KHN 1×09: Eternity’s Face

Perda trágica da filha em Ceti Alfa V leva Khan à loucura e ao desejo de vingança

Sinopse

Data estelar: desconhecida

De volta ao acampamento, Ivan matou Paolo e agora quer convencer Ursula a se rebelar contra Khan e tomar a nave para que eles possam escapar do planeta. Ambos estão convencidos de que ele planeja deixá-los lá e nunca mais voltará. Ursula concorda, contanto que tenha um lugar para si na nave.

Kali está se despedindo de suas coisas, mas levará o gravador com os registros de Marla McGivers, por cortesia de Madot. Ela leva a menina até a nave, onde Khan está monitorando os sistemas. Joachim tenta conversar com ele. Baseado nos estudos feitos pelos elboreanos antes de chegar a Ceti Alfa V, a maior chance de conseguir um resgate seria contatando a Frota Estelar. Mas o líder está decidido a não pedir ajuda dos federados. O que ele deseja mesmo é se vingar daquele que o abandonou naquele mundo desgraçado – James T. Kirk.

A despeito das ordens para irem à superfície, vários dos aumentados se reuniram ao redor da nave. Madot chega com Kali e revela isso a Khan, que diz que lidará com a situação. Ao sair, ele ouve do grupo que sua filha deve ficar, para garantir que ele voltará com ajuda, em vez de simplesmente fugir e abandoná-los. Ivan se revela como o líder da rebelião e faz um discurso sobre a superioridade dos aumentados e de como Khan traiu esse princípio.

Do lado de dentro da nave, Madot coloca Kali para ouvir a mãe e não prestar atenção à confusão lá fora. Ivan desafia Khan e instiga os aumentados a tentarem abrir a escotilha à força. A sequência de lançamento começa, e Kali pede ajuda, desesperada, chorando. Delmonda se comunica telepaticamente com ela e diz que o pandem protegerá a nave. Os elboreanos decidem salvaguardar a nave. Ursula ordena que Erica lidere os que restarem para a superfície, enquanto ela ataca Ivan com o feiser da Marla – sem saber se ele está tonteado ou morto. Ela exige de Khan que haja um assento para Madot. O pandem permanecerá na caverna até o lançamento para proteger a nave, e vai morrer por isso. Khan decide que Madot vai tomar o assento de Joachim, que deixará a nave e liderá os aumentados à superfície. O gravador de Marla continua tocando, o que sensibiliza Khan sobre as mentiras que contara aos aumentados e mesmo a Kali. Ele decide ficar no planeta e deixar Delmonda partir no lugar dele, instruindo-o a levar a menina a um lugar em que ela possa ter paz e viver uma nova vida, sem que saibam quem ela é, e nunca mais voltar.

Ivan desperta e, furioso, não pretende deixá-lo escapar. Joachim devolve a espada a Khan, que trava uma luta corpo a corpo com Ivan, que termina morto. E a nave decola da caverna.

No acampamento, Ursula tenta entrar em contato por rádio com a Venture, sem sucesso. Erica diz ter chegado à superfície pouco antes de a nave partir e tê-la visto escalar pela atmosfera até ultrapassar as nuvens, o que foi seguido por um clarão. Ela está convencida de que a nave foi destruída e a missão fracassou. Joachim chega ao acampamento. Só restaram 31 dos aumentados, contando o próprio Khan. Os elboreanos estão todos mortos. Ursula conta a Khan que a nave provavelmente explodiu. Desesperado, ele tenta se comunicar com a Venture. Convencido de que o lançamento realmente falhou, ele tem um acesso de fúria e destrói o equipamento de rádio.

Rosalind Lear está no contêiner da Botany Bay na superfície quando Tuvok se teletransporta e a encontra. Ela diz que permanecerá em Ceti Alfa V. O vulcano diz que revisou e organizou as gravações feitas depois da morte de Marla e que há uma última de que Lear não tem conhecimento. Ela permite que ele toque para ela. Khan conta que se sentiu renascido pela filha e depois transtornado por sua morte, o que o fez vagar pelo planeta, com apenas Joachim a seu lado. Com o tempo, Khan quis morrer. Atirando-se ao fogo, ele esperava contemplar a face da eternidade e ver Kali lá. Mas ele se ergueu das cinzas com um desejo de vingança. A partir daquele ponto, sua maior motivação seria se vingar do principal responsável por sua tragédia – James T. Kirk.

