DSC 5×04: Face the Strange

Viagem no tempo não convencional revisita melhores momentos da série

Sinopse

Data estelar: desconhecida.

L’ak e Moll adquirem um dispositivo de um portador, que ameaça não cumprir seu combinado. Mas eles se precaveram e o envenenaram. Os dois, romanticamente envolvidos, veem a aquisição da tecnologia dos Progenitores como um passaporte para a liberdade. Horas depois, Moll implantaria o dispositivo em Adira, na partida de Trill. O pequeno inseto artificial agora caminha pela Discovery, que chegou às coordenadas no território Tzenkethi, mas nada encontrou no local. Rhys sugere que L’ak e Moll estão deixando que eles liderem o caminho na busca. Rayner critica o oficial tático, e Michael convoca seu primeiro oficial em seu gabinete para recriminá-lo pela atitude com a tripulação. Rayner se desculpa, e Michael reforça que ele deve fazer as coisas do jeito dela. Enquanto isso, o “bug” chega à engenharia e se implanta numa antepara. Michael e Rayner experimentam flutuações e tentam se transportar para a ponte. O transporte falha, e eles caminham até a ponte, quando veem a tripulação desacordada e a nave em um buraco de minhoca – eles estão de volta à época em que a Discovery viajou para o século 32.

Michael e Rayner são os únicos cientes de que voltaram no tempo. Antes da tripulação acordar, eles se reúnem mais uma vez no gabinete da capitão, e sentem um novo salto. Desta vez estão em São Francisco, durante a construção da Discovery. Os dois concluem que a tentativa de se transportarem afetou-os de forma a preservar sua consciência durante os saltos temporais. Uma nova transição, e eles se veem enfrentando o Controle, ainda no século 23. Rayner conclui que foram afetados por um cronófago krenim, também conhecido como um “bug temporal”. Ele é projetado para desabilitar uma nave ao fazer com que ela fique oscilando pelo tempo. Aparentemente, foi uma surpresa de L’ak e Moll, que sabem as coordenadas para a próxima pista. Sem alternativas, eles precisam desativar o bug. Rayner acredita que ele esteja na engenharia, e Michael lembra que podem ter a ajuda de Stamets, cuja mente transcende o espaço-tempo graças ao DNA do tardígrado. Só que nesse momento, Stamets está incapacitado na enfermaria.

Um novo salto, e Michael e Rayner vão à engenharia, evitando causar qualquer alteração que possa descarrilar o futuro. Eles se veem enfrentando os soldados da Corrente Esmeralda liderados por Osyraa. Rayner é salvo por Jett Reno e finge ser um oficial temporário a bordo. Um novo salto, e a Discovery parece abandonada há anos. Michael e Rayner ouvem música e vão até a ponte – “Whatever Will Be, Will Be (Que Sera, Sera)”. Zora é a única a bordo e diz que a tripulação toda morreu há muitos anos, 30 anos depois de 3191. Segundo ela, a tecnologia dos Progenitores caiu nas mãos erradas e a Federação foi destruída. Com a ajuda de Zora, Michael consegue projetar o tempo entre cada salto. O seguinte os leva de volta à época em que Pike comandou a nave. Stamets também está consciente dos saltos e tentando entender o que está acontecendo. Ele é procurado por Michael e Rayner e espanta os demais presentes na engenharia para falar com os dois. Stamets revela que sabe onde está o bug temporal. Mas, para retirá-lo, precisa saber a duração dos ciclos. Michael tem a informação. Eles passam ao salto seguinte, de volta ao século 32 e trabalham para obter as peças para desativar o bug. A capitão então reencontra Book, numa época em que os dois estão juntos. Ela lida com a situação tão bem quanto possível, mas os dois acabam se beijando. Eles se declaram um para o outro, e Michael parte para a engenharia. Stamets entrega o dispositivo para desativar o bug, e ela tenta usá-lo, mas o sabotador tem um escudo temporal que faz envelhecer tudo que se aproxima dele. Mais um salto temporal, e eles se veem na Discovery do século 23, sob o comando de Lorca, que no momento está fora da nave em missão avançada com Saru. Stamets sugere que é possível superar a defesa do bug ao quebrar a bolha de dobra, deixando que efeitos relativísticos tomem conta da nave. Para isso, precisarão de cooperação da tripulação da ponte. Michael tentará convencê-los, mas não será fácil – nessa época ela é uma amotinada.

