TNG 6×04: Relics

Episódio traz Scotty para falar de envelhecimento e faz grande uso do personagem

Sinopse

Data estelar: 46125.3

A Enterprise detecta um sinal de emergência da USS Jenolen, nave perdida há 75 anos. Picard e sua tripulação descobrem que ela se chocou com uma Esfera Dyson – um enorme globo que envolve uma estrela inteira, construído por uma espécie extremamente avançada.

Fascinados pela descoberta, eles determinam que os sistemas de suporte à vida da Jenolen ainda estão operando em níveis mínimos. Riker se teleporta para a nave, junto com Geordi e Worf. O engenheiro-chefe verifica que o teletransporte ainda está ativo, mas preso em um estranho modo de diagnóstico que conservou um padrão no acumulador do equipamento por todo esse tempo. Ao reativar a materialização, Geordi e Riker se surpreendem quando o engenheiro Montgomery Scott surge na plataforma.

Ferido e com um braço imobilizado, Scotty se apressa para os consoles, na tentativa de tirar outra pessoa que estava presa no ciclo do transporte, mas infelizmente o padrão de seu colega sobrevivente se perdeu ao longo dos anos, por uma falha no equipamento. Riker, La Forge e Worf voltam à Enterprise, trazendo junto o engenheiro resgatado.

Ele é levado à enfermaria, onde Crusher rapidamente o diagnostica com uma pequena fratura no braço e recomenda repouso. Enquanto isso, Picard vai até lá visitar Scotty, com quem ele estabelece uma empatia imediata e uma vontade de ouvir mais das histórias do velho engenheiro a respeito do século 23. Scotty promete contar tudo a ele mais tarde. Satisfeito, o capitão pede a Geordi que volte à engenharia para seguir com as análises da Esfera Dyson. Scotty quer ir à engenharia junto com o engenheiro-chefe, mas é dissuadido da ideia. Em vez disso, o hóspede é levado a seus aposentos.

Não demora muito, entretanto, para que ele fique enfadado e resolva ir à engenharia por si mesmo. Chegando lá, Geordi tenta lidar com ele, mas uma vez que Scotty interfere continuamente no trabalho, atrasando-o, o engenheiro-chefe é obrigado a ser ríspido. Irritado e deslocado, Scotty vai até o bar panorâmico. Após uma rápida e desagradável experiência com sintehol, Data serve a ele uma bebida alcoólica. De posse da garrafa, Scotty parte para o holodeck, onde visita uma recriação da ponte da Enterprise original (NCC-1701).

Sentado em sua estação na ponte, Scotty bebe em homenagem aos velhos amigos há muito desaparecidos, mas é interrompido por Picard. O capitão quer ouvir mais de Scotty, e os dois trocam lembranças sobre a Enterprise e a Stargazer. Mas nada faz com que o engenheiro supere a sensação de envelhecimento e inutilidade que está emergindo de sua defasagem com relação à tecnologia da época.

Ciente da tristeza de Scotty, Picard chama La Forge e pergunta se não poderia ser útil tentar recuperar os registros feitos pela Jenolen da Esfera Dyson. Ele pede que seu engenheiro acompanhe Scotty até a velha nave. A dupla de engenheiros desce então à Jenolen e começa a trabalhar nos sistemas.

Enquanto isso, a Enterprise encontra o que parece ser uma escotilha na superfície da Esfera Dyson. Ao abrirem frequência de saudação, a nave é capturada por um raio trator e a escotilha gigantesca se abre. A Enterprise é arrastada para dentro da esfera. E, graças ao esforço executado pelos motores para combater o raio trator, agora a nave está sem sistema de impulso, sendo atirada diretamente para o centro da esfera, onde há uma estrela do tipo G. A esfera está totalmente desabitada, abandonada pela raça que a construiu depois de a estrela interna começar a se tornar instável.

Usando todos os recursos disponíveis, a Enterprise consegue se colocar em órbita da estrela, mas a nave segue presa dentro da esfera, e uma tempestade estelar ameaça destruí-la em pouco tempo. A única chance é encontrar uma forma de sair.

