VOY 3×15: Coda

Janeway testemunha a vida após a morte e enfrenta entidade maligna

Sinopse

Data estelar: 50518.6.

Depois que a nave auxiliar de Chakotay e Janeway cai em um planeta, o comandante acredita que se trata de um ataque vidiiano. Pouco depois, um grupo de vidiianos chega e os ataca, matando-os. Subitamente, os dois estão de volta a sua nave, sob o ataque dos alienígenas. Antes que os oficiais possam aterrissar, o reator da nave auxiliar explode. Segundos mais tarde, a dupla está de volta à nave.

Acreditando estarem presos em um loop temporal, Janeway e Chakotay contatam a Voyager e conseguem escapar dos vidiianos. Entretanto, quando chegam à ponte, Chakotay refuta as afirmações da capitão sobre um loop temporal. O Doutor diagnostica que Janeway está sofrendo da fagia vidiiana e pratica a eutanásia contra a vontade da paciente, depois do que a capitão se encontra novamente na nave auxiliar com Chakotay. À medida que se aproximam de um estranho fenômeno espacial, a nave explode, e tudo o que Janeway vê agora é Chakotay tentando ressuscitá-la na superfície do planeta — sem sucesso.

Retornando à Voyager com Chakotay, Janeway descobre que ninguém consegue vê-la. Na enfermaria, as tentativas do Doutor de reanimar o seu corpo falham, mas a capitão consegue fazer com que Kes sinta a sua presença telepaticamente. Enquanto a tripulação cogita a hipótese de sua capitão estar perdida em uma dimensão alternativa, Janeway fica chocada ao ver seu pai — morto há mais de quinze anos. O almirante Janeway conta que ela realmente morreu naquele acidente com a nave auxiliar e tenta convencê-la a aceitar a morte. Dias se passam com repetidas tentativas fracassadas de alcançar a capitão, então a tripulação organiza um serviço memorial.

Janeway diz ao pai que ainda não está pronta para abandonar sua tripulação. De repente, ela sente que ainda está em seu corpo físico, e que o Doutor está tentando salvá-la. O almirante diz que a cena é uma alucinação e fala para ela desistir e aceitar a situação. Janeway sabe que o pai nunca a forçaria daquela maneira e percebe que ele é um alienígena disfarçado com a figura de Edward Janeway. De fato, uma presença alienígena invadiu o seu córtex cerebral, mas agora que ela está ciente disso e recupera a consciência na superfície do planeta, onde estava sendo tratada de seus ferimentos com Chakotay.

Comentários

Loops temporais, experiências fora do corpo, habitações alienígenas, vidiianos, queda de naves auxiliares, morte, proximidade da morte, show de talentos, e assim por diante. Esse foi “Coda”, o “episódio espiritual” de Voyager.

A princípio, parecia que a história seria muito parecida com “Cause and Effect”, de A Nova Geração, centrada em repetidos loops temporais. Mas logo o telespectador se deu conta de que a maior parte das coisas que via não estavam de fato acontecendo — era tudo fruto da imaginação da capitão. E que imaginação fértil ela tem! As experiências com a morte, as reações da tripulação, quase tudo estava na cabeça dela. Na verdade, pode-se dizer que todos na Voyager estavam agindo como ela gostaria que eles agissem; aqui só não se encaixa o Doutor, com aquele papo sem pé nem cabeça de eutanásia e fagia (provavelmente refletindo um medo, provavelmente inconsciente, da capitão de ter uma peça de tecnologia como médico, fria e sem emoções).

Uma coisa que fica muito clara é que, ao final, Janeway voltará. Mas o episódio prende a atenção por levar o telespectador a crer que essa é mesmo uma história de vida após a morte. Algumas das ideias que foram colocadas são coerentes com a doutrina espírita.

Mas parece que a verdadeira meta do segmento é incorporar à história oficial de Jornada o máximo possível de detalhes apresentados no livro Mosaic, de Jeri Taylor. Muito do passado de Janeway que apareceu aqui vem direto da novela.

Levando em conta que muito do que foi visto vem da mente da capitão, a imagem mostrada de Chakotay é bastante significativa. O público pôde ver uma enorme aproximação entre os dois personagens em “Resolutions”, da temporada anterior — que coincidentemente trazia os vidiianos –, e aqui fica clara a intimidade entre capitão e primeiro-oficial.

Mas aqueles que torcem por um relacionamento “menos profissional” entre os dois não devem se animar muito. O estúdio ficou muito preocupado com essa aproximação, garantindo que na série sempre pairasse um ar de dúvida. O motivo desse temor é que muitas séries de TV em que os personagens principais se envolveram romanticamente sofreram graves quedas nos índices de audiência.

Particularmente, uma relação entre os dois não comprometeria a qualidade de Voyager — pelo contrário, talvez até a elevasse — já que isso representaria um diferencial em Jornada, um frescor na forma de contar histórias (algo que Jeri Taylor deixou mais do que claro como meta para a temporada). Isso remete a uma questão importantíssima, que é pouco (ou nada) trabalhada na série: a postura dos personagens com relação a relacionamentos.