As coisas se complicam quando ela encontra a sua versão do passado, que obviamente não confia em nada que ela diz. As duas travam uma luta pelos corredores, e a Michael do futuro prevalece, usando uma pinça vulcana em sua contraparte do passado. Na engenharia, Stamets mais uma vez espanta todos e trabalha com Rayner, que se sensibiliza com as dificuldades do cientista e decide cooperar. Na ponte, Airiam está no comando. Michael tenta convencer os tripulantes a apoiá-la. Para convencê-los, ela acaba revelando vários detalhes sobre seus colegas, entre eles a dura revelação de que Airiam será morta para salvar a tripulação. Deu certo, e a Discovery se prepara para saltar para dobra, mas as coisas se complicam quando a Michael do passado chega à engenharia para render Stamets e Rayner. Cabe a Rayner convencer a ela e a seus colegas, dentre eles Rhys, de que estão fazendo a coisa certa. Usando seus conhecimentos da tripulação, ele consegue. A Discovery quebra a bolha de dobra, e ao mesmo tempo Rayner força o dispositivo no bug temporal. De repente, ele e Michael se veem de volta ao presente, com apenas seis horas perdidas. Rayner tem a mão severamente envelhecida e vai à enfermaria para ser tratado, mas não sem antes os dois concluírem que ele e Michael formam uma boa dupla. A tripulação se surpreende ao tomar conhecimento do que acontecera. Linus indica que há uma trilha de dobra da nave de Moll e L’ak, e a Discovery parte para seguir investigando o mistério dos Progenitores.

Comentários

Com uma trama de ficção científica “cabeçuda”, “Face the Strange” aproveita a oportunidade para fazer algo como um pot-pourri “o melhor de Discovery”, visitando vários períodos da série sem perder de vista o drama do arco maior da temporada.

A premissa lembra “Shattered”, da sétima temporada de Voyager, em que Chakotay se vê transitando por várias partes da nave que estão em épocas diferentes. Naquela ocasião, o episódio também serviu nessa função pot-pourri, festejando os momentos mais marcantes daquela série em sua temporada final. Mais uma vez, é uma história que parece contrastar com a noção de que a produção não sabia que esta seria a última temporada de Discovery. Por coincidência ou clarividência, a proposta se encaixa muito bem como uma forma de celebrar a série como um todo.

A execução, por sua vez, é muito bem feita. As transições entre os saltos temporais são visualmente efetivas, ainda que simples, e a excitação de não saber em que ponto do tempo estaremos a seguir carrega a audiência com leveza pelo episódio. A diretora Lee Rose dá tempo aos personagens para respirarem, em cenas que não consistem meramente em transcrição de diálogos e oferecem nuances ricas para cada momento. Até mesmo a tecnobaboseira, usualmente um ponto fraco de Discovery, está bem calibrada aqui.

Em contraste com a narrativa bem conduzida, temos um segmento muito econômico. Praticamente todo ambientado a bordo da Discovery, ele depende de poucos astros convidados e também tem certa moderação com os efeitos visuais. Tomadas relativamente simples para os padrões da série, como a recriação da batalha contra o Controle (do final da segunda temporada) vista pelo lado de dentro, no gabinete da capitão, e a visita à construção da nave em São Francisco, usando o mesmo artifício, garantem que o orçamento fique sob controle – sem dúvida para que gastos mais vultosos pudessem ser feitos em segmentos posteriores.

A despeito da evidente economia, a história funciona muito bem, não só como uma aventura intrigante de viagem no tempo não convencional, mas também como um excelente veículo para alguns personagens. O mais destacado deles, como não poderia deixar de ser, é Michael Burnham. Sonequa Martin-Green tem uma oportunidade de ouro em reviver circunstâncias que até então estávamos acostumados a ver com o capitão Kirk, que durante a Série Clássica em mais de uma ocasião teve de enfrentar a si mesmo. A atriz não decepciona, retratando de forma potente a Michael desiludida e raivosa da primeira temporada, em contraste com a Michael segura e confiante da quinta temporada. A julgar pela postura da versão pretérita da personagem, as cenas devem se passar em uma época referente ao início da primeira temporada, pouco depois do resgate dela pela Discovery, em “Context Is for Kings”.