Tuvok então revela a conclusão lógica a que chegou: Lear é Kali Noonien Singh. Ela quer saber quando ele descobriu, e ele diz que foi quando soube que não havia resquícios da Venture no planeta. Lear então revela o que aconteceu depois que deixaram Ceti Alfa V. Levou seis meses até encontrarem um cargueiro civil, que os levou ao mundo federado mais próximo, onde pediram asilo. Delmonda e Kamora, sem o pandem, ficaram fracos demais e definharam até morrer. Madot criou Lear e quis que ela esquecesse seu passado. Ela morreu quando Lear estava no segundo ano da faculdade, deixando os registros de Marla em seu testamento.

Lear conclui que Khan de fato foi o tirano louco que a história registrava, apesar de ser também o pai que lhe deu amor em sua primeira infância. Tuvok insiste que Lear retorne, mas ela diz que não pode, com sua identidade revelada. O vulcano então se compromete a não reportar o que descobrira sobre ela. Com isso, ela concorda em voltar à Excelsior.

Comentários

Se “Eternity’s Fate” não vai de fato até o fim do exílio e o início de Jornada nas Estrelas II, o segmento ao menos faz isso do ponto de vista do arco de Khan Noonien Singh – após ter a convicção (errônea) de que perdeu a filha, após ter abdicado de uma chance de dar as costas a seu povo e salvar sua própria vida, ele não tem mais pelo que viver, exceto por uma improvável chance de vingança contra aquele que considera o principal culpado por sua tragédia: James T. Kirk.

Se essa transição é suficientemente convincente, com tanta culpa para distribuir por aí (a começar pelo próprio Khan, que, ao tentar tomar a Enterprise arriscou ser condenado e preso, passando por Delmonda e os elboreanos, com sua decisão que condenou Ceti Alfa VI à destruição e seu vizinho a inabitabilidade, e chegando até a Ivan, que acabou criando a confusão que impediu que ele deixasse o planeta), fica a critério de cada ouvinte. Fato é que o episódio leva a termo um interessante arco para Khan, dando a ele a chance de ser mais do que o traiçoeiro vilão de “Space Seed” e o maluco sedento por vingança de Jornada II.

Ao longo dos nove episódios, culminando este, vemos um Khan que evolui, abre-se para novas ideias e, como Kali/Lear conclui aqui, sobretudo para o amor. É o amor por Marla McGivers, algo que ele jamais havia se permitido sentir antes, e depois pela filha Kali, a força motriz por um potencial de transformação que acaba não se realizando. É inegável, como Ivan apontou ao longo da história, que Khan estava “amolecendo”, ao ser exposto cada vez mais à visão de mundo de Marla, apoiada pela de Delmonda. Evidência disso é que, ao ouvir uma gravação de Marla falando sobre outro vilão histórico, Hernán Cortés, Khan se sensibiliza com a ideia de que, em contraste com o conquistador espanhol, ele não pode abandonar seu povo em favor de seus próprios interesses, o que o faz enfim optar por permanecer em Ceti Alfa V e ceder seu lugar a Delmonda, para que ele projeta e guie sua filha para fora do planeta.

A despeito de retratarem esse lado humano de Khan, os roteiristas tomam muito cuidado para não redimi-lo. Sempre que começa a ficar simpático demais para a audiência, aparece algum elemento para mostrar que ele continua sendo o Khan que conhecemos, apenas recoberto por mais camadas que não havíamos sido dados a conhecer até o momento.