Na Jenolen, Scotty e La Forge dão pela falta da Enterprise e, graças aos reparos nos sensores da nave, concluem que ela foi levada para dentro da esfera. Deduzindo tudo que aconteceu, eles bolam um plano. Vão ativar o sistema de comunicação da esfera, exatamente como fez a Enterprise, mas não estarão perto o suficiente para serem capturados pelo raio trator. Assim que a escotilha estiver aberta, eles colocarão a Jenolen – cujos motores de impulso acabaram de reparar – bem no meio, mantendo “o pé na porta”, enquanto a Enterprise tem tempo de escapar. O plano funciona, mas a Enterprise é obrigada a destruir a Jenolen antes de sair, transportando Geordi e Scotty a bordo.

Sãos e salvos, os dois compartilham da camaradagem de terem ambos sido engenheiros-chefes da Enterprise. E, finalmente, Picard decide dar a Scotty uma nave auxiliar, que ele poderá usar para ir onde quiser e até aproveitar sua merecida aposentadoria – embora o velho engenheiro ache que essa hora ainda não chegou.

Comentários

“Relics” foi o melhor veículo em A Nova Geração para levar um personagem da Série Clássica ao século 24. Fugindo dos tradicionais clichês de viagem no tempo, a ida de Scotty à Enterprise-D não só é perfeitamente factível, nos termos do que entendemos do funcionamento do transporte, como faz jus à fama lendária do engenheiro de “milagreiro”. Todo mundo há de convir que não poderia haver nada melhor que uma mágica de engenharia para garantir a sobrevivência de Scotty, em suspensão, por quase um século.

Só por isso, o segmento já mereceria figurar entre os melhores da temporada e da série toda. Mas esse é só o primeiro lampejo de brilhantismo de um episódio que consegue compactar uma quantidade imensa de informação e desenvolvimento de personagens em apenas 45 minutos.

Normalmente, um episódio de A Nova Geração teria por obrigação centrar-se em um dos personagens regulares da série. Essa regra de ouro, estabelecida por Michael Piller a partir da terceira temporada da série, felizmente foi esquecida aqui, dadas as circunstâncias incomuns. A exceção à regra dá bons frutos e temos aqui, paradoxalmente, o melhor tratamento já dado a Montgomery Scott em toda a história de Jornada nas Estrelas.

A angústia vivida pelo personagem durante o episódio – a de que ele sobreviveu à necessidade que poderiam ter dele – é a mesma que Kirk e Spock são obrigados a encarar em Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida. Ela de certa forma encarna todo o sentimento da primeira leva de fãs de Star Trek com relação à série original, após o estabelecimento de A Nova Geração. Por essa razão, o episódio funciona como uma meta-análise do momento pelo qual passa a franquia, feito de forma muito mais carinhosa do que o pouco sutil Generations, em que Picard literalmente enterra o capitão Kirk.

Aqui, temos Picard reverenciando Scotty, demonstrando preocupação pelo engenheiro e querendo ouvir mais sobre as lendárias experiências do colega de Kirk, o que mostra um genuíno afeto por parte do roteirista Ronald D. Moore para com a Série Clássica e uma vontade de toda a produção de realmente prestar um tributo aos pioneiros de Star Trek, em vez de simplesmente explorar sua imagem em busca da audiência.

Todo esse sentimento produz várias cenas de intensa emoção, que culminam com a nostálgica visita de Scotty à ponte da Enterprise clássica. É nessas horas que percebemos como Roddenberry realmente foi bem-sucedido em seu desejo de transformar a Enterprise em mais um personagem de sua série. Entrar na ponte com Scotty aqui nos traz sensação semelhante à de encontrarmos um velho amigo, após anos sem nos vermos.

O episódio consegue trabalhar muito bem o fato inevitável de Scotty estar extremamente defasado tecnologicamente e, mesmo assim, preservar a integridade do personagem, mostrando o quão genial ele pode ser. Mesmo sem o mesmo conhecimento técnico, ele dá banhos de engenharia em Geordi, principalmente quando o assunto é improvisar.