O roteiro também faz flertes perigosos, ao retornar à época dos capitães Lorca e Pike. Quem não ficou com vontade de vê-los no episódio levante a mão! A opção aqui foi não deixar que pequenas aparições dessas figuras tão importantes para a série roubassem o foco da trama – e tudo bem. Em compensação, a história tem um gancho perfeito para dar função de destaque a Stamets, já que ele tem uma percepção diferente da passagem do tempo (como pudemos ver em “Magic to Make the Sanest Man Go Mad” e “Light and Shadows”). Anthony Rapp oferece momentos divertidos ao episódio, ao retratar o cientista tendo uma conversa meio sem pé nem cabeça com Jett Reno e ao espantar os oficiais da engenharia sempre que necessário.

O episódio também oferece uma grande chance para conhecermos mais Rayner, que faz dupla com Michael – e depois trio com Stamets – para resolver a crise. Temos a primeira amostra de como o comandante, ex-capitão, está se transformando em uma figura mais empática no convívio com a tripulação da Discovery. Os novos conhecimentos que ele obteve da tripulação, a fórceps, em “Jinaal”, são colocados para bom uso aqui.

E, dos personagens, é só. Temos uma ceninha para o Book, alguma coisa para Reno, outra para Adira, uma para Culber e, apenas pela segunda vez em toda a série, nada de Saru. E menos é mais. Tentar envolver todos os personagens em arcos mais complexos acabaria por sabotar o foco naqueles que são mais importantes para essa história, os únicos três que mantém continuidade temporal com a própria audiência.

Por fim, vale destacar um intrigante futuro alternativo apresentado a Michael e Rayner, cerca de 30 anos após o tempo presente. Naquela realidade, a tecnologia dos Progenitores caiu em mãos erradas e a Federação foi destruída. Vemos uma Discovery empoeirada e abandonada, com a solitária inteligência artificial Zora ouvindo músicas na ponte – um óbvio eco do clássico e intrigante episódio “Calypso”, de Short Treks. Lá, vemos uma Discovery abandonada não há 30, mas há mil anos – fato que sempre pairou sobre o desfecho da série. Não custa lembrar que o argumento para aquele curta-metragem foi coescrito por Sean Cochran, o roteirista deste episódio. A referência é óbvia. Se nada mais aparecer para explicar aquele segmento, temos aí a satisfatória hipótese de que ele se deu nessa linha do tempo alternativa em que a Federação virou uma lembrança do passado. Claro que Discovery não vai terminar assim, e a tecnologia dos Progenitores não será usada para destruir o futuro. Mas essa introdução, além de dar alguma satisfação a quem se perguntava como encaixar “Calypso” à série, ajuda a introduzir um risco adicional à busca da temporada. Está claro que, se a Discovery não tiver sucesso, a Federação pagará o preço.

É uma considerável escalada nos perigos que a atual missão representa. A tragédia deixa de ser hipótese, mas passa a ser desfecho, a não ser que Michael e seus comandados façam algo para impedir esse futuro tenebroso. Apesar disso, nada até aqui conseguiu tirar o senso de aventura e desbravamento de Michael Burnham e seus comandados nesta temporada. Com a convicção de que podem salvar o futuro, eles seguem adiante – reconhecendo a importância de tudo pelo que passaram e de como isso os moldou e os modificou, para melhor.

Avaliação

Citações

“I understand change is hard for anyone. But Rayner… the Burn is over. You’re on my ship now. I expect you to do things my way.”
“And if my way is better?”

