Scott Bakula fala tudo sobre a nova série

No último dia 14 de agosto, um pequeno grupo de repórteres se reuniu em uma sala de jantar privativa da Paramount –a mesma sala em que o elenco de Enterprise teve o seu primeiro encontro e sua primeira leitura do roteiro do piloto. Poucos minutos depois, Scott Bakula entrou na sala com seu agente. Relaxado e sorridente, em um suéter branco e calças pretas, Scott se apresentou a todos os repórteres antes de responder a todas as perguntas, de um modo amistoso e conversativo.

Naquele momento, Bakula estava filmando o sexto episódio de Enterprise, e até ali seu personagem havia correspondido às expectativas. “Brannon [Braga] e Rick [Berman] foram muito bons ao preparar esse personagem, e ao explicá-lo para mim, vendê-lo para mim. Eles realmente conseguiram fazer isso, o que não acontece sempre. Você sabe, algumas vezes você ouve falar “Bem, será isso, isso e isso”, e você pega a página e não está lá de jeito nenhum, e você é forçado a meio que –encontrá-lo. Mas eles fizeram um bom trabalho fazendo-o bem dinâmico e interessante, com muito espaço para crescer! Durante a longa jornada, quando você está de frente com uma série que possivelmente vai durar por um bocado, [significa] que você não vai ficar preso em um canto em algum lugar com você tentando inventar coisas divertidas para fazer.”

Bakula descreveu como os produtores venderam Jonathan Archer para ele. “Eles falaram sobre voltar a um sentimento mais da relação de Kirk, Spock e Magro entre os tripulantes, o capitão e seus oficiais, em vez de uma relação com o universo. E isso, logo de cara, foi muito atraente para mim –muito mais uma abordagem humana em termos de relacionamentos emocionais e voláteis, e coisas acontecendo com a nave e que ele [Archer] nem sempre está feliz com elas. Eu sou um membro da Frota Estelar, basicamente. Eu cresci no sistema. Meu pai fazia parte da coisa toda, e eu estou cumprindo o seu sonho de uma vida de capitanear uma nave estelar! E então ser o primeiro a ir lá fora. Sendo um ávido fã da série original de Jornada nas Estrelas, ter uma oportunidade de ir antes, e fazer todas as coisas de que eles falavam, era uma grande cenoura, era uma boa para colocar na minha frente. Muito boa!”

Como o primeiro capitão a explorar o espaço exterior, Archer estará investigando incontáveis novos sistemas estelares. “E sóbre finalmente ter a capacidade de sair e chegar em diferentes sistemas solares que não tínhamos antes. Esse é o grande salto aqui. Estamos 100 anos antes de Kirk e Spock. Não existe Federação, não existem regras. Isso é, novamente, o tipo de empolgação por trás disso –é o Oeste Selvagem! Não há ninguém lá fora com quem reclamar, precisa-se encontrar suas próprias saídas. Estamos levando a Terra ao universo! E como fazemos isso e os erros que cometemos, um tipo de capitão bem falível, fazem disso muito empolgante.”

Uma diferença significativa entre Enterprise e sua antiga série, “Quantum Leap”, é a de que Jornada não terá uma agenda tão apertada. Mas a estrela ainda não está certa se irá ou não participar de outros projetos. “Você sabe, ‘Quantum’ sempre foi como uma maratona”, diz. “Você tentava chegar ao fim dela… de pé! Não estou certo de como isso será. Eu já tive muito mais tempo de folga do que eu tive em quatro anos e meio de ‘Quantum’. Então eu não sei como vou me sentir. Eu não estou planejando nada, mas as portas estão abertas –minha companhia de produção está seguindo em frente, e minha agência está prosseguindo como se eu estivesse disponível para trabalhos, mas neste momento é difícil ter uma idéia. Estamos fazendo 26 [episódios], enquanto eu só fazia 22 [em ‘Quantum Leap’]. Esse mês extra é um bocado. E não teremos uma parada –tivemos apenas uma semana de folga entre o piloto e o início dos episódios. Então eu não sei sobre este ano.”

Bakula também não considerou se quer perseguir outros interesses durante o hiato entre temporadas. “Eu tenho oportunidades de fazer teatro todo o tempo, e agora eu terei uma janela de dez semanas para fazer algo desse tipo. A questão é, onde eu vou gastar essas dez semanas? Certamente, a coisa de direção é [algo] que eu sempre gosto de fazer. É divertido. Eu não vou dirigir nada este ano aqui. Eu quero apenas me concentrar no show, e em meu trabalho nele, e nos relacionamentos. Mas Rick e Brannon são ótimos em deixar seus atores dirigirem às vezes. Por mais que eu tenha feito isso antes, é como uma coisa nova, porque ‘Quantum Leap’ era tão exigente em termos do meu tempo. E isso pode me dar oportunidades de fazer mais coisas fora.”

