TNG 5×25: The Inner Light

História mais tocante de A Nova Geração leva Picard à vida que ele não teve

Sinopse

Data estelar: 45944.1

Uma sonda alienígena se posiciona à frente da Enterprise e libera um raio de partículas nucleônicas que penetra os escudos da nave. Focadas unicamente em Picard, as partículas fazem com que ele fique inconsciente. Ao acordar, ele se encontra em um ambiente pouco familiar, sendo tratado por uma mulher, Eline.

Ela diz a ele que seu nome é Kamin, e que é seu marido há três anos. Ela também afirma que ele esteve doente e deve estar experimentando algum tipo de amnésia. Picard logo descobre que vive no planeta Kataan, onde trabalha como serralheiro. Sua confusão é maior quando ele nota que Eline usa uma joia que é uma réplica exata da sonda que a Enterprise encontrou. Ela diz que Picard deu a ela o colar como um presente.

Na nave, a tripulação é incapaz de acordar o capitão. Percebendo que a emissão de partículas ligada a ele pode estar mantendo sua vida, eles temem que cortar o raio possa matá-lo. Apenas alguns minutos se passaram, mas, em Kataan, já são cinco anos depois. Lá, Picard começa a aceitar sua vida. Ele desenvolve uma solução para a seca que está afetando o planeta, mas suas ideias avançadas são motivo de deboche para os líderes daquela primitiva sociedade. Entretanto, sua vida não é desprazerosa – o capitão começa a se sentir feliz com sua mulher. Na Enterprise, Worf insiste para que eles cortem o raio e interrompam o “ataque” a Picard.

Quando eles o fazem, o pulso de Picard reduz drasticamente. Em Kataan, onde mais sete anos se passaram, ele cai no chão. Agindo rapidamente, a tripulação restaura o feixe. De volta a Kataan, outros 12 anos se passaram, e Picard já tem dois filhos. A seca continua a piorar, e a filha adolescente de Picard, Meribor, percebe que seu planeta está condenado. Ao mesmo tempo, Geordi e Data são capazes de descobrir a origem da sonda, um planeta que foi destruído em uma explosão de supernova há cerca de mil anos.

Em Kataan, os anos continuam a avançar. Picard prossegue em sua busca por uma solução para a seca, mas suas sugestões não fazem sucesso entre as lideranças. Mais tarde, Eline morre, assim como o melhor amigo de Picard, Batai. Seu primeiro neto nasce.

O tempo decorrido na Enterprise é de apenas alguns minutos. Entretanto, Beverly fica assustada quando descobre que a taxa metabólica de Picard é equivalente à de um homem de 80 anos. Na verdade, Picard tem 85 anos em Kataan, onde a seca já quase destruiu completamente o planeta.

Seus filhos e netos o convencem a acompanhar o lançamento de um míssil – um evento pelo qual todos estão animados. Picard não entende a razão, sabendo que o míssil não poderá fazer nada para salvar o planeta e seu povo. Entretanto, quando o míssil decola, sua família, com a ajuda dos espíritos de Eline e seu velho amigo Batai, explica a Picard que eles estão lançando uma sonda para o futuro, para encontrar alguém que irá trazê-los imortalidade ao contar a outros sobre seu planeta depois que ele for destruído.

Picard descobre que o míssil na verdade carrega a sonda que o “levou” a Kataan 30 anos atrás. Quando isso acontece, ele acorda na Enterprise, impressionado ao descobrir que esteve desacordado por apenas 25 minutos, tempo durante o qual ele viveu praticamente uma vida toda.

Comentários

Esqueça análises racionais – “The Inner Light” foi feito para ser visto com o coração. Não há nada que se diga aqui que possa estar à altura do que o episódio desperta no telespectador. Não se trata de um episódio cabeça, cheio de tramas intrincadas e reviravoltas, mas apenas de uma história extremamente simples, inteligente, e ao mesmo tempo cheia de emoção.

É importante não confundir simples com simplório. O enredo é brilhante. Pensando sobre o conceito de ficção científica em si, que história maravilhosa temos em mãos: uma sonda que propaga as lembranças de seu povo já extinto do melhor modo possível, fazendo com que alguém viva uma vida toda como se pertencesse ao planeta deles. Um sonho, sem dúvida, mas o mais intenso que alguém já pensou ser possível ter. É algo como uma versão vitaminada das sondas Voyager 1 e 2 do nosso mundo real. Lançadas nos anos 1970, elas vagam hoje pelo espaço interestelar, portando um disco de ouro com imagens e sons do planeta Terra, para que um dia, talvez muito depois que a vida tenha sido extinta em nosso mundo, siga viva a esperança de que a humanidade não será esquecida. A versão de Kataan é mais visceral, levando alguém a experimentar o que de fato foi viver naquele mundo. Para além da sofisticação tecnológica, abre-se a porta para incríveis oportunidades dramáticas.

