TNG 4×15: First Contact

História retrata situação de primeira contato como vista pelos alienígenas

Sinopse

Data estelar: desconhecida

Uma missão de reconhecimento no planeta Malcoria III acaba desastrosamente malfadada quando o comandante Riker, disfarçado como habitante local, é ferido e levado a um hospital malcoriano. Lá, os médicos locais descobrem sua verdadeira identidade: um alienígena.

Para evitar que um estado de pânico tome por completo o planeta, Picard e Troi se teletransportam à superfície para encontrar o líder de Malcoria III e assim fazer o primeiro contato dos malcorianos com seres de outro planeta, já que esses alienígenas estavam prestes a desenvolver propulsão de dobra.

Infelizmente, há pessoas que desaprovam o fim do isolamento de Malcoria, por ir contra as tradições locais, que dizem que os malcorianos são os seres supremos do universo – de onde Malcoria seria o centro.

Um dos contrários ao contato é o ministro da Defesa. Ele vai até onde Riker está hospitalizado e comete suicídio, na tentativa de incriminar o comandante e destruir os elos diplomáticos estabelecidos por Picard e o líder do planeta.

Embora a tripulação da Enterprise chegue a tempo de salvar Riker (que estava hospitalizado em estado grave) e o ministro (que foi atingido por um feiser em tonteio), o governo malcoriano decide que seu povo ainda não está pronto para se juntar à comunidade interestelar.

Comentários

Em geral, o sucesso de uma série de TV depende do quanto o telespectador consegue se identificar com os personagens principais. O grande mérito de “First Contact” é driblar essa premissa básica e ainda assim conservar o carisma adquirido pela série ao longo dos anos.

O feito dos roteiristas se traduz na estrutura da narrativa, que é toda delineada para mostrar a história do ponto de vista dos malcorianos. Não há uma única cena que não os envolva, subvertendo de forma maravilhosa um dos pilares mais sólidos de uma série – o de que os personagens principais são tudo que importa.

Entretanto, vale lembrar que o episódio só funciona porque existe um paralelo tão grande entre nossa civilização em seu estágio atual e a dos malcorianos que podemos nos identificar com aquele povo, mesmo tendo acabado de conhecê-lo.

Aliás, o que faz desse episódio um dos melhores segmentos da temporada é justamente essa dualidade: não só temos uma boa história sobre os procedimentos da Federação com relação ao primeiro contato com outra civilização como também temos grandes lampejos sobre as reações que um contato formal com alienígenas poderia causar na Terra.

Várias situações específicas do episódio ilustram esse paralelo. Em certo momento, um dos alienígenas menciona a confusão de alguns malcorianos com avistamentos de supostos “balões meteorológicos”. Em outro, uma malcoriana se propõe a ajudar Riker a fugir, contanto que ele aceite fazer amor com ela. “Eu sempre quis fazer amor com um alienígena”, ela diz, em um dos lances mais divertidos do episódio.

E, ao final, o chanceler Durken fala a Picard sobre como aqueles eventos marcariam a cultura malcoriana, gerando mitos sobre “conspirações governamentais”. Nada poderia ser mais terráqueo.

É interessante notar a mensagem passada pelos roteiristas. Por meio de todos esses paralelos, eles acabam sugerindo que a mesmíssima coisa possa ter acontecido na Terra. (Com efeito, aprenderíamos em Enterprise que os vulcanos já estavam de olho em nosso planeta desde 1957, com o lançamento do Sputnik, embora o primeiro contato só tenha ocorrido em 2063, após o voo de dobra de Zefram Cochrane.)

O ponto negativo do episódio é a velha reciclagem de planetas. É entediante descobrir que uma cidade de Malcoria é exatamente igual a uma de Angel I, planeta visto em “Angel One”, da primeira temporada da série. Aliás, essa é uma das visões panorâmicas mais recicladas de Star Trek, tendo aparecido também durante a primeira temporada de Voyager.

Incomoda um pouco também a forma pela qual Troi e Picard apareceram para Mirasta no primeiro contato, uma cena que colocou os dois como entidades quase santificadas. Por outro lado, se algo assim acontecesse na Terra, provavelmente a sensação seria a mesma, mostrando mais uma vez o alto grau de sensibilidade e precisão da equipe de produção ao preparar a sequência.

