Morre o diretor Cliff Bole

Cliff BoleMorreu aos 76 anos, em Palm Desert, Califórnia, o diretor Cliff Bole. Bole fez uma passagem marcante em Jornada dirigindo episódios das séries A Nova Geração, Deep Space Nine e Voyager. Ele até recebeu uma homenagem dos produtores com seu nome dado a uma raça alienígena, os bolianos. O diretor concedeu uma entrevista em 2012 ao Star Trek.com, onde relembra seu trabalho na franquia. Veja a seguir os melhores trechos.

Cliff Bole contribuiu com Jornada dirigindo 25 episódios de A Nova Geração, 07 episódios de Deep Space Nine e 10 episódios de Voyager, incluindo “The Best of Both Worlds, Part I e II”, “Unification Part II”, “Defiant”, “Explorers”, “The Q and the Grey” e “Dark Frontier, Part I”.

Além de Jornada Bole já trabalhou em O Homem de Seis Milhões de Dólares, As Panteras, Vegas, Ilha da Fantasia, TJ Hooker, MacGyver, Baywatch, Arquivo X e Supernatural.

Lonely Among UsComo você conseguiu o seu primeiro episódio em A Nova Geração, que foi “Lonely Among Us “, em 1987?

Bole: Eu conhecia uns rapazes na direção da Paramount e um deles, um sujeito chamado Jeff Hayes, fez uma sugestão para Rick Berman  me usar. Eu conhecia Rick desde quando ele estava na Warner Bros. Ele tinha visto alguns dos meus filmes e foi assim que aconteceu. Eu fui para um e eu fiquei por quase 20 anos.

Na época, “Lonely Among Us” era apenas um outro trabalho?

Bole: Eu tenho que ser honesto com você. Todo mundo estava meio desconfiado. Eles não sabiam se A Nova Geração teria pernas. Foi um modo de teste naquele momento. Primeiro de tudo, era nova tentativa de fazer uma grande filmagem  para distribuição. A Nova Geração não era uma série para rede. Foi vendida em syndication. A Paramount tinha dois caras maravilhosos que desenvolveram o mercado de distribuição e, após cerca de um ano, era evidente que realmente tinha algo com A Nova Geração. Eu acho que ainda estava na mente de todos por um tempo que a série original foi só três anos e ficou marginal em seu último ano, e que foi batida por The Mod Squad. Então, quando eu estava lá no primeiro ano da A Nova Geração, foi algo do tipo: “Vamos torcer para que isso funcione.”

Quanto de interação você teve com Gene Roddenberry ?

Bole: Inicialmente, um pouco. Nós nos encontrávamos duas ou três vezes por semana, de forma criativa. Ele deu a sua entrada e, é claro, eu dei a minha contribuição. Eu tive um pouco com Roddenberry, e com Rick e o resto do grupo. Roddenberry estava totalmente comprometido com isso. Eu dirigi um episódio com um personagem  tipo Spock, e este personagem riu. Roddenberry leu os jornais e disse: “Esse foi o maior erro que você já cometeu”. Eu disse, “Bem, eu estava apenas seguindo o script, porque foi escrito assim”. Vulcanos não riem ou sorriem, mas passou despercebido por todos. De qualquer forma, fizemos uma retomada e ficou bem, e isso nunca aconteceu de novo, eu posso assegurá-lo. Mas isso foi Roddenberry que escolheu.

Você mencionou Rick Berman. A crítica a Berman por seus detratores é que ele era um executivo de estúdio e não um cara criativo. Qual foi a sua própria experiência com ele?

Bole: Nós tivemos uma relação de trabalho muito estreita e não concordo com o argumento de que ele era um gerente, lastreado em estúdio, orientado para a produção. Eu achava que ele era muito criativo, e definitivamente aprendeu com a franquia. Ele sabia de frente para trás, e tinha um ótimo relacionamento com Roddenberry. Havia uma espécie de compartilhamento na frente, os créditos de produção, mas Berman foi o mais forte e, eventualmente, veio a ser ele o cara no comando. A meu ver, seu pessoal de apoio no estúdio sempre esteve estreitamente relacionado com os projetos criativos que ele fez fora da Warner Bros, e eu acho que ele tem um grande olho criativo. Eu não sei por que ele não veio à tona novamente (como produtor desde o fim de Enterprise).