O episódio é 100% sustentado por Patrick Stewart, em uma das atuações mais brilhantes que ele teve em A Nova Geração. O elenco convidado também tem importância, e não decepciona. Em compensação, o resto da turma regular da série pôde praticamente tirar folga. Mas valeu a pena: este segmento é possivelmente o melhor insight já dado sobre o capitão Picard.

Temos uma chance de vê-lo vivendo a vida que nunca teve – não por alguns momentos, como no filme Generations, mas realmente por uma vida toda. Não há um ser humano que consiga acompanhar “The Inner Light” sem ficar com os olhos molhados. (Em retrospecto, é interessante vermos como a segunda temporada de Picard informa a resistência e gradual aceitação do personagem como um pai – e avô – de família.)

A estrutura da narrativa é maravilhosa: a forma com que se costura o tempo na Enterprise e o tempo em Kataan, os pontos de contato entre os dois ambientes, as sequências altamente emotivas e o final arrebatador são capazes de abalar o mais frio dos corações. O relacionamento de Kamin com seus filhos e netos é muito interessante e comovente de se observar. E vê-lo encontrar todos os seus entes queridos, mortos ou não, na cena final, enquanto descobre o que está de fato acontecendo e que seu “delírio” de ser capitão de uma nau que navegava pelas estrelas era de fato a verdade, contém uma força própria inestimável. A cena vale a hora, cortesia de Patrick Stewart.

Outro elemento extremamente importante para o sucesso do episódio é a música. A música predileta de Kamin com sua flauta é de uma singeleza e uma tristeza próprias, que servem muito bem como tema para o próprio episódio. Independentemente de outras orquestrações, esta é uma das marcas que “The Inner Light” deixa para o restante da série.

Finalmente, vale ressaltar que o profundo impacto que essa experiência teve no capitão Picard não será esquecido facilmente. Ele até incorpora a flauta de Kamin a seu repertório de apetrechos, e chega a tocá-la ocasionalmente a bordo da Enterprise – sinal de que ele nunca se esquecerá de Kataan. Nem nós.

Avaliação

Citações

“Now we live in you. Tell them of us… my darling.”
(Agora nós vivemos em você. Conte sobre nós… meu amor.)
Eline, a Picard

Trivia

  • Durante a quarta temporada, Michael Piller bolou a ideia de Picard experimentando uma vida não vivida. A equipe gostou da ideia, mas ninguém conseguiu fazê-la funcionar. Joe Menosky comentou: “Brannon Braga e eu bolamos pelo menos meia dúzia de premissas entre nós, e todas elas falharam.”
  • A ideia foi ressuscitada quando Morgan Gendel apresentou uma história sobre uma sonda que emitia um cenário interativo no cérebro da tripulação. A premissa original trazia uma mensagem antiguerra. “Meu pensamento era, e se alguma civilização passou por uma guerra terrível e não queira que outros a repitam? Picard e Riker são atingidos pela sonda e se veem em um planeta com soldados vindo. Eles precisam terminar a história e voltar à Enterprise. Pareceu totalmente real para eles enquanto estiveram lá e tiveram de escapar desses soldados e de uma guerra que estava levando a um holocausto nuclear. Enquanto isso, a bordo da nave, eles estão em coma.”
  • Os temas de memória cultural e passagem de tradições na esteira da destruição de uma sociedade foram influenciados pela origem judia de Gendel e a experiência de sobreviventes do Holocausto.
  • A equipe de roteiristas ficou intrigada pela premissa da realidade alternativa. Menosky e Braga concordaram que ela finalmente fornecia o veículo para a ideia de Piller. Com Ronald D. Moore, eles deram comentários e sugestões a Gendel, convidando-o a oferecer histórias várias vezes. A trama se transformou em uma comunidade destruída numa guerra que queria passar sua história através da sonda, com Picard como o personagem central experimentando a vida no planeta.
  • Após tudo isso, a equipe promoveu uma reunião entre Gendel, Piller e o resto dos roteiristas. Menosky se lembra: “Depois da venda, Ron, Brannon e eu entramos falando como se fosse a primeira vez que havíamos ouvido. ‘Não é ótimo!?’ ‘É isso!’ ‘Fantástico!’ Michael ficou sentado lá e nos deixou festejar um pouco. E então ele disse: ‘Eu adoro’.” Segundo Menosky, Piller só descobriu o quanto os membros mais jovens da equipe se envolveram na trama muitos anos mais tarde.
  • Piller convidou Gendel a preparar uma sinopse de cinco páginas. O argumento ainda tinha grandes diferenças com relação ao episódio finalizado. Gendel relembrou: “Eu ainda tinha a coisa antigenocídio na cabeça. Tinha uma ideia de que essa cultura tecnologicamente avançada está para ser introduzida à Federação e todo mundo se pergunta como eles ficaram tão sofisticados tecnologicamente tão depressa. Você descobre que eles fizeram isso nas costas das pessoas que eles exterminaram, os kataans, cuja tecnologia eles roubaram. Enquanto isso, Picard está experimentando essa outra vida.”
  • Piller discordou de ter tanto foco na trama da nave, enfatizando que a história deveria ser sobre Picard. Ele também propôs que Picard se casasse, tivesse filhos e ficasse velho. Originalmente, isso teria incluído Picard conhecendo sua futura esposa e a cortejando, mas isso foi comprimido.
  • Depois que Gendel preparou o roteiro, ficou a cargo de Peter Allan Fields revisar, por conta do tempo escasso no final da temporada. Segundo Menosky, Piller fez mais uma reescrita substancial, não creditada, nos diálogos.
  • Segundo Gendel, o título do episódio é uma piada interna. “‘The Inner Light’ era o lado B de ‘Lady Madonna’. Eu achei que seria divertido dar a cada episódio de Star Trek que eu escrevi um título que vem de uma música diferente e obscura dos Beatles. Eu queria chamar ‘Starship Mine’ de ‘Revolution’, mas eles já haviam usado ‘Evolution’. Era uma piadinha entre mim e mim mesmo.”
  • Jay Chattaway compôs a música deste episódio, incluindo o solo da flauta ressikana tocado por Kamin e Picard. A melodia tem similaridades com a música escocesa “Sky Boat Song”. Ela voltaria a ser ouvida em “Lessons”, e parte dela seria incorporada ao tema principal de Picard, composto por Jeff Russo.
  • Marina Sirtis (Troi) não aparece neste episódio.
  • Considerado por muitos como o melhor episódio de A Nova Geração e um dos melhores de toda a saga de Jornada nas Estrelas, “The Inner Light” mistura a afetividade de “Family” com os elementos de rompimento da realidade de “Yesterday’s Enterprise”. Uma história simples em que Picard experimenta coisas que não tem em sua vida na Frota Estelar: uma esposa, filhos, estabilidade e um verdadeiro lar.
  • O filho do personagem de Patrick Stewart neste episódio, Batai, é interpretado pelo filho de Patrick Stewart na vida real, Daniel Stewart.
  • Margot Rose, que participa neste episódio como Eline, atuou como uma prostituta no filme 48 Horas. Nesse filme ela tinha uma colega de profissão que era interpretada por Denise Crosby, a Tasha Yar de A Nova Geração.
  • Patrick Stewart ficou tocado ao interpretar a vida de Kamin. “A sequência mais sentida foi a cena em que estava com a atriz que vivia minha esposa, tarde numa noite quente, sentado num banco do lado de fora. Eu me lembro de olhar para ela e pensar: ‘Isso é como se sente ao ser idoso: sentar num banco com alguém que você conhece tão bem, e é isso que está à frente’. Essa foi a única vez em que tive uma sensação de que, Deus permitindo, era isso que esperava por mim.”
  • A maior parte das cenas exteriores na comunidade de Ressik foi filmada em estúdio fechado, no galpão 16 da Paramount. A única filmagem em locação foi para a viagem de Picard pelo interior, gravada no Bronson Canyon. A cena foi enriquecida com uma pintura, criada originalmente pelo produtor de efeitos visuais Dan Curry. Na remasterização do episódio em alta definição, o artista Max Gabl teve de refazê-la, e ele buscou ser o mais fiel possível.
  • O episódio foi festejado como um dos melhores pela maioria da produção. Tocou também o escritor Michael Chabon, que seria cocriador e primeiro showrunner da série Picard. Ele descreve “The Inner Light”, bem como “Far Beyond the Stars”, de Deep Space Nine, como “dois de meus episódios favoritos de televisão, ponto”.
  • O episódio ganhou um prêmio Hugo em 1993, o primeiro para A Nova Geração.

Ficha Técnica

História de Morgan Gendel
Roteiro de Morgan Gendel e Peter Allan Fields
Dirigido por Peter Lauritson

Exibido em 1º de junho de 1992

Título em português: “Luz Interior”

Elenco

Patrick Stewart como Jean-Luc Picard
Jonathan Frakes como William Thomas Riker
Brent Spiner como Data
LeVar Burton como Geordi La Forge
Michael Dorn como Worf
Gates McFadden como Beverly Crusher

Elenco convidado

Margot Rose como Eline
Richard Riehle como Batai
Scott Jaeck como administrador
Jennifer Nash como Meribor
Patti Yasutake como Alyssa Ogawa
Daniel Stewart como jovem Batai

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Edição de Maria Lucia Rácz
Revisão de Susana Alexandria

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