Todos os arcos plantados ao longo da série com os personagens se alinham aqui: Madot com a gravidez perdida e seu vínculo maternal sendo direcionado a Kali, a postura ambivalente de Ursula (mas enfim fiel a Khan) após a perda do bebê com Madot, Ivan como um improvável sobrevivente destinado a se voltar contra Khan, o próprio Khan tendo de reverter a seus instintos mais primais ao cortar a garganta de Ivan (depois de não ter sucesso em convencê-lo a se render, o que mostra mais uma vez esse ângulo de transformação e evolução sem real redenção), e a morte do pandem, para proteger a Venture em sua decolagem, contra a fúria dos próprios aumentados.

Esse último fato, por sinal, pode ter ajudado a suavizar o ódio de Khan contra Delmonda e seus comandados, a despeito de terem sido eles os verdadeiros destruidores de Ceti Alfa VI, explicando por que, depois disso, as atenções do tirano se voltariam única e exclusivamente para Kirk. O episódio também faz questão de lembrar mais de uma vez que Khan acredita que foi deixado para morrer naquele planeta, e que a Frota Estelar deseja nada mais que a destruição de seu grupo.

Não temos, contudo, uma janela que nos permita observar os mais de dez anos que se passaram entre a partida da Venture e a chegada da Reliant, o que acaba deixando a história da sobrevivência de Khan e seus comandados ainda incompleta. A trama contada, contudo, protege sua consistência interna ao explicar por que Khan, embora tenha tido uma filha que amava muito, não foi atrás dela assim que conseguiu escapar do planeta. Para ele, ela estava morta – e esse sem dúvida é o auge dramático do episódio. Naveen Andrews entrega uma atuação comovente ao ter um ataque de fúria e destruir o rádio após a falha de comunicação com a Venture.

Esse desfecho, por sinal, serve não só para o fim da saga em Ceti Alfa V como para o encerramento da história-envelope, em torno de Rosalind Lear e seu projeto para reavaliar Khan e seus seguidores. Como já telegrafado há um bom tempo, ela se revela ser a própria Kali, inconformada que seu pai deixou o planeta e não foi procurá-la. Com a ajuda de Tuvok, ela descobre por quê. O vulcano, por sinal, decide não revelar a verdadeira identidade dela, o que funciona bem para os propósitos da história e, como diria ele mesmo, tem sua lógica, mas talvez não orne tão bem com o que conhecemos do personagem em sua primeira passagem pela Frota Estelar, no século 23.

No episódio “Flashback”, de Voyager, o jovem alferes Tuvok está a bordo da Excelsior e questiona as decisões de Sulu de contrariar as ordens da Frota Estelar para tentar promover um resgate de Kirk e McCoy (o que teria acontecido durante os eventos de Jornada nas Estrelas VI: A Terra Desconhecida). É um contraste flagrante com a atitude dele agora, mais que disposto a, por conta própria, deixar de cumprir seu dever para proteger a historiadora. Uma interpretação generosa é que o tempo de convívio com Sulu o fez abandonar essa postura mais inflexível vista naquele episódio, trazendo-o ao momento atual, mais apto a quebrar as regras pelo bem maior. Uma pena que isso não esteja no roteiro, ou poderia oferecer até mesmo um arco para o Tuvok, no mais presente apenas como uma ferramenta na trama-envelope.

O que não se pode criticar neste episódio, como de modo geral em toda a minissérie, é a capacidade de contar a história de forma envolvente e dramaticamente eficiente. Aqui, mais uma vez, os efeitos sonoros e a música entram junto com as atuações para oferecer uma peça que, embora só escutemos, podemos “ver” com os olhos da mente. Além da apoteótica cena da destruição do rádio por Khan, a da morte de Ivan e a da confusão dos aumentados em torno da Venture aparecem como destaques.

No fim das contas, temos uma história que é tanto sobre Khan, nos anos entre 2267 e 2272, como sobre Kali, em 2293-94. Não por acaso, o episódio (e com ele a série) termina com uma citação de Coleridge intercalada entre os dois, indicando que a jornada não foi apenas sobre um deles, mas sobre ambos – por baixo da camada de vilania e ficção científica, tudo se resume ao arco de um pai que ganha e perde uma filha, e uma filha que perde e tenta recuperar seu pai.

