Entrevista com o produtor Ira Steven Behr, Parte I

Ira Steven Behr passou oito anos no universo de Jornada trabalhando como um escritor/produtor de uma temporada de A Nova Geração e, mais tarde, todas as sete temporadas de Deep Space Nine. Na carreira de Behr passaram séries de televisão como Dark Angel, The Twilight Zone, Dr. Vegas, The 4400, e atualmente Alphas. A entrevista pelo Star Trek.com ocorreu em duas partes. Nesta primeira, ele falou de seu trabalho na franquia, Rick Berman e sua série preferida, Deep Space Nine

Na série A Nova Geração, Ira Behr ajudou nos roteiros de “Yesterday’s Enterprise”, “Captain’s Holiday” e “Qpid”.

Quando você pensa de volta no período de Jornada na sua vida e carreira, o que vem à mente?

“Eu seria insano completamente e totalmente neurótico, no mínimo, se dissesse qualquer coisa diferente de que foram oito anos incríveis. Para fazer parte disso, de estar fazendo 26 episódios por temporada, com duas ou três semanas fora e depois começar de novo … Foi uma boa experiência. Eu ainda sou amigo de um monte de pessoas com quem trabalhei em Jornada. Além disso, as pessoas ainda me perguntam sobre Jornada. Você tem sorte de poder fazer qualquer tipo de marca na cultura pop, na cultura de massa. Assim, sendo uma parte disso, não tenho queixas.”

Vamos rever alguns pontos em que você já discutiu no passado, mas que pode ser novo para as pessoas que só agora estão descobrindo Deep Space Nine. Você deixou A Nova Geração após um ano, a terceira temporada. Então, o que aconteceu naquela época, e por que você saiu?

“Eu apenas senti que, naquele momento, mesmo sabendo que a terceira temporada era reconhecida como a temporada que A Nova Geração encontrou seu caminho e que a franquia começava a avançar novamente, não havia muito prazer. Mesmo tendo passado bastante tempo, quando eu digo para as pessoas que havia trabalhado com Gene Roddenberry — Quero dizer, que na verdade ele estava em seu escritório e conversávamos sobre as coisas – elas olham para mim e ficam admiradas. Gene está morto há duas décadas. Então, sim, há o fator surpresa, mas havia regras demasiadas e regulamentos. Talvez se eu ficasse na quarta temporada, as coisas teriam ficado melhor, mas criativamente, eu me sentia preso. Isso não quer dizer que eu não tive um bom período com Ron, Rene (Echevarria) e sua turma, e (Hans) Beimler e (Richard) Manning. Houve muitos grandes momentos e alguns dos episódios foram muito bem feitos, mas eu não era um daqueles campistas felizes para aquele ano. E eu nunca, nunca olhei para trás para dizer: –  “Uau, eu deveria ter ficado” ou “Uau, eu queria ter ficado”. Eu fiz isso. Isso foi bom. Encontrei Jonathan Frakes no Coffee Bean cerca de um mês atrás. Foi fantástico vê-lo. Nós sentamos e conversamos. Sempre que vejo alguém da série é sempre uma sensação boa, mas eu tinha que seguir.”

Algumas pessoas, então, ficaram surpresas quando retornou para Jornada em Deep Space Nine. Quão difícil foi conseguir estar de volta?

“Você teria que perguntar a Michael Piller (já falecido) como foi difícil para me levar de volta. Michael e eu eramos próximos. Deixar a franquia não colocou nenhum pontinho na nossa amizade. Voltei na quarta temporada, entre regravações, e fiz um episódio de A Nova Geração na quarta temporada, quando Michael me ligou e me pediu para fazer um favor a ele. Mas foi desta forma, fomos a algumas temporadas de jogos de baseball juntos, e Michael me dizia: – “Estamos fazendo uma coisa nova … Será que você nunca consideraria …” – E então, acrescentou: – “Você disse no outro jogo que pode considerar … Agora temos uma bíblia (material de referência), mas não escrevemos um roteiro ainda. Quer ler essa Bíblia e me dizer o que você acha? “- Então eu li a bíblia e nós estávamos em um outro jogo, e ele perguntou: – ” Bem, agora que você já leu a bíblia e aqui estamos, diga-me …” – O que ele disse, se bem me lembro, é que “A série ia ser um pouco mais corajosa ou mais sombria, com humor, e vai representar o seu ponto de vista muito mais do que A Nova Geração teve.”