Uma das razões pelas quais Bakula terá mais tempo é porque ele não precisa carregar Enterprise sozinho. “Há sete regulares! É uma grande diferença. E também, meu outro regular em ‘Quantum’, eu era o único que podia trabalhar com ele [Dean Stockwell interpretava Al, uma imagem holográfica visível apenas ao personagem de Bakula, Sam Beckett]. Então, eu não recebia muito alívio do Dean”, disse, rindo. “O que eu achava ótimo! Eu era o único que podia vê-lo, com exceção de um par de episódios. Mas mesmo nesses eu não ganhava uma folga dele. Eu ainda estava lá.”

Stockwell ainda não foi chamado para fazer uma aparição em Enterprise, mas Bakula estava aberto à idéia –mesmo que fosse para somente se vingar dos anos de isolamento em “Quantum Leap”. “Ele me ligou no Dia dos Pais, e nos desencontramos, por isso não falei com ele, mas não seria ótimo? Tem de ser [em algum momento no futuro]. Vocês precisam fazer! Colocá-lo em uma grande máscara para que ele possa ser o sofredor uma vez!”

Enquanto a maior parte dos alienígenas vistos em Enterprise serão desconhecidos aos fãs das séries modernas de Jornada, pelo menos duas espécies famosas serão fortemente mostradas. “Acho que é conhecimento público que os Klingons estão por perto, e eu certamente fico face a face com um Klingon gritando e cuspindo na minha cara. Com uma faca no meu pescoço. Foi muito legal! E as outras espécies até agora… bem, os Vulcanos, nós conhecemos os Vulcanos. Mas todo o resto é novo em folha. Até agora!”

Os Vulcanos irão cumprir um papel importante a bordo da Enterprise, na forma da oficial de ciências Vulcana T’Pol. “Meu personagem, em sua vida, não aprecia os Vulcanos e nunca apreciou. Estamos em propósitos cruzados várias vezes. Também, sendo um sujeito bem emotivo, sua abordagem racional realmente… me irrita. Eu digo algumas coisas rudes no piloto sobre os Vulcanos e para uma Vulcana. Mas isso é o que é ótimo sobre esse personagem. Ele tem para onde ir! Ele tem algumas noções pré-concebidas que não são bonitas.”

O outro alienígena da tripulação será o dr. Phlox, membro de uma espécie ainda desconhecida. “Ele é um personagem maravilhoso que John Billingsley criou. Ele é tão ligado em seu trabalho, e sobre o quão divertido é fazer todas essas coisas. Ele é o tipo de personagem leve. Ele dirá coisas que vêm como cruzadas. Temos uma relação muito nova. Ele não é uma pessoa minha conhecida antes de decolarmos. Estamos apenas conhecendo-o. Ele é excepcionalmente capaz e é um pouco como um cientista louco. Ele é ótimo.”

Phlox será apenas um dos elementos que fará de Enterprise uma série mais divertida e menos restrita que as séries anteriores. “Comédia é uma coisa divertida. Todos achamos que estamos alcançando um nível de humor e você espera que as pessoas achem isso”, disse Bakula, que nos primeiros clipes de Enterprise é visto vestindo jeans e um boné de beisebol. “Essa é a idéia toda, você sabe. Cento e cinquenta anos de hoje não é muito longe. [Ontem, no set,] estávamos falando sobre as companhias que estariam por perto. Estávamos em locação, e LeVar Burton está dirigindo esta semana. Ele tinha a roupa toda da marca Eddie Bauer, e estávamos falando, ‘Quer saber? Eddie Bauer ainda estará por perto em 150 anos.’ Você pode levar sua mente a 150 anos de hoje. E há algumas coisas que você pode dizer: ‘Ah, não! Com certeza isso não estará aqui em 150 anos’.”

“Meu personagem é parte do programa espacial, mas o sentimento da série é o de que somos os primeiros! Somos as primeiras pessoas a ir e ver o que está depois da Lua. Ou, [por exemplo,] tem uma nave à deriva a nossa frente, e não há formas de vida nela. O que deveríamos fazer? Tem esse tipo de empolgação e medo, e todas as coisas que vêm a que eu penso que podemos reagir. Há uma base muito humana para a série. Nos sujamos, sangramos, e são coisas reais.” Uma das coisas que a tripulação vai sentir precária em 150 anos é a tecnologia espacial, já que a Enterprise estará longe de ser a nave perfeita do futuro. “A nave não funciona bem, então tempos problemas. Não deveríamos estar lá ainda. É como ‘vamos tentar treinar tiro ao alvo e ver como é!’, ‘isso não dá certo! Não acertamos nada! E tem um rombo no chão da minha cabine que está me irritando pra caramba!'”, ele explica, rindo. “Será divertido para os fãs de Jornada, porque você verá a gênese de coisas que todos deveríamos esperar, mas não temos ainda. Estamos trabalhando nelas –não temos feisers, não temos torpedos de fóton, mas temos o que havia antes disso.”