Janeway e cia. nunca se comportam como se estivessem enfrentando uma viagem de pelo menos 70 anos. Em “Elogium”, do primeiro ano, rola o papo de uma nave-comunidade, em que os tripulantes se preocupariam em ter filhos para garantir a continuidade da jornada para casa. Tendo esse senso de realidade em mente, por que a tripulação continua sempre tão formal? Por que a Voyager ainda tem esse visual de nave militar, e não de um lar? Por que não há casais a bordo? E por que capitão e primeiro-oficial não podem se aproximar — o que seria uma decorrência lógica, dadas as circunstâncias?

Enfim, voltando ao episódio, as cenas de Chakotay no planeta mexeram com a emoção do público. Foi uma das melhores atuações de Robert Beltran na série. O que vem a seguir pode gerar controvérsia, mas foi também uma das poucas vezes em que Chakotay agiu legitimamente como primeiro-oficial.

Ainda sobre a carga emocional da história, a sequência do memorial também foi bem montada. Não muito pelos tripulantes, de quem se esperava ao menos umas poucas lágrimas (e menos patacoada de Harry Kim). Mas mais por Janeway, tão brilhantemente interpretada por Kate Mulgrew. É de se surpreender a objetividade de todos na forma de lidar com a morte de Janeway, que até então para todos não era só a oficial comandante, mas uma mãe confortadora. No mínimo, esperava-se que Kes, Neelix e Kim chorassem rios. É nessa falta de realismo que Voyager peca. Os personagens mais parecem soldados treinados — ou um bando de vulcanos — do que os únicos 150 humanos lá fora.

Um episódio um tanto confuso e com algumas limitações. Mas “Coda” vale pela ótima atuação dos protagonistas. É sempre bom ver Kathryn Janeway ser trabalhada pelos roteiristas, e uma raridade ver Chakotay em foco.

Avaliação

Citações

“Our secret, Neelix.”
“We never had this discussion.”
(É o nosso segredo, Neelix)
(Nós nunca tivemos essa discussão.)
Janeway e Neelix

“Maybe I could stand with an apple on my head and you could phaser it off.”
“Sounds great! If I miss, I get to be Captain.”
(Talvez eu pudesse ficar com uma maçã na cabeça para você atirar com feiser.)
(Parece ótimo! Se eu errar, viro o capitão.)
Janeway e Chakotay

That’s more like it.
(Assim está melhor.)
Janeway

“Tuvok, surely you must know I’m here. We’ve shared so much.”
(Tuvok, certamente você deve saber que eu estou aqui. Nós dividimos tanta coisa.)
Janeway

“This can’t be happening. I can’t believe it.”
(Isto não pode estar acontecendo. Eu não acredito.)
Janeway

“You’re in a dangerous profession, Captain. You face death everyday. There’ll be another time, and I’ll be waiting.”
(Sua profissão é perigosa, capitão. Você enfrenta a morte todos os dias. Haverá outra vez e eu estarei esperando.)
Alienígena

“Go back to hell, coward.”
(Volte para o inferno, seu covarde.)
Janeway

Trivia

  • No episódio, o almirante Janeway chama Kathryn de “minha avezinha”. A expressão é uma referência ao livro escrito por Jeri Taylor ambientado na série, Mosaic, que conta o passado da capitão. É um dos raros casos em que a literatura de Jornada influencia algum episódio. Também, com Taylor sendo co-criadora, produtora-executiva da série e escritora do episódio em questão, fica mais fácil.
  • Quem gosta de contar perdas de nave auxiliar na série vai se divertir com “Coda”. Durante o episódio, a nave Sacajawea é destruída diversas vezes. Claro, o famoso ‘botão reset‘ vai apagar todos esses impactos da existência até o fim do episódio…
  • Esta é a sexta aparição dos vidiianos na série; eles não eram mostrados desde “Resolutions”, da temporada anterior, e só retornarão para “Fury” (sexto ano), episódio no mínimo controverso.
  • Aqui fica estabelecido que o pai de Kathryn, o almirante Edward Janeway morreu há mais de quinze anos.

Ficha Técnica

Escrito por Jeri Taylor
Dirigido por Nancy Malone

Exibido em 29 de janeiro de 1997

Título em português: “Coda”

Elenco

Kate Mulgrew como Kathryn Janeway
Robert Beltran como Chakotay
Roxann Biggs-Dawson como B’Elanna Torres
Robert Duncan McNeill como Tom Paris
Jennifer Lien como Kes
Ethan Phillips como Neelix
Robert Picardo como Doutor
Tim Russ como Tuvok
Garret Wang como Harry Kim

Elenco convidado

Len Cariou como almirante Edward Janeway
Majel Barrett-Roddenberry como a voz do computador

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Edição de Stéphanie Cristina
Revisão de Nívea Doria

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