“Agora, como ele sabia disso ou como ele mesmo sabia do meu ponto de vista, eu nunca consegui descobrir porque os nossos pontos de vista muitas vezes eram muito diferentes. Então eu disse: – “Olha, se eu for para a série eu gostaria de ter o O’Brien e o Amoros (cujo nome se tornou Bashir) se tornando melhores amigos, mesmo que eles sejam personagens totalmente diferentes e não se dêem bem no início. Eu gostaria de realmente explorar uma amizade de Jornada que não tenha a ver com o fato de que ele seja o Número Um ou que seja um Vulcano ou que ambos estejam na ponte o tempo todo ou que haja uma cadeia de comando. É apenas uma amizade” – Michael olhou para mim e respondeu: – ” Sim, eu não vejo porque não fazer isso” – Era muito simples. Então eu falei com minha irmã, que era uma fã de Jornada, no caminho de volta, e ela me disse: – ” Vamos lá, vá dar outra visão. Você ficou muito decepcionado ao deixar Jornada. Ela deixou um gosto ruim em sua boca. Por que você não vê se desta vez vai ser diferente? Você confia no Mike, e ele está dizendo todas essas coisas. Então, por que não?”.

O que funcionou melhor em Deep Space Nine, uma década mais tarde, e o que não funcionou tão bem quanto você esperava?

“O que funcionou? A coisa que melhor funcionou para mim foi que ela contou uma história ao longo de sete anos. Havia um começo, havia um meio e um fim. Você não pode contar uma boa história sem personagens, e você tem que pensar que os personagens eram uma grande parte disso. E eu não estou apenas falando sobre conduzir, eu estou falando sobre esse maravilhoso grupo de atores que tínhamos como personagens recorrentes, todos de quem eu gostava como pessoas e como atores. Assim, sem todos os blá-blá-blá sobre isso, eu diria que é o que eu penso que funcionou, ou é isso que eu me sinto mais orgulhoso. Eu nem sei se isso responde sua pergunta.”

Nós só queremos o seu ângulo sobre a série, seus pensamentos. Não há resposta errada. E o que não funcionou da maneira desejada?

“Obviamente a coisa simples, aquela que um monte de fãs está esperando eu dizer, se eles estão esperando ouvir dizer qualquer coisa, é que uma vez percebemos que Armin Shimerman (Quark) não era realmente ligado ao humor que estávamos tentando fazer, deveríamos provavelmente ter cortado algumas das tentativas de fazer episódios humorísticos, ou pelo menos conseguido diretores que estavam mais à vontade com a comédia. Uma das coisas que Rick (Berman) e eu concordamos em todos os tempos foi que quando Rick lia esses episódios cômicos, ele dizia: – “Isso está ótimo. Isso é muito engraçado. É muito engraçado na página, mas eles não vão fazê-lo, né?” – Nem todo mundo, mas algumas pessoas simplesmente não estavam querendo ir para esse lado. Eu tive de concordar com ele. Mas de vez em quando tínhamos um episódio como “Little Green Men” ou “The Magnificent Ferengi”, que eu achei que deu certo. Então, de vez em quando você vê um vislumbre de esperança, mas provavelmente deveríamos ter admitido a derrota. Só achei que o Ferengi era personagem muito legal e nos deu uma sensação totalmente diferente. Tivemos tantos heróis do cacete. Foi bom ter pessoas que eram como nós, com medo e olhando para si mesmas.”

Aguarde, em breve, pela segunda parte dessa antrevista.