Não há uma cena com Scotty que não funcione neste episódio. Ele está perfeito com Picard, com La Forge e com Data, os três principais focos da interação do engenheiro com a tripulação da Enterprise-D. Não faltam bons diálogos. E, como se tudo isso ainda não bastasse, temos a introdução de um conceito científico interessante, nunca antes usado em Star Trek: a Esfera Dyson. Realmente, é um pouco triste acabarmos sem conhecer quem a construiu e que fim essas pessoas tiveram, mas só o fato de terem usado o conceito agora, mesmo que com pouca profundidade, já ganha mais pontos, por se tratar de uma obra-prima da engenharia – algo metaforicamente importante para o episódio, que deveria falar mais alto ao coração dos engenheiros.

Tecnicamente, o episódio é primoroso. A sequência mais difícil, a de Scotty na Enterprise clássica, é perfeita, e também o são as cenas espaciais, que envolvem a Esfera Dyson (do lado de dentro e do lado de fora) e a Enterprise. O único defeito realmente assumido do episódio está no roteiro – como diabos Scotty e La Forge foram teleportados da Jenolen com seus escudos erguidos? –, mas, como disse Ron Moore, isso poderia ser facilmente resolvido com uma linha de diálogo, e faz bem se dispor a aceitar que essa linha foi dita fora de tela, sem que nenhum de nós tenha visto.

No frigir dos ovos, “Relics” é um episódio que fala realmente ao coração, usando uma premissa criativa e verossímil para trazer a bordo da Enterprise-D um dos personagens mais queridos da história de Star Trek. Não teria como ser melhor.

Avaliação

Citações

“You mind a little advice? Starfleet captains are like children. They want everything right now and they want it their way. But the secret is to give them only what they need, not what they want.”
“Yeah, well, I told the captain I will have this analysis done in an hour.”
“How long will it really take?”
“An hour.”
“”Oh, You didn’t tell him how long it would REALLY take, did you?”
“But of course I did.”
“Oh, laddie. You got a lot to learn if you want the people to think of you as a miracle worker.”
(Você quer um pequeno conselho? Capitães da Frota Estelar são como crianças. Eles querem tudo agora e querem do jeito deles. Mas o segredo é dar a eles apenas o que precisam, não o que querem.)
(Sim, bem, eu disse ao capitão que teria essa análise feita em uma hora.)
(Quanto realmente vai levar?)
(Uma hora.)
(Oh, você não disse a ele quanto REALMENTE ia levar, disse?)
(Mas claro que sim.)
(Oh, rapaz. Você tem muito a aprender se quiser que as pessoas pensem em você como um milagreiro.)
Scotty e Geordi

“There have been five Federation ships with that name. Please specify by registry number.”
“N-C-C-1-7-0-1. No bloody ‘A’, ‘B’, ‘C’, or ‘D’.”
(Houve cinco naves da Federação com esse nome. Favor especificar por número de registro.)
(N-C-C-1-7-0-1. Sem droga de ‘A’, ‘B’, ‘C’ ou ‘D’.)
Computador e Scotty