A tripulação da Enteprise terá um uniforme da Frota, mas nada como os que vimos nas séries seguintes. “Não estamos em Spandex!”, disse Bakula. “Essas não são realmente roupas confortáveis, mas são como mamcacões. Elas são feitas de algodão, e já foram para lavar algumas vezes. E nós temos bolsos! Jonathan Frakes apareceu e reagiu como, “Nós teríamos matado por uma roupa como essa! Você tem um zíper e um bolso! E nós tínhamos de estar presos em tudo!'”

Além de conselhos de atores das séries anteriores, Bakula falou muito com os produtores. “Rick e Brannon são incrivelmente disponíveis! É realmente bom [ser capaz de] pegar o telefone e dizer, ‘É um grande roteiro, mas eu tenho duas coisas que não entendo. Não parece que seja isso que queremos que o personagem do capitão seja… ainda.’ E eles são fantásticos nesse sentido.”

“Você está sendo observado muito cuidadosamente”, Bakula admitiu. “E eu sei de fazer ‘Quantum’ que o processo é diluído. Você quer ter certeza de que não se coloque em nenhum canto de onde não possa sair, mas, ao mesmo tempo, eu amo [esse] toma-lá-dá-cá criativo com o fã. Eu gosto de dar pequenas pecinhas, que [eles dirão] ‘O que será isso?’ É divertid! [Algo] tão mundano quanto o que colocaremos nas paredes do meu quarto. O que esse cara faz? E que coisas ele fez em seu passado que podemos levar na viagem? A viagem não é planejada, então [eu não tive] um designer na nave para projetar meus aposentos. É uma confusão, e nós partimos! Claro, coisas podem ser mandadas para nós, de modo que podemos adicionar conforme avançamos.”

Se os fãs têm a sensação de que os vários episódios da série estarão mais interconectados, eles têm razão. “Há um grande arco. Do piloto você verá que há um tema definitivo. Há um futuro que você imagina sobre desde o começo. Eu não sei quando voltaremos a isso, mas há um plano maior lá fora que nossos rapazes em nossa pequena nave irão conhecer. É legal que eu não saiba muito sobre isso para que possa atuar o mais realista que puder e seguir com ele. Mas agora, o tema é descobrir o que funciona –como abordar, como fazer primeiro contato. ‘Uops, eles estão atirando em nós!’.”

Como Kirk, o capitão Archer será muito físico e muito romântico. “Oh yeag! Eu acabei de ouvir que vou ter meu traseiro bem chutado no próximo episódio, na verdade. Eles estão se divertindo ao escrever isso. O piloto é muito físico. Há também romance no piloto. Romance torncido, mas é bom. Acho que vai ser um show bem sexy, o que é ótimo!”

Bakula enfatizou em como o tamanho dos sets da Enterprise ajudou a marcar o tom da série. “É muito pequeno”, ele disse. “A idéia é, novamente, ter uma sensação de submarino. Eu não sei se poderemos expandir depois, mas a nave é menor que a de Kirk e você vive batendo a cabeça nas coisas. Mas novamente, é uma grande sensação! Não parece apertado, mas você definitivamente está numa nave pequena.”

Embora a ponte seja compacta, Bakula pretende usar o espaço apertado para gerar uma caracterização mais “mãos-à-obra” para o personagem. “Eu passo provavelmente menos tempo sentado na cadeira do capitão do que me movendo pela ponte. Isso é esse personagem. [Ele quer] estar por perto e ver o que a oficial de comunicações está fazendo, ele que pôr mãos à obra, e [ele fica] logo atrás do navegador. O que eu acho que vai funcionar para o personagem.”

Apesar da abordagem de comando de Archer já estar definida, Bakula disse que o personagem ainda não tem uma frase marcante. “Eu não tenho uma marca!”, reclamou. “A melhor marca que eu tenho até agora é ‘Let’s go!’ Que, novamente, informa sobre o personagem. Mas eu só disse uma vez!”

