sentir” a morte da tripulação da Intrepid é muito similar à de Obi Wan Kenobi quando ele sente a destruição de Alderaan em Star Wars: Uma Nova Esperança.
  • É repetido o artifício da “bomba de antimatéria” usado no episódio Obsession.
  • O episódio de A Nova Geração “Where Silence Has Lease” (segunda temporada) trata uma situação semelhante à deste segmento da Série Clássica. Entretanto, entretanto tal fato foi ignorado pelos roteiristas. A Enterprise-D encontra um fenômeno no espaço muito similar ao encontrado pela tripulação de Kirk, que os sensores da nave não podem penetrar. Quando Picard pergunta a Data se algo similar já havia sido encontrado por uma nave estelar antes, a resposta é não.
  • John Winston participou da Série Clássica como tenente Kyle em onze episódios, porém este é o único em que ele aparece com um uniforme dourado. Ele esteve presente em Jornada nas Estrelas II, também como Kyle, agora promovido a comandante.
  • Anos mais tarde, o autor da historia, Robert Sabaroff, voltaria a trabalhar em Jornada nas Estrelas. Ele escreveu para A Nova Geração os episódios Home SoileConspiracy, ambos da primeira temporada da série.
  • Este é o último episódio em que Kirk usa a sua túnica verde.
  • Este é o primeiro final de episódio com o logo da Paramount em vez do logo de Desilu, após a produtora ter sido vendida.

Ficha Técnica

Escrito por Robert Sabaroff
Dirigido por Joseph Pevney

Exibido em 19 de janeiro de 1968

Título em português: “Síndrome de Imunidade”

Elenco

William Shatner como James Kirk
Leonard Nimoy como Spock
DeForest Kelly como Leonard McCoy
James Doohan como Montgomery Scott
Nichelle Nichols como Nyota Uhura
Walter Koenig como Pavel Chekov
Majel Barrett como Christine Chapel
John Winston como Kyle

Elenco convidado

William Blackburn como Hadley
John Blower como tenente-comandante de ciências
Frank da Vinci como Brent
Steve Hershon como segurança
Robert C. Johnson como comandante da Base Estelar 6 (voz)
Jay Jones como tripulante de ciências
Jeannie Malone como ordenança
Eddie Paskey como Leslie
Frieda Rentie como tenente

Revisitando

Cérebro de Spock

No Cérebro de Spock, podcast da rede Trek Brasilis, “The Immunity Syndrome” tem uma trilha de comentários em áudio por Muryllo Von Grol e Leandro Magalhães. Você pode ouvir o áudio do podcast assistindo com o episódio sincronizado para acompanhar os comentários dos participantes do podcast a medida que este vai sendo exibido.

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Edição de Ricardo Delfin
Revisão de Nívea Doria

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