Trivia

  • A premissa de ter alguém preso por 80 anos em um loop do transporte foi proposta pelo escritor freelancer Michael Rupert, mas trazendo um novo personagem. A história em si não atraiu, mas o truque era bem criativo, o que fez a equipe comprar a trama para poder usá-lo. E foi Michael Piller quem deu a sugestão de usar a ideia para trazer alguém da Série Clássica. Todos os personagens foram considerados, inclusive Kirk, mas o que fazia mais sentido àquela altura era Montgomery Scott.
  • Originalmente, Brannon Braga estava escalado para escrever o episódio, mas ele passou a vez, para se concentrar em “A Fistful of Datas”. “Eu sabia que não poderia escrevê-lo. Eu nem sabia quem era o Scotty. Era um episódio do Ron [Moore].”
  • Ronald D. Moore estava ansioso para fazer. “Eu pedi para escrever e eles me deixaram. Rick [Berman] disse que iria contatar Jimmy [Doohan] sobre ele e ver se ele estava interessado. Ele ligou e rolou o sinal verde. E aí eu quebrei a história e todo mundo estava satisfeito com ela e fomos adiante e o fizemos.”
  • A ideia da Esfera Dyson veio do mundo real. O físico e matemático britânico Freeman Dyson sugeriu, em 1959, que civilizações avançadas poderiam envolver sua estrela em anéis ou estruturas maiores para colher sua energia. Ele não imaginava, contudo, uma esfera completa e sólida, como vista no episódio.
  • A trama com uma Esfera Dyson já estava circulando como uma possível história B de episódio havia algum tempo entre os roteiristas. Acabou surgindo a oportunidade aqui, e os detalhes técnicos foram fornecidos por Naren Shankar, consultor científico da série.
  • Para o episódio, maquetes do interior e do exterior da esfera foram construídos sob a supervisão de Greg Jein. Já a visão completa externa, assim como a visão interna panorâmica, foram obtidas por pinturas feitas por Eric Chauvin. O supervisor de efeitos visuais do episódio, David Stipes, chegou a cogitar uma sequência em CGI, mas a tecnologia era então muito cara para esse uso.
  • O modelo da USS Jenolan foi projetado e construído por Bill George e John Goodson, da ILM, para uso como uma nave auxiliar em Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida. Modificado para uso na série, ele acabou ganhando um erro no decalque do nome, “USS Jenolin”, que era invisível até a remasterização do episódio em alta definição, em 2014.
  • Alexander Singer, o diretor (em seu episódio de estreia em Star Trek), ficou preocupado com o antagonismo inicial entre La Forge e Scotty, temendo que pudesse abalar a reputação do personagem de LeVar Burton. Ele também tinha preocupação com a capacidade de James Doohan, com quem nunca havia trabalhado, de lidar com a grande quantidade de diálogo. Mas o veterano tirou de letra, exceto por uma cena que tinha muita tecnobaboseira e foi mais difícil de concluir.
  • No roteiro original, Scott teria interagido com seus velhos colegas de Enterprise no holodeck, por meio de clipes da Série Clássica. Isso foi cortado por razões orçamentárias, mas está presente na romantização do episódio, escrita por Michael Jan Friedman com base no roteiro de Ron Moore. Há mais material perdido do episódio na versão em livro, já que a edição original do episódio estava estourando em oito minutos.”
  • Recriar a ponte da Enterprise clássica foi um trabalhão, que exigiu inteligência. A tomada mais ampla, quando Scotty entra no holodeck, é uma cena tirada de “This Side of Paradise”, mostrando a ponte vazia. Como cenários físicos, foram reconstruídas apenas uma seção da ponte e a cadeira do capitão.
  • Há uma aparente inconsistência entre este episódio e as cenas em Generations, que foram filmadas depois, mas se passam antes. No filme, Scotty testemunha a aparente morte de Kirk na primeira viagem da Enterprise-B. Aqui, ele é resgatado e sugere que Jim Kirk teria vindo resgatá-lo.
  • James Doohan foi o quarto e último ator da Série Clássica a fazer uma aparição especial em um episódio de A Nova Geração. Antes dele, vieram DeForest Kelley (“Encounter at Farpoint”), Mark Lenard (“Sarek” e “Unification”) e Leonard Nimoy (“Unification”). Isso, claro, sem contar Majel Barrett, que ganhou um papel recorrente como Lwaxana Troi e fazia a voz do computador.

Ficha Técnica

Escrito por Ronald D. Moore
Dirigido por Alexander Singer

Exibido em 12 de outubro de 1992

Título em português: “Relíquias”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Lanei Chapman como Sariel Rager
Erick Weiss como Kane
James Doohan como Scotty
Stacie Foster como Bartel
Ernie Mirich como garçom
Majel Barrett como voz do computador

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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