Avaliação

Citações

“There is no beginning. There is no end. There is only the eternal. Ever striving to evolve into its most perfect form.”
(Não há princípio. Não há fim. Há apenas o eterno. Sempre buscando evoluir em sua forma mais perfeita.)
Khan Noonien Singh

Trivia

  • O episódio revela que Rosalind Lear de fato é Kali Noonien Singh, filha de Khan Noonien Singh e Marla McGivers.
  • A ideia de que Khan pode ter tido um descendente direto na época de Jornada nas Estrelas II: A Ira de Khan veio de uma cena filmada, mas cortada do filme, que mostrava um bebê na sala de transporte da Reliant ao lado do torpedo Gênesis pouco antes da detonação.
  • A romantização de Jornada II, escrita por Vonda McIntyre e baseada no roteiro (não creditado) de Nicholas Meyer, também mencionava Chekov e Terrell vendo um bebê pela janela do contêiner que eles visitam em Ceti Alfa V.
  • De acordo com a roteirista Kirsten Beyer, a filha de Khan era um dos elementos que existia desde a concepção original da história por Nicholas Meyer.
  • O poeta Samuel Taylor Coleridge (1772-1834) recebe novas citações neste episódio. Embora Nicholas Meyer seja um entusiasta de citações literárias, a única que havia em seu projeto original (e foi mantida) vinha de Paraíso Perdido, de John Milton. As demais foram incluídas pelos corroteiristas Kirsten Beyer e David Mack.
  • De todas as perguntas não respondidas plantadas por Jornada II que a minissérie levantou, uma ficou em branco: como a USS Reliant não teria notado que havia um planeta a menos no sistema Ceti Alfa? Segundo David Mack, eles chegaram a escrever uma intrincada explicação astronômica, que envolvia os dois planetas se alternando em suas órbitas, mas acabaram decidindo cortá-la porque era muito complexa e nada fazia para avançar a trama.
  • Na falta de uma resposta oficial, eis uma possível explicação para o mistério, baseada em mecânica celeste. Quando a Reliant entrou no sistema, em 2285, a configuração presumida (mas a essa altura desatualizada) dos planetas colocava Ceti Alfa VI em conjunção com a estrela central, de modo que o planeta estaria escondido por ela do ponto de vista da nave – daí por que ninguém deu pela falta dele. Mas essa explicação só funciona se a Reliant tiver se aproximado por um ângulo similar ao do plano da eclíptica (por onde trafegam os planetas), de modo que o sexto planeta pudesse ficar escondido atrás do sol local.
  • Já a confusão entre os dois planetas é parcialmente explicada no filme: com a explosão de Ceti Alfa VI, o quinto planeta sofreu uma alteração orbital que o colocou praticamente no lugar do sexto planeta. Uma incrível coincidência: para funcionar, Ceti Alfa V deve estar não só na mesma órbita, mas aproximadamente na mesma posição esperada para Ceti Alfa VI durante a chegada da Reliant.

Ficha Técnica

História de Nicholas Meyer
Roteiro de Kirsten Beyer & David Mack
Dirigido por Fred Greenhalgh

Exibido em 3 de novembro de 2025

Título em português: “Face da Eternidade”

Elenco

Naveen Andrews como Khan Noonien Singh
Wrenn Schmidt como Marla McGivers
Tim Russ como Tuvok
Sonya Cassidy como Rosalind Lear
Olli Haaskivi como Delmonda
Maury Sterling como Ivan
Zuri Washington como Madot
Mercy Malick como Ursula
Maxwell Whittington-Cooper como Paolo
Tina Ivlev como Erica

Elenco Adicional

Paul Castro Jr.
Aleena Khan
Adriel Jovian Nerys Rivera
Juliette Goglia
Juan Francisco Villa
Jacqueline Jackson
Cynthia Hood
Fajer Al-Kaisi
Hamish Sturgeon
Hayden Bishop
Ethan Dubin
Christina Tellesca
Chad Chenail
Regina Taufen
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Edição de Maria Lucia Rácz

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