Bakula descreveu os eventos que ocorreram depois que ele garantiu o papel de Archer. “Sentei com Rick e Brannon na quinta de manhã e vim para esta sala, almoçamos com o elenco e tivemos uma leitura com o diretor Jim Conway. Fizemos uma leitura aqui, então saímos e ensaiamos duas ou três cenas que sabíamos que seriam filmadas na segunda. Eu tirei as medidas com Bob [Blackman, o Designer de Figurino]. E então voltei na sexta, ensaie, provavelmente por três ou quatro horas. Não houve trabalho no fim de semana, e então eu voltei para rodar na segunda de manhã.”

Durante os primeiros dias o ator estava animado não só pela variedade do elenco, mas por seu entusiasmo. “Todo mundo é diferente no elenco, o que é ótimo!”, disse. “Você olha em volta para ter a sensação de quem será que tipo de pessoa. Porque no fim das contas, quando você está fazendo uma série por um longo tempo, isso vem muito para o show. Você tem uma Vulcana, que não é meio-humana, ela é Vulcana. Ela é limitada, em termos de muitas coisas, exceto no episódio em que ela se torna capitã por um dia. Temos esse médico, mas não sabemos quem ele é ainda. Então, você só tenta pegar uma sensação de que tipo de pessoa eles são. EU sei que horas são. Você vive com eles por uma boa porção de sua vida. E a sensação, desde o comecinho, tem sido muito, muito boa. Há uma grande energia. Todo mundo está muito entusiasmado de estar ali. Eu acho que eles fizeram um trabalho fantástico para escolher o elenco. Eu acho que é um elenco excelente!”

Criar química no elenco é algo muito importante para Bakula. “É legal ver que pode criar essa dinâmica de grupo que é muito especial”, disse. “E eu tendo a isso se a oportunidade se apresenta. A abordagem não é diferente se você é o cara viajando no tempo ou o capitão de uma nave, em termos de tentar entrar na realidade do trabalho. Você está com uma tripulação de 40, 50 pessoas, e vocês têm uma meta comum todos os dias, que é o gosto de fazer esse tipo de trabalho –podemos criar isso, podemos fazer essa mágica aqui, todo mundo junto?”

Muitos atores de Jornada disseram que suas experiências clássicas de atuação ajudaram nas outras séries, e Bakula reconheceu as dificuldades de conseguir fazer direito. “Eles estão muito preocupados com que o que está escrito nas páginas seja bem atuado. E isso é sempre um ajuste a fazer. Eu fiz muitos diferentes trabalhos que não são tão precisos assim. Eu fiz muito trabalho de efeitos especiais, então eu sei como é isso. Mas você está naquela ponte e você está olhando para uma tela negra vazia, e você espera que os caras dos efeitos especiais sejam realmente bons. Mas você está lá, fazendo sete páginas de quatro diferentes cenas na ponte, e usualmente estou tocando essas cenas, e há muito material complicado acontecendo, e é difícil. Claro, o truque é fazer não parecer difícil.”

O elenco recebeu alguma ajuda nesta área da experiente equipe de produção. “Todos os diretores até agora já dirigiram antes, ninguém é novo no franchise”, disse. “Eles são todos bem versados em falar com os atores o que eles vão ver. É um grupo muito talentoso. Estou aprendendo com eles tanto quanto eles comigo. É muito tranquilo, ‘Onde você está olhando?’, ‘Estou olhando naquele galho da árvore’. E é lá que a nave, ou o alienígena, está. Mas além disso, [o elenco] teve de achar seu caminho, e isso é parte da oportunidade criativa.”

Bakula estava todo satisfeito com LeVar Burton, que já dirigiu um episódio da nova série. “Ele é ótimo! Ele é um grande diretor, e um grande cara, e é ótimo tê-lo lá. Ele certamente é familiarizado com o que é começar, e como é aquela energia, e a criação de relacionamentos. Mais do qualquer coisa em termos de guia quando você está começando um show, é como você encontra esses pequenos lugares, e deixa todo mundo ter sua própria voz, ele é maravilhoso nesse sentido. Roxann [Dawson] estará dirigindo o próximo episódio, eu nunca trabalhei com ela. Estou animado com isso.”

Antes de terminar, Bakula enfatizou o fato de que Enterprise é, em muitos modos, o renascimento do franchise. “Todo mundo está muito entusiasmado”, ele disse. “Você sabe, alguns deles estiveram por lá desde o começo da Nova Geração, e eu achei que eles seriam como ‘Sim, qualquer coisa’. Mas eles estão tratando isso como se fosse novo, e dizendo que o que estamos fazendo é especial. O que é bom de ouvir. Estou tendo muita diversão, e estou tentando fazer meu trabalho para dar a vocês a melhor série e o melhor capitão que eu puder.”

Fonte: TrekToday