Hide and QProvavelmente levaríamos horas passando por todos os seus episódios de todas as séries, então vamos falar de alguns e pedir-lhe para compartilhar qualquer anedota que você possa ter sobre eles. E, se deixarmos de fora algum episódio que você goste, fique à vontade para conversar sobre isso. Vamos começar com “Hide and Q”, que foi o segundo episódio de John de Lancie como Q e sua primeira vez desde o piloto.

Bole: O importante é que de Lancie é uma alegria e um cara criativo para trabalhar. Ele tem um grande senso de humor, e às vezes ele jogava isso um pouco no personagem, mas de uma forma muito sofisticada. Ele sempre teve uma forma de luz no personagem. E o episódio foi muito divertido.

“The Best of Both Worlds” é considerado o topo dos melhores momentos da série. Teve ação, os Borgs, um desempenho surpreendente de Patrick Stewart. Você também teve a oportunidade rara de dirigir as duas partes.

Bole: Eu sabia que estes iam ser grandes episódios. Eu sabia desde o começo, desde o script, e eu coloquei tudo que eu tinha para eles. Tudo. Eu me lembro que minha esposa leu o roteiro para mim enquanto eu dirigia de volta ao nosso lugar, e então eu disse: “Você se importa de dirigir?” Foi uma alegria e era uma história fora do padrão, na visão de Patrick, e ele estava dentro dela. Então, tudo encaixou. Eu não estou surpreso que seja bem visto por causa de todo o trabalho que foi colocado nele.

“Unification, Part II”- estreou um convidado, Leonard Nimoy. Foi um episódio projetado para ajudar a gerar promoção para Star Trek VI: A Terra Desconhecida.

Bole: Eles me chamaram. Fui designado para isso. Chamaram-me e aconteceu de eu atender, e não acho que eles me chamaram só porque Nimoy estava lá. Nimoy provavelmente tinha pedido para seu filho (Adam Nimoy) dirigir.

Nimoy_and_CrosbyComo foi sua experiência trabalhando com Nimoy?

Bole: Nimoy foi ótimo. Eu tinha trabalhado com ele anos atrás, quando eu trabalhava como freelancer de script e assistente. Eu fiz um seriado com ele chamado Wagon Train. Eu esqueci o episódio, mas lembro-me de trabalhar com ele. Assim como foi a separação da igreja e Estado, também foram “Unification” e Star Trek VI . Eles não me pediram para fazer algo específico para o episódio que amarrasse o filme.

 Quais episódios de A Nova Geração que esquecemos de mencionar que você tem uma memória especial?

Bole: ” The Royale” foi divertido. Depois de ter feito três anos de Vegas com Robert Urich, foi ótimo voltar para aquele mundo. Eu fiz quase todos os outros episódios de Vegas e vivi em Las Vegas por três anos. “Qpid” foi muito divertido, com os figurinos e o elemento de fantasia e ir para a coisa de Robin Hood. Esses são os meus favoritos.

Você tem a honra muito incomum de ter uma raça alienígena chamada em homenagem ao seu nome: os bolianos, que apareceram pela primeira vez em seu episódio de “Conspiracy”, e então repetidamente nas demais séries. Como isso aconteceu e qual foi sua reação?

Bole: Quando aconteceu pela primeira vez eu pensei que alguém estava de brincadeira comigo, talvez Berman ou alguém. Então tornou-se um item. Eu estava orgulhoso disso. Para ouvir o seu nome construído no nome de uma raça alienígena, eu achei maravilhoso – e ainda acho. As pessoas me perguntam sobre isso o tempo todo. Estou surpreso que as pessoas ainda seguem a série o suficiente para perguntar sobre isso.

Você dirigiu sete episódios de Deep Space Nine. O primeiro foi “Dramatis Personae”, o episódio 18 da primeira temporada. Por que você começou tão tardiamente em dirigir na série?

Bole: Sr. Piller e eu não estávamos em sincronia. Ele pensou que eu era um homem de estúdio e não criativo, e eu continuei a dizer-lhe: “Olhe para trás e veja “The Best of Both Worlds”. Eu sou um rato de set, e estive em cenários por toda a minha vida. Quando eu era criança, eu morava no vale de San Fernando, e aos sábados íamos esgueirar pelos bastidores dos estúdios e ver o que eles estavam fazendo. Então, com tudo isto somado, eu fiquei muito preparado. Eu tinha uma dupla de diretores com que trabalhei ao longo dos anos que eu admirava – John Huston e outras pessoas assim – e eu peguei muita experiência. Michael Piller pensou só porque eu não estava lá de 14 e 15 horas por dia,  estava abaixando a criatividade.