(Eu entendo que mudanças sejam difíceis para qualquer um. Mas Rayner… a Queima acabou. Você está na minha nave. Eu espero que você faça as coisas do meu jeito.)
(E se meu jeito for melhor?)
Michael Burnham e Rayner

Trivia

  • Sean Cochran se juntou à série na primeira temporada e escreve aqui seu quinto episódio, após “Despite Yourself”, “New Eden”, “Die Trying” e “All In”. Ele também coescreveu, com Michael Chabon, a história de “Calypso”, de Short Treks.
  • A veterana diretora Lee Rose faz aqui seu quinto episódio de Discovery, após “Choose Your Pain”, “An Obol for Charon”, “The Examples” e “…But to Connect”.
  • O título “Face the Strange” é uma referência à canção “Changes”, de David Bowie.
  • O “bug temporal”, também citado como um cronófago krenim, se refere aos krenim, espécie responsável pela criação de poderosas armas temporais. Eles quase destruíram a USS Voyager no clássico episódio duplo “Year of Hell”, de Voyager.
  • Dentre os saltos temporais da Discovery tivemos uma visita à viagem da nave pelo buraco de minhoca do Anjo Vermelho (pouco antes dos eventos mostrados em “Far From Home”, da terceira temporada), a construção da nave no Estaleiro de São Francisco (presumivelmente antes do início da série), a batalha com o Controle (“Such Sweet Sorrow, Part 2”), a data estelar 865422.4 (quando Osyraa tomou a nave em “There Is a Tide…”), uma época ao redor de 3221 (30 anos após a quinta temporada), um período entre a terceira e a quarta temporadas, quando Michael já era capitão, e um encontro com a Burnham do passado antes de “The Butcher’s Knife Cares Not for the Lamb’s Cry”, indicado por uma referência à então ainda viva Ellen Landry.
  • Um erro de continuidade acontece nas cenas do gabinete do capitão, onde o piso exibe um logo da Frota Estelar do século 32 mesmo nos momentos em que o salto temporal a leva ao século 23.
  • Este é apenas o segundo episódio na série inteira em que Saru (Doug Jones) não aparece. O outro foi “That Hope Is You, Part 1”, que abre a terceira temporada. Lá, apesar de não aparecer, Jones foi creditado na sequência de abertura. Aqui não, a despeito de ter uma breve aparição do personagem desmaiado (provavelmente filmado durante a produção da terceira temporada). O mesmo ocorre com Raven Dauda (Tracy Pollard) e Zarrin Darnell-Martin (enfermeira da Discovery), que aparecem aqui com cenas extraídas de “Such Sweet Sorrow, Part 2”, e não são creditadas.
  • Depois de ter deixado a série na quarta temporada, Ronnie Rowe Jr. volta para uma participação especial como Bryce. Hannah Cheesman, que interpretou Airiam na segunda temporada, faz um retorno aqui também. Julianne Grossman também faz um retorno como a voz original do computador da Discovery.
  • Linus aparece em uma sequência que corresponderia à primeira temporada, mostrando que ele já estava a bordo antes de sua primeira aparição, em “Brothers”, da segunda temporada.
  • No futuro sombrio, Zora é flagrada ouvindo a clássica canção de Doris Day, “Whatever Will Be, Will Be (Que Sera, Sera)”.
  • Quando Reno alerta Stamets que ele pode virar uma pintura de Rothko se enfiar sua mente no abstrato, ela se refere ao artista abstrato do século 20 Mark Rothko. Já Stamets menciona calibrar seu estabilizador de cronitons pela “Constante de Scaravelli”, possivelmente uma menção a Vanda Scaravelli, uma pioneira na introdução da ioga no Ocidente.
  • Reno e Rayner apreciam Vesper Martinis, um drink inventado para James Bond.

Ficha Técnica

Escrito por Sean Cochran

Dirigido por Lee Rose

Exibido em 18 de abril de 2024

Título em português: “Enfrente o Estranho”

Elenco

Sonequa Martin-Green como Michael Burnham
Anthony Rapp como Paul Stamets
Mary Wiseman como Sylvia Tilly
Wilson Cruz como Hugh Culber
Blu del Barrio como Adira Tal
Callum Keith Rennie como Rayner
David Ajala como Cleveland “Book” Booker

Elenco convidado

Annabelle Wallis como Zora
Hannah Cheesman como Airiam
Eve Harlow como Moll
Elias Toufexis como L’ak
Emily Coutts como Keyla Detmer
Patrick Kwok-Choon como Gen Rhys
Oyin Oladejo como Joann Owosekun
Ronnie Rowe Jr. como R.A. Bryce
Orville Cummings como Christopher
David Benjamin Tomlinson como Linus
Joshua Bainbridge como regulador
James Cade como contrabandista de armas
Minh Ly como trabalhador de construção

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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