Avaliação

Citações

“It is far more likely that I am a weather balloon than an alien.”
(É muito mais provável que eu seja um balão meteorológico do que um alienígena.)
Wlliam Riker

“I will have to say that this morning I was the leader of the universe as I knew it. This afternoon, I am only a voice in a chorus. But I think it was a good day.”
(Eu terei de dizer que de manhã eu era o líder do universo como eu o conhecia. À tarde, sou apenas uma voz em um coral. Mas acho que foi um bom dia.)
Durken

 “Now, will you help me?”
(Agora, você vai me ajudar?)
“If you make love to me.”
(Se você fizer amor comigo.)
“What?”
(O quê?)
“I always wanted to make love with an alien.”
(Eu sempre quis fazer amor com um alienígena.)
Riker e Lanel

Trivia

  • O episódio nasceu de uma história que Marc Scott Zicree propôs na terceira temporada. Ele havia aparecido com algo entre 50 e 60 histórias. “Normalmente eu vendo na primeira ou na segunda. Eu devo ter passado 15 histórias por ele antes de acertarmos ‘Primeiro Contato’”, relembrou Zicree. “Piller gostou do material, então ficou dizendo ‘continue’. Em um ponto Ira Behr fez uma piada e disse ‘esse cara é um máquina de ideias, devíamos trancá-lo numa sala e fazê-lo passar papéis por baixo da porta’. Foi no dia antes do feriado de Ação de Graças de 1989, e a reunião foi às 5h da manhã. Todo mundo estava irritado de estar lá e queria ir para casa, e foi uma reunião difícil por um tempo.”
  • Piller considerou o conceito irresistível, mas não foi fácil acertar a história. Versões foram produzidas por Dennis Russell Bailey e David Bischoff, escritores de “Tin Man”, e a dupla Ronald D. Moore e Joe Menosky também fez uma tentativa, a partir do ponto de vista da tripulação da Enterprise. A equipe chegou a considerar o episódio para ser um cliffhanger de final de temporada, em outro momento a trama foi chamada de “Graduation” e seria o último episódio de Wesley. Versões foram produzidas também em que o contato se daria por uma nave auxiliar acidentada da Enterprise e que os membros do grupo avançado virariam celebridades.
  • Para Michael Piller, o que fez o episódio funcionar não foi a ideia em si. “Nossas regras nos diziam para nunca ter episódios abertos, e escrevemos as duas primeiras versões do nosso ponto de vista e concluímos que não estava funcionando. A coisa que estava nos segurando era uma regra, e eu sou um grande apoiador das regras do universo de Gene, mas também adoro quebrá-las se for do interesse da série. Eu fui até o Rick e disse que, embora eu soubesse que ele não gosta de quebrar o formato, esse poderia ser um episódio especial se ele me deixasse escrevê-lo do ponto de vista dos alienígenas. Ele deixou, contanto que eu deixasse claro para todo mundo que nunca mais íamos quebrar essa regra. Nenhum outro episódio na história de Star Trek tomou a perspectiva alienígena dos nossos personagens, e acho que isso faz dele muito especial e único.” Mas, claro, nada dura para sempre. Algo similar acabaria sendo produzido em “Distant Origin”, de Voyager.
  • A trama básica foi uma homenagem ao filme O Dia em que a Terra Parou. Piller comentou: “Eu disse que era um filme espacial dos anos 1950, exceto que nós somos os alienígenas, e foi assim que tentei escrevê-lo.”
  • O roteiro continha várias cenas que acabaram cortadas pela falta de tempo.
  • Bebe Neuwirth, atriz famosa pelas séries Cheers e Frasier, era fã de Star Trek e pediu uma ponta em um episódio. O papel de Lanel foi escrito para ela. Mais tarde, o próprio Frasier, Kelsey Grammer, viria a aparecer em A Nova Geração, no episódio “Cause and Effect”.
  • Carolyn Seymour havia interpretado uma romulana em “Contagion”, da segunda temporada, antes de viver Mirasta aqui. Ela voltaria à série em “Face of the Enemy”, da sexta temporada, como outra romulana, e faria mais dois episódios de Voyager como a personagem de holodeck sra. Templeton.
  • LeVar Burton não aparece neste episódio.
  • Marc Scott Zicree, a “máquina de ideias”, voltaria a contribuir com Star Trek com a premissa de outro clássico: “Far Beyond the Stars”, de Deep Space Nine.
  • Neste episódio, Picard diz que um primeiro contato desastroso com os klingons levou a décadas de conflito. Vimos o primeiro contato da Terra com essa raça no piloto de Enterprise, “Broken Bow”, e não parece nada com o que descreveu Picard. Em compensação, lembra muito o contato de Michael Burnham com os klingons em “The Vulcan Hello”, de Discovery – o primeiro contato com os klingons depois de décadas de isolamento da parte deles.

Ficha Técnica

História de Marc Scott Zicree
Roteiro de Dennis Russell Bailey & David Bischoff e Joe Menosky & Ronald D. Moore e Michael Piller
Dirigido por Cliff Bole

Exibido em 18 de fevereiro de 1991

Título em português: “Contatos Imediatos”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
Michael Dorn como Worf
Marina Sirtis como Deanna Troi
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

George Coe como Avel Durken
Carolyn Seymour como Mirasta Yale
George Hearn como Berel
Michael Ensign como Krola
Steven Anderson como Nilrem
Sachi Parker como Tava
Bebe Neuwirth como Lanel

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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