Você, obviamente, provou-lhe alguma coisa, porque você voltou por mais meia dúzia de episódios …

Bole: Sim. Então, foi uma luta. Quer dizer, Deus o abençoe. Eu não sabia por um bom tempo ele tinha falecido. Mas tivemos nossos almoços, vamos colocar dessa maneira.

Vamos falar do resto dos episódios à sua maneira: “Cardassians”, “ The Collaborator”, “Equilibrium”, “ Defiant”, “ Explorers” e “Facets”.

Bole: Voltamos para a terra natal Trill em “Equilibrium” e tivemos um designer de produção maravilhoso. Herman Zimmerman . Ele é um excelente rapaz, talentoso que faz muito com pouco. Terry Farrell teve um desempenho muito bom. Ela sempre perguntava para mim, e eu sempre apreciava. “Defiant” foi o de Jonathan Frakes fazendo o irmão de Riker. Nada se destaca como fora do comum esse episódio, exceto trabalhar com Frakes novamente, e ele trouxe um pouco de alegria ao cenário. Eu já tinha trabalhado com Avery (Brooks) em Spencer for Hire e eu conhecia Avery muito bem. Ele é um cara muito sombrio, difícil de trabalhar, mas eu tinha quebrado o gelo de volta em Boston. E eu não queria entrar em fria na série. Eu estava lendo os roteiros e prestando atenção ao que estava acontecendo.

Seu último episódio de Deep Space Nine foi “Facets”. O que você lembra disso?

Bole: Não é justo da minha parte fazer um comentário sobre isso porque … Deep Space Nine é um pouco nebuloso para mim, porque não foi tão alegre para mim, como foi trabalhar em A Nova Geração, no meu entender, a maior alegria e o maior grupo com quem já trabalhei.

Cliff BoleVocê dirigiu 10 episódios da Voyager. Quem te trouxe de volta a Voyager?

Bole: Rick (Berman) .

Quão diferente foi uma experiência em Voyager?

Bole: Voyager foi mais para o lado divertido (como A Nova Geração). Era um grande grupo de pessoas e que se divertia muito fazendo esse trabalho. Quando isso acontece, seu trabalho como diretor fica meio que caminho andado. Você vem com um plano e está lidando com pessoas que são otimistas e sorrindo.

O que você diria sobre Kate Mulgrew?

Bole: Ela é uma garota divertida. É muito teimosa, e eu adoro isso em um ator. Eu adoro quando eles trazem algo para a mesa. Tim Russ foi excelente.

“The Q and the Grey” foi um dos seus episódios de Voyager mais bem-vistos…

Bole: Eu gostei desse também. Foi divertido trabalhar com (John) de Lancie novamente. E houve um grande cantor que tínhamos, que estreou nesse episódio. Estou tentando lembrar o nome dele. Ele viveu aqui, onde eu estou, e nos encontramos algumas vezes.

Harve Presnell …

Bole: Sim, ele era um cantor famoso em filmes da MGM. Ele fez Paint Your Wagon. Ele tinha um papel muito pequeno em “The Q and the Grey”, que era uma história de guerra civil, e ele era um general do Sul ou um coronel. Ele tinha sido um cantor muito famoso na MGM.

Seu último episódio em Voyager foi a sua última vez que trabalhou em Jornada. “Dark Frontier” foi uma produção de longa-metragem. O que você lembra de dirigir a primeira metade dele? E por que você não fez mais Voyager e depois não voltou para a Enterprise?

Bole: Eu não sabia que quando eu fiz esse episódio que seria o meu último de Jornada, mas eu tinha mudado um pouco no negócio e eu acho que eu senti que estava chegando ao fim. Eu não esperava fazer Enterprise porque estava trabalhando em outro lugar. Então, só chegou ao fim. Mas eu estava muito feliz com o “Dark Frontier”. Kate foi muito boa. Susanna Thompson acertou em cheio (como a Rainha Borg). Jeri (Ryan) é uma senhora muito talentosa. Ela mostrou isso em Voyager e desde então. Desse modo foi o último trabalho, mas Jornada foi a maior parte da minha carreira a partir do ponto de vista de se levantar e dizer: “Cara, eu realmente quero ir para o trabalho”.

Descanse em paz